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quinta-feira, fevereiro 26, 2009

No dos outros é reciclado

O New York Times adota hoje um ângulo de visão insólito para debater os dilemas de um mundo que luta para manter seus padrões de bem-estar enquanto preocupa-se em guardar seus recursos naturais para as gerações futuras e preservar o meio ambiente: uma reportagem diz que os papéis higiênicos soft são um risco à preservação das florestas porque demandam árvores e mais árvores para serem feitos. Papel reciclado não funciona, dizem os fabricantes ouvidos na reportagem: a fibra dele não é tão macia. Você ralaria o cu num papel lixado para preservar os jatobás? Eis a questão última da ecologia.

Um velho refrão para uma nova era

Por falar em Obama, os seus pronunciamentos criticando os outros por problemas que agora cabe a ele resolver, seus anúncios estrondosos de medidas espetaculares e nunca seguidos de detalhamento de como ele atingirá estes objetivos e quanto isso vai custar, suas catilinárias cheias de preceitos morais que ninguém ousaria contestar, me fazem sentir muita falta de um outro negão que também tinha um belo dum refrão, melhor do que "Yes, we can": Cuba Gooding Jr. gritando "SHOW ME THE MONEY" para Tom Cruise em Jerry McGuire. Cadê o dinheiro, Obama????

Cuméquié?

Saiu no jornal hoje: a CIA vai informar diariamente o presidente dos EUA, Barack Obama, sobre os efeitos da crise econômica pelo mundo, indicando onde pode estar havendo turbulências políticas por causa da falta de dinheiro. Mas, espera um pouquinho... a) a CIA trabalha para a presidência da República, então, quede a notícia? b) não foram estes mesmos sujeitos da CIA que teriam cometido erros flagrantes procurando armas químicas inexistentes no Iraque, prendendo ilegalmente inocentes suspeitos de terrorismo, e mesmo não conseguindo prever os ataques de 11 de setembro? Então agora, de um mês para o outro, de repente eles todos viraram competentes inclusive para dar palpites sobre a crise econômica? Foi o poder taumaturgo de Obama, que cura todas as feridas e alivia todas as dores apenas com sua presença benfazeja, quem operou esse milagre?

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Antiguia dos botequins do Rio de Janeiro

Bip-Bip

A cerveja é quente. O banheiro é imundo. O dono do bar, inamistoso. Por que então esta mística em torno deste bar? Porque nele a esquerda da zona sul carioca mantém viva a chama de uma de suas principais bandeiras - a exclusão social. Se você é da patota, o Alfredo te trata bem. Se você é apenas um cliente comum, que quer beber uma cerveja em paz, é tratado como um cachorro sarnento. O Bip-Bip, no fundo, é apenas um microcosmo que explica porque o capitalismo venceu o socialismo: o capitalismo é mais igualitário. Gente de esquerda adora se sentir superior aos outros, mesmo que seja numa pocilga.

Bracarense

Também vigora lá a lógica da patota, mas o apartheid é mais brando do que o Bip-Bip. Se você for um cliente comum, a única restrição que sofre é não conseguir um banquinho a mais na calçada quando ela já estiver totalmente ocupada - e ver em seguida, na sua frente, alguém da patota conseguir este benefício. Mas no fundo, a única coisa da qual você é privado é da companhia de um bando de alcoólatras sem assunto ao seu redor.

Jobi

Nos fins de semana, é onde os publicitários paulistas se encontram para sentir o "charme do Rio de Janeiro", e por isso, fica recendendo a charme de publicitário paulista.

Lamas

É caro. Mas em compensação, também é quente. Cheque a conta duas vezes. Também cheio de bêbados chatos, como no Bracarense. Mas os que lá ficam parecem ter consciência de sua chatice e são um pouco mais deprimidos.

Bar do Adão

São apenas pastéis, e não especiarias indianas que conservem os alimentos num mundo medieval ainda sem geladeira. Ou seja, não vale a pena cruzar oceanos e continentes em busca deles, se você não mora no Grajaú.

Bar Lagoa

O mito de que seus garçons são mal-educados é mito. Eles são bem-educados. Mal-educados são os clientes. Apenas, de vez em quando (eu só vi uma vez), os garçons perdem as estribeiras com quem eles servem, integrantes da da comunidade mais mal-educada e arrogante do planeta - os cariocas de Ipanema. Mimados, sem noção, eternamente reclamando, histéricos, eles conseguem ser mais inoportunos do que os cariocas da Zona Norte e até mesmo os cariocas da Barra. A proximidade com a Faculdade da Cidade não melhora em nada o nível da clientela.


