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quarta-feira, novembro 02, 2005

sweet memories

"A OIJ era ligada à KGB!!! A gente era manipulado pela KGB!!!", ouvi numa noite numa discussão em um bar em 1989. Eu estava em Vitória, e ouvia a discussão entre um dirigente nacional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) com outro dirigente, do Espírito Santo. Os dois talvez nem se lembrem disso, nem vale a pena citar seus nomes. Eu sim.
A revelação (para mim) do segredo que ligava a Organização Internacional dos Jornalistas, com sede em Praga, ao serviço secreto soviético me fez entrar em um livro de John Le Carré no meio um lugar dos mais improváveis ambientes para um romance de espionagem - um bar com chope quente, muitos jornalistas fumantes e falantes, numa noite quente.
A frase foi particularmente impactante para mim porque me lembro de um professor do curso de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo particularmente tacanho e desonesto, chamado Renato Soares, em uma aula que ele dava sobre Ética em Jornalismo. Na verdade, a aula era de doutrinação de esquerda - Renato era, é ainda, presidente do PSB no estado. E nesta aula, ele determinou - sem dizer por quê, sem dar chance de ser contradito - que das duas entidades internacionais de jornalismo que existem no mundo, a OIJ era a "boa, de esquerda"; a outra, sediada nos Estados Unidos, era a "reacionária, de direita".
Foi simplório assim. Era este o tipo de ensinamentos que se davam e eu acredito que ainda se dão em cursos de ciências humanas, nas universidades brasileiras, nos anos 80. O que talvez explique muito certas repetições de assuntos, abordagens, clichês que leio na imprensa que me dão um tédio profundo. São todos filhotes daqueles clichês ministrados como cocaína na veia nos primeiros semestres dos cursos de ciências humanas.
Voltando à discussão no boteco, dois anos depois da lavagem cerebral do professor tacanho: a f]revelação de que a boazinha entidade de esquerda era peça de propaganda do totalitarismo russo foi feita como um último argumento que o dirigente nacional da Fenaj lançou para tentar convencer o colega de que, em 1989, o comunismo tinha acabado mesmo, de vez. Note bem, ele ainda se considerava de esquerda - mas não era tão de esquerda assim para ser tão insensível aos fatos daquele looongo ano. O meu amigo dirigente capixaba não, tentava escapar pela tangente dizendo que "o que morreu foi uma forma burocrática de socialismo" e "é preciso fazermos uma autocrítica".
Nestes 16 anos, tudo que eu tenho visto de movimentos como o MST e o PT, que cheguei a acompanhar de bem perto, foi escapadas pela tangente. Sempre com autocríticas convocadas e nunca feitas, refundações do socialismo que apenas repetem o que já foi defendido, fundado, testado e derrotado pelos fatos, palavras de ordem simplistas para demonizar quem não concorda com os lugares-comuns. É tudo muito cansativo. Esse povo, essa.. taí, essa "raça", por que não?, é muito chata, e consegue tornar tudo ao seu redor mais chato ainda.