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quarta-feira, dezembro 28, 2005

Crash à moda dos descolados

"Essa história é muito legal, heim?", disse eu. "Isso é mais velho do que minha avó", falou a minha interlocutora. E pimba, eu tinha perdido um duelo de descolação. E perdi por distração: a história era bem chata, mas eu não quis mostrar desinteresse e... acabei batido na arena desta forma comum de interação social.
Vocês sabem como isso funciona, não? Vários eventos sociais são na verdade ringues furiosos de duelos de descolação em que não saber algo que todo descolado tem de saber pode resultar em dor, humilhação, opróbrio e degredo para a África. Como por exemplo: você vai num, num... vernissage. Chega, engole o salgadinho frio, rouba uma taça de Almadém do garçom que passa a bombordo tentando fingir que não lhe viu. E diz "oi" para um conhecido mas que não chega a ser amigo, alguém que alguém te apresentou em outro convescote. Não tem mais ninguém que você ou a pessoa conheçam por perto, para poderem fugir.
E assim, um fica testando o outro para ver se vale a pena perder tempo conversando com ele. O que valeria por dois motivos: a) a pessoa ser bem relacionada ou b) você poder impressionar a pessoa, fazer dela a platéia, torná-la a multidão de um só que vai render-se à sua genialidade. E assim - vapt - em dois segundos você se enfiou num Duelo de Descolação. Que começa com uma porção de citações de livros, filmes e músicas da moda, mas em relação a detalhes que só descolados saberiam. Como dizer "o pai da MIA já morou na Mangueira, foi assim que ela conheceu o funk carioca" ou coisa parecida.
Mas o golpe muito usado, por ser o mais fatal, garantir uma vitória rápida e sangrenta, é um dos dialogantes citar alguma celebridade pelo prenome, para provocar a pergunta "quem?" do oponente e aí sim, declinar o nome inteiro da pessoa, com uma expressão de contido horror, por ter de fazer uma coisa tão empregadinha como dizer o nome inteiro de um famoso, só porque o botocudo analfabeto - com quem você está fazendo um trabalho de responsabilidade social de conversar na vernissage, quando poderia estar conversando com gente muito mais interessante - não tem intimidade com essa pessoa. Afinal de contas, ele NÃO É UM DESCOLADO.
Um exemplo prático? Dizer, por exemplo, "ontem o Luiz Fernando me contou..." e o oponente pergunta: "Luiz Fernando?". "Carvalho", responde o interlocutor. NOCAUTE, SENHORES TELESPECTADORES, FOI INCRÍVEL!!!! O INTERLOCUTOR NÃO SABE QUE SE UM DESCOLADO FALA "LUIZ FERNANDO", SÓ PODE SER O DIRETOR DE "HOJE É DIA DE MARIA" E "LAVOURA ARCAICA", UM CINEASTA QUE DESLOCA A NARRATIVA USANDO O CHIAROSCURO DE CARAVAGGIO E MESTRES BARROCOS PARA REPENSAR A CULTURA BRASILEIRA!!! AGORA ELE VAI TER DE SAIR CABISBAIXO DA GALERIA ONDE UMA NOVA REVELAÇÃO DO CURSO DE MESTRADO DA UFRJ APRESENTA SUA INSTALAÇÃO BASEADA EM PRESERVATIVOS E ABSORVENTES USADOS COMO FORMA DE REFLEXÃO SOBRE AS RELAÇÕES SOCIAIS MEDIADAS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA!!! E VAI TER DE IR COMER UM PODRÃO NA CARROCINHA DA ESQUINA, PORQUE É O MÁXIMO QUE SUA PARCA CULTURA, SUA IGNORÂNCIA DE QUE "LUIZ FERNANDO" É "LUIZ FERNANDO CARVALHO", LHE PERMITE!!!!
Tem gente que eu conheço que prefere isso a sexo, juro.

segunda-feira, dezembro 26, 2005



Desenho em nanquin de Miles Davis, baseado na fodo da capa do meu álbum favorito dele, "A Kind of Blue".

Cola

Esse texto abaixo é todo copiado de um outro blog. Fiz isso porque a) ele fala de um estudo de um amigo meu e b) é uma boa dica de blog para quem quer pesquisar mais histórias em quadrinhos. O endereço do blog é http://cabruuum.blogspot.com/