Mineiro

Se você conseguir entrar, conseguir sentar, conseguir ser atendido, conseguir que lhe tragam o pedido, conseguir pedir a conta, conseguir que lhe tragam a conta, conseguir pagar, conseguir o troco... bem, com este nível de perserverança e habilidades políticas, o que você está fazendo neste boteco de Santa Tereza, quando tantas vidas no Oriente Médio dependem de um bom negociador de um cessar-fogo?

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Fotos

O Círculo de Belas Artes de Madri expõe fotos de um tcheco, Josef Sudek, com registros sobre Praga nos anos 50. O comunismo havia acabado de chegar à força, depois de anos de dominação nazista. As fotos são tristes, chuvosas, tem uma surrealista, com uma taça com olhos dentro. O El Pais fez uma fotogaleria. O endereço é http://www.elpais.com/fotogaleria/Praga/desconocida/anos/6236-8/elpgal/

Velhos e novos

"É um povo que só quer saber de falar de videogame, não fala de mulher nem de dor de cotovelo. Nós, que somos assim, nos sentimos cada vez mais isolados", reclamou um amigo meu, mais velho, dos jovens nerds com quem ele trabalha - alguns dos quais são seus chefes.
Posso estar tomando uma experiência individual por geral, mas acho que estou assistindo a um fenômeno de desinteresse dos velhos pelos jovens que não se via, sei lá, desde a Revolução Francesa, movimento encabeçado primordialmente por jovens (se a minha memória não falha, o mais velho, Lafayette, tinha 30 anos na época da queda da Bastilha - Talleyrand, Mirabeau, Robespierre, Danton, todos tinham menos de 30 na hora em que brilharam).
Não é medo, nem ressentimento contra a juventude que já não temos. É desinteresse mesmo. Uma combinação incomum de esquerdismo na educação e excesso de televisão produziu uma geração singularmente desinteressada na realidade à sua volta e desinteressante nas suas idéias. O esquerdismo propagado em escolas de segundo grau e faculdades de ciências humanas, em vez de produzir massas de militantes do PSOL e do PSTU, que é o objetivo dos professores, fabricou apenas uma geração de desanimados intelectuais. Eles não têm respeito por nenhuma idéia ou valor, porque lhes foi ensinado que nenhuma idéia é digna de ser confiável, ou de que nenhum valor é superior a outro. Tudo deve ser questionado, tudo deve ser aceito. Quando não podemos acreditar em nada, e não podemos recusar nada, pouco interesse há para que façamos escolhas e reflexões que determinem o caminho que tomaremos na vida - tanto faz.
Ao lado deste esvaziamento intelectual, a televisão treinou esta geração, com mais intensidade do que treinou as anteriores, a não esperar e a gostar dos prazeres imediatos e sem esforço. Também lhes adestrou para ficarem conectados a uma vida mais brilhante, prazeirosa, divertida e agitada, nas novelas e séries e realities shows, que estão a uma distância suficientemente segura para evitar as dores e decepções de uma vida vivida na realidade.
Com tal massacre, o que temos são jovens que repelem qualquer aproximação com a realidade difícil e insatisfatória do mundo político, dos problemas econômicos, das obras de arte que exigem reflexão e boa vontade para serem entendidas. E voltam-se para as diversões de prazer imediato e frágil, como a televisão e os videos engraçadinhos do Youtube e os funks de letra e melodia primárias, fáceis de serem entendidas. O problema é que estes prazeres não se sustentam por muito tempo; logo acabam, deixando quem se beneficia deles com uma sensação de vazio que tem de ser preenchida por... uma nova série, um novo vídeo idiota do youtube, um novo proibidão.

Epa

Deu no New York Times de hoje: o Irã tem mais urânio enriquecido do que se pensava, suficiente para construir uma bomba atômica. http://www.nytimes.com/2009/02/20/world/middleeast/20nuke.html?_r=1&hp

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Imitação da vida

Mercado de artes é como qualquer mercado, ou uma imitação do mercado financeiro. Os investidores estão fazendo, na primeira década deste século, o movimento que os dealers e traders fizeram na última década do século passado: apostando em ativos de emergentes, que podem ter uma grande rentabilidade sobre um preço baratinho. Primeiro foi a China. Agora, artistas indianos são convidados para o Arco de Madri, pelo que li na Folha de S. Paulo. Vi uma expo de arte contemporânea chinesa no ano passado. Fraquíssima. Imitação do que se faziam em Nova York e Berlim nos anos 80, mas com todo mundo de olho puxado. Agora, pelo que vi na reportagem da "Folha de S. Paulo" sobre o Arco, temos um artista indiano que exibe duas figuras hindus, lado a lado, divididas por uma imagem de caveira esparramada no chão - sim, sim, é uma "referência" à aquele quadro do Hans Holbein, "Os embaixadores". O editor da Ilustrada não sacou, parece, pois não fez referência ao Holbein. Mas funciona assim: galeristas e colecionadores compram, depois repassam para arrivistas sociais cheio de grana querendo reconhecimento dos sofisticados, e daqui a vinte anos, estas obras vão estar em mostras organizadas mais para mostrar o "espírito da época", o "zeitgeist", os hábitos de consumo, do que para mostrar arte mesmo.

