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quinta-feira, julho 02, 2009

Nunca se disse tanto por tão pouco

Como todo dia tem notícia nova sobre o assunto, é claro que parte dos meus pensamentos, desde a semana passada, foram dedicado à Michael Jackson. Sempre me achei mais estranho do que ele por viver num mundo em que as pessoas pareciam muito interessadas nele. Agora que ele morreu e o interesse aumentou, me sinto mais estranho ainda.
Michael Jackson é um bom cantor que fez bons discos até "Thriller" e depois nunca mais emplacou nada. Pronto. Não "criou o pop" nem "aproximou a música negra do rock branco", porque o rock É música negra tocada por garotos brancos que não quiseram ler partituras. Não dá para entender todo esse bafafá, por mais que lamentemos a morte, porque ele, para usar uma imagem poética, foi mais um satélite que irradiou a luz que vinha de outras fontes do que emitiu luz própria. "Thriller", o melhor disco, é exatamente isso. "Beat it" era um sucesso que procurava imitar a batida de "My Sherona", sucesso do qual ninguém mais se lembra. Seu solo de guitarra no estilo "martelada" já havia sido inventado por Eddie Van Halen há tempos - bastou apenas Quincy Jones sacar isso e botar o guitarrista para tocar na música. Os climas, ritmos que ouvimos e adoramos em "Thriller" já estavam em outros discos, de outros artistas, Jones e Jackson apenas souberam aproveitar, trabalhar em cima. O "Moonwalk" não foi inventado por ele, e isso nem chega a ser um demérito. Criar um passo tão infantil não é exatamente criar o cálculo infinitesimal, cuja paternidade deu tanta briga entre Leibniz e Isaac Newton.
Depois disso, a impressão que dava é que ele realmente passou a acreditar que era um Deus, tentou se distanciar da dança, das roupas, dos costumes e da sonoridade das ruas, da época, que ele refletia tão bem, e ficou chatíssimo. Michael Jackson já havia morrido antes, na década de 90. E virou "branco" antes mesmo de ser branco, se pensarmos que ele fez o que muitos artistas brancos americanos fizeram com artistas negros, como jazzistas e bluesmen - aproveitou o que havia na rua, adaptou, vendeu numa roupagem mais soft, e ganhou muito dinheiro com isso. Frank Sinatra, Tommy Dorsey, Gene Kelly, Fred Astaire, todos fizeram isso. Não chega a ser crime, acho eu. Mas é isso: ele refletiu, não lançou nada de novo. Não nos fez nos interessar por música indiana, não criou o heavy metal e foi funky ao mesmo tempo, não tentou elaborar novas formas de música pop, para citar algumas coisas que os Beatles, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, The Who ou sei lá mais quem fizeram. Tentar achar em Michael Jackson ou sua companheira de época Madonna mais do que aquilo que eles aparentavam ser pode ser extremamente frustrante.

Um comentário:

Claudio Renato disse...

Gustavo, vamos tentar de novo!

Dizia que fiquei perplexo, dia desses, ao saber que sequer o walkmoon foi inventado pelo Michael Jackson. Mas ele executava o passo à perfeição. O poeta Abel Silva, meu professor na faculdade, dizia que Michael era genial, mas não era gênio. Como não acredito tanto nessa história de genialidade, entendo que ele quis dizer que MJ executava tudo muito bem, embora não criasse nada. O pop é isso, groso modo e salvas as exceções. Ele encarna, como ninguém, essa característica da cultura pop.

Um abraço

Cláudio Renato