Domingo, Dezembro 11, 2005

Peter Parker não tem diploma!
Você já se deu conta que o Homem-Aranha , o Super-Homem e o Tintin são jornalistas ? E que boa parte do enredo dessas histórias gira em torno do jornalismo, da rotina de redação?Tem mais: que praticamente não há jornal no mundo que não publique charges e/ou tiras?E que a expressão "jornalismo amarelo" (que, no jargão (não-)profissional, quer dizer jornalismo sensacionalista), surge com o personagem de HQ Yellow Kid, desenhado por Richard Outcalt para o New York World no fim do século XIX?Hein? Você sabia?Pois bem. Esse é o mínimo que você vai tirar da leitura do artigo Quadrinhos e jornal: uma correspondência biunívoca. Quem escreveu foi o mestrando em comunicação pela ECO/UFRJ Antônio Aristides Corrêa Dutra.O texto mostra como essa ligação entre quadrinhos e jornalismo é antiga. Remonta, pelo menos, ao século XIX. E que, por isso, não é de se esperar que hoje haja um incipiente Jornalismo em Quadrinhos, encabeçado por jornalistas-quadrinistas como Joe Sacco, Art Spielgeman e Robert Crumb, dentre outros.Vale a pena ler o artigo de cabo a rabo. Cutuque aqui!

domingo, dezembro 25, 2005


Esse desenho de Phillip Roth foi feito com pastel, caneta esferográfica e... sei lá mais o quê, em uma folha que dobrou levemente no lado esquerdo superior, quando a pus no scanner. O rosto ficou meio assustador, com a boca para um lado e o nariz para o outro? É por isso que eu gostei dele.

terça-feira, dezembro 13, 2005

O sucesso do fracasso

Toby Young é um péssimo jornalista que fez uma série de trapalhadas inclusive no seu período na "Variety". Mas é um péssimo jornalista inglês, o que significa bem educado, e ainda por cima, filho do escritor socialista Michael Young, que inventou o termo "meritocracia" - que nasceu como uma crítica, aliás: Michael achava que a meritocracia, um sistema no qual as pessoas têm a ilusão de que são ricas e bem-sucedidas por seus próprios méritos, inferior à aristocracia, onde pelo menos os nobres tinham alguns laços de compromissos com as outras classes, porque eles sabiam que sua riqueza devia-se a um acidente de nascimento.
Ele usou este background para se vingar da "Variety " em um livro chamado "Como fazer inimigos e alienar pessoas", lançado no Brasil como se fosse um compêndio de fofocas sobre celebridades e o mundo de vaidade da Condé Nast. Era tudo isso sim, mas tudo isso interpretado pela ótica de quem leu Tocqueville, Jane Austen e tinha muito humor para lembrar as próprias falhas em tentar impressionar como "jornalista britânico por dentro da moda".
Assim, ele usou sua experiência com o mundo das celebridades para constatar como diverssas profecias de Tocqueville sobre a democracia americana tornaram-se realidade, tal qual o risco de o regime virar uma espécie de "despotismo brando". E demonstra como, na verdade, após a revolução sexual e o maior acesso das mulheres ao mercado de trabalho, pelo menos na editora Condé Nast, que publica a Variety, as mulheres continuam como as mulheres retratadas nos romances britânicos do século XIX - sempre desesperadas atrás de um casamento arranjado com um marido rico.
Graças ao sucesso do livro, Toby engatou uma carreira como escritor que agora pode lhe render um prêmio teatral por sua parceria com Lloyd Evans na comédia "Who's the Daddy?". E ele tem um site em que goza a tudo e a todos, inclusive ele próprio (uma charge mostra-o em uam festa na qual uma moça diz "então você é o Toby Young sobre o qual você escreve tanto!"). E dá uma lista dos dez piores restaurantes de Londres que usa bons critérios para se julgar a real validade de alguns serviços de restaurantes caros, enquanto chama um deles, italiano, de "caixão de Liberace" ou "roupa de baixo de Donatella Versace", chama o serviço do Cipriani de "cavalgada de incompetência", etc. O endereço é http://www.tobyyoung.co.uk/

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Os segredos da culinária de Samuel Beckett

Estragon e Vladimir participam de um programa de culinária. Os robôs R2D2 e C3PO, da saga de "Guerra nas Estrelas", travam um diálogo à la David Mamet - cheio de interrupções, repetições, constatações óbvias. George Constanza, de "Seinfeld", torna-se personagem de Eurípides. O poeta Bashô termina um hai-kai com a palavra "motherfucker". Tudo obra, na verdade, de Francis Heaney, um ex-elaborador de palavras cruzadas de jornal que inventou a mais delirante sátira literária: a partir de anagramas de nomes de escritores famosos, ele cria poesias, peças teatrais e contos que imitam o estilo destes autores. Assim, temos "Toilets", poema de T. S. Eliot sobre o vazio da vida e a ida ao banheiro; o velho marinheiro de Samuel Taylor Coleridge toma drogas pesadas e vê um mar de argila multicolorida ("Multicolored Argyle Sea"); um diálogo entre um cobrador de impostos e um contribuinte é recheado de epigramas de Oscar Wilde, como "É fácil ser generoso quando se espera perder uma grande quantidade de dinheiro" em "Irs Law Code". O livro pode ser comprado pela Internet, com ilustrações, etc. Ou lido no endereço http://www.yarnivore.com/francis/Holy_Tango.htm. O título dele é "Holy Tango" - um anagrama para "Anthology".