Tem que dar certo

Ele apareceu bonitão na praia, apareceu bonitão ao lado de veteranos de guerra, apareceu bonitão ensinando crianças, foi eleito com um bordão sintético, vibrante e simplificador, usa ternos de bom corte, a roupa certa, a entonação apropriada, as associações históricas pertinentes. E acaba de anunciar um plano econômico que ninguém entendeu direito. Dá para entender porque eu só chamo o novo presidente dos EUA de Obama Collor de Mello?

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Vai piorar

O aviso é Jon Entine em artigo da Reason Online, revista eletrônica norte-americana que não tem medo de ser desagradável: a crise das hipotecas não vai ser nada quando os fundos de pensão começarem a quebrar em 2009. Vão quebrar, segundo ele, porque a partir do fim dos anos 1980, os fundos de pensão norte-americanos, em nome da "responsabilidade social", deixaram de investir seu dinheiro em certos empreendimentos considerados danosos, como armas, tabaco e álcool, mas que vão muito bem, obrigado, para dedicarem-se a incentivar negócios "socialmente responsáveis". O problema é que estes negócios socialmente responsáveis não deram lucro, ou deram menos do que o necessário para garantir as pensões dos trabalhadores que contribuíram para estes fundos. O resultado: alguém vai pagar a conta por essa responsabilidade social toda. Todos nós. Para saber mais... http://reason.com/news/show/130843

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Perdi a curiosidade

A curiosa história de Benjamin Button conta a vida de um homem que nasce velho e vai ficando jovem à medida que envelhece. Interessante. Curioso. E saí antes de o filme chegar à metade. Depois que é apresentada a aberração, o pouco que vi foi uma versão de Forrest Gump sem a ironia, só com a bonita mensagem de que todas as pessoas devem ser respeitadas e que a vida é bela. A vida é bela, saí do filme para aproveitá-la, em vez de ficar mais uma hora e meia sendo irritado no escuro por pessoas que nasceram incapacitadas de desligar os celulares em salas de cinema.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Dako é bão

Quando soube disso, de primeira, achei uma avacalhação: o artista plástico espanhol Santiago Serra bolou um vídeo chamado "Los Penetrados", em que, filmando e fotografando grupos de pessoas negras e brancas praticando sexo anal, ele buscou fazer uma reflexão sobre racismo e política de imigração. Os participantes receberam 250 euros cada um para serem sodomizados.
Coisas que pensei no início; a) conheço algumas pessoas que pagariam 250 euros para participar desta instalação artística; b) durante anos, na minha infância, morei perto de um cinema pornô tétrico, e nunca vi ninguém sair de uma sessão coçando a cabeça e pedindo novas políticas migratórias ou falando da importância de Martin Luther King e da política de cotas.
Bem, mas aí eu fui no site de Santiago Serra - para ver putaria, não para pensar em imigração, é claro. Mas... não é que a pornografia dele FAZ você pensar nisso? Pelo menos me fez pensar, porque afinal de contas, é um vídeo de um artista espanhol, de um país que está bem perto da África e tem de lidar com os imigrantes africanos ilegais que chegam fugidos da pobreza do continente vizinho. E faz pensar também nos estereótipos sexuais que associamos à cor da pele das pessoas, que também é uma forma de racismo, e de um dos principais temores que havia - ainda há - entre os defensores da separação de pessoas pela cor da pele: sexo interracial. Moral da história: TUDO pode nos fazer pensar. Basta termos capacidade de reflexão e nos deixarmos levar pela argumentação do nosso interlocutor - no caso, Sierra e sua obra. Não à toa, "A República", o livro de filosofia que erigiu a nossa civilização e nossos costumes, ao lado da "Bíblia", começa com uma conversa sobre o que é ser um velho brocha. Quem quiser conferir a instalação de Sierra, pode clicar no título deste post ou ir para http://www.santiago-sierra.com/200807_1024.php

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Vim, vi e perdi meu tempo

Se tivesse a duração normal, de uma hora e meia, Austrália seria apenas o pior filme do Baz Luhrman. Como a sessão, incluindo trailers etc, tem ao todo três horas, é provavelmente o pior filme do ano. Luhrman tentou falar de cultura aborígene, importância da cultura oral, faroeste, romance, segunda guerra mundial (é o único western com avião japonês fazendo de Austrália uma Pearl Harbor jamais registrada na história do cinema) e se esqueceu de contar uma história. E nem dá para entender quando e porque os protagonistas se apaixonam.