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segunda-feira, maio 19, 2008

Esquadrão resgate

Fala-se em "resgatar 68", como se 1968 fosse um filho de empresário do interior de São Paulo. E tome a ouvir os mesmos para dizer as mesmas coisas - o sonho, a vida, a luta, os ideais, o povo nas ruas, o rock, o sonho... por que ninguém segue um pouco além? Ferreira Gullar deu entrevista com um bom ponto de vista: 68 foi um fracasso artisticamente, baixou o nível cultural, e a contracultura foi apropriada pela indústria de consumo, que cada vez piora mais o nível mental de sua platéia.
Para uma análise mais detalhada, é bom tentar achar em algum sebo O declínio do mundo ocidental, título em português dado pela editora Globo à mais conhecida obra de um filósofo "neoconservador" americano, Allan Bloom. O original é "O fechamento da mente americana". Bloom escreveu isso para ser um livrinho sobre educação para ser lido por seus pares, 400 pessoas, no máximo. Foi O sucesso do ano em que foi lançado, 1987. Por que? Ele diz basicamente o seguinte: o relativismo cultural disseminado nas universidades americanas a partir de 68, em que as lendas swahilis passaram a ser tão importantes quanto Tolstói, e aqueles gregos todos passaram a ser "coisa de macho branco", só serviu para tornar os jovens desprovidos de valores. E o problema de ser desprovido de valores não é que você sai dando rasgado ou se entrega às drogas, para usar clichês de Jornal Nacional (Bloom era gay e morreu de aids, por falar nisso). É que você se torna chato. Você deixa de dar um significado maior à sua vida, e se torna igual a qualquer um, a qualquer coisa. Ele dizia que os alunos dele, na década de 80, eram nice - mas nada além disso. Não tinham angústias maiores, desejos maiores, curiosidade maior. Ou seja, 68 pavimentou o caminho do conformismo, e não o contrário.

"Obra em progresso", de Caetano Veloso

Gostei de ter ido e visto. Agora, se é para resumir... acho que assisti a uma Missa Fúnebre da "Geração de 68". Do lado do palco, o que tínhamos era um velhote vestido de presidiário (calça cáqui e camiseta branca) que parecia uma imitação do Caetano feita pelo Chico Anysio - mas era o próprio Caetano Veloso! Visivelmente de saco cheio, fazendo músicas de harmonia cada vez mais primárias para faturar uns trocos, ele entala nelas versos que não cabem na melodia, como se estivesse sentando em cima de uma mala excessivamente abarrotada de roupas e sapatos. A primeira música era algo como
"Subiu
Partiu
Abriu
Sumiu
Nem viu"
Fiquei pensando, à la Maysa: "por que não rimar... 'puta que me pariu'?"
Do lado da platéia, você vê que a geração formada pelos "ideais de 68" - seja lá quais forem - simplesmente abdicou do direito de pensar. Um bando de quarentões e cinqüentões babando como fãs do RBD para qualquer merda que o Caetano falava, devidamente acompanhados de segundas ou terceiras esposas trinta anos mais jovens. Eu me sentia na claque do 'Zorra Total': qualquer coisa que Caetano falasse provocava um mar de gargalhadas. A pior foi quando ele disse "vocês saaabeeeem... que 'ni'... que a geeeeente aquiiiii usaaaa como eeeeeem... na Nigéééééria significa eeeeeeem!!!". A platéia vem abaixo, delírio no Maraca: Caetano Veloso descobriu que existe influência africana na nossa língua!!! Ele acha o quê, que "bunda" vem do latim, porra?
Ah sim, a banda é uma merda. Todos meninos bonitos, com cara de quem não tomam banho e usam roupas de grife tiradas da boca da vaca, o que pega muito bem hoje. Mas não tocam porra nenhuma.