terça-feira, dezembro 06, 2005

Oximoro marqueteiro

A última dos marqueteiros é um treco chamado "marketing de guerrilha", que provocou uma reação de guerra contra o Play Station Portable da Sony. Segundo o site Blue Bues, "Uma campanha de marketing de guerrilha usando grafites em muros para promover o PlayStation Portable está sendo criticada na internet, em blogs, e também nas ruas por alguns integrantes de seu publico alvo, os jovens urbanos. Os desenhos, feitos com spray e vistos em varias cidades americanas, mostram crianças interagindo com o videogame de diversas maneiras, como se ele fosse um skate ou um boneco, por exemplo. Nao mostram a marca da Sony nem do PSP, na intençao de sugerir que os desenhos seriam trabalho de grafiteiros. As criticas feitas a campanha dizem que ela tenta se apropriar da arte de rua. Em Sao Francisco, alguns desenhos foram pichados e ganharam a companhia de palavroes e frases de protesto como 'Saia da minha cidade'". Mais notícias em http://www.bluebus.com.br/show.php?p=1&id=65620

sábado, dezembro 03, 2005

Notícias da Ilha Perdida

O pau comeu de novo em Cuba para os opositores de Fidel. Ontem, o Consenso Democrático, movimento que pede mais liberdade política na ilha, denunciou que na semapa que passou, na sede da revista Consenso, editada pelo grupo, por volta das 8 da noite, Leonardo Calvo foi agredido e ameaçado por um grupo de pessoas da chamada "brigada de resposta rápida" - um dos esquadrões governamentais resultantes da estatização das gangues juvenis por Fidel. Calvo foi atacado quando tentava ir embora do apartamento de Marta Cortizas e Eugenio Leal, integrantes do Conselho de Redação da revista. A "brigada" já havia durante oito dias mantido uma guarda para impedir que Calvo e outros integrantes da revista entrassem no apartamento do casal, usando a violência. "Nesta nova edição da Batalha das Idéias", diz o comunicado do Consenso, em um humor admirável para quem sofre o que eles sofrem, "a Manuel Costa rasgaram a camisa e Eugênio Leal, coordenador da Rede de Cidadãos por uma Mudança Tranqüila, foi golpeado no rosto".
Depois disso, não restou aos integrantes de Consenso chamar a polícia para tentar garantir o direito de ir e vir. A polícia chegou e atuou como se espera em uma ditadura totalitária: deteve Calvo, Cuesta e Eugênio Leal, por respectivamente 4, 5 e 6 horas. Foram liberados depois de serem autuados com uma advertência por "escândalo em via pública" e multados em 30 pesos.

segunda-feira, novembro 28, 2005

A grande reportagem fotográfica

Na sexta-feira, de novo, Lula comparou a transposição do Vale do São Francisco aos investimentos que o presidente Franklin Roosevelt fez no Vale do Tenessee para ajudar a população empobrecida pela depressão econômica dos anos 30. Se o governo quisesse fazer como Roosevelt mesmo, para tentar explicar um pouco melhor de que se trata a obra, poderia copiar uma das melhores iniciativas em comunicação governamental já vistas: a grande reportagem fotográfica patrocinada pela Farm Security Administration, departamento criado para cuidar destes projetos. Para convencer os eleitores de que o governo dos EUA devia gastar dinheiro para ajudar os mais pobres, o departamento mandou para o sul e oeste dos EUA uma legião de fotógrafos, incluindo grandes nomes Walker Evans e Dorothea Lange. O retrato mais famoso de Dorothea, de uma mãe emigrante segurando o filho nos braços, os rostos cheios de linhas e os olhos vazios, foi produzido neste esforço. Milhares de outras fotos documentaram a luta dos americanos contra a pobreza e algo mais, como a solidão e a aridez destes regiões, de uma maneira que ajudou, ao lado de outras criações como os quadros de Edward Hopper, a criar na cabeça de muita gente a imagem de uma América interiorana melancólica e árida. As fotos podem ser vistas no site da Biblioteca do Congresso americano, no endereço http://memory.loc.gov/ammem/fsowhome.html

Na veia

Literatura de drogados é algo meio fora de moda desde William Burroughs, mas o site http://www.junkylife.com revitaliza as narrativas de quem experimenta e gosta de se viciar. Tem relato de tudo - o passo-a-passo da morte de uma aidética, o cotidiano de viciados, a narrativa das sensações de uma viagem provocada pela heroína, a angústia da abstinência. Tudo muito cru e muito direto: alguns dos viciados dizem como não querem nada da vida. Mae, que mantém um blog onde fala de como está morrendo de aids, conta como o pai de uma amiga a chantageou sexualmente para permitir que ela se picasse na casa dele.

sexta-feira, novembro 25, 2005

declínio e queda do glam rock

No início dos anos 70, na ressaca do fim dos Beatles, das mortes de Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, Gary Glitter parecia apontar para o futuro do rock: ele teria lamé, muito brilho e um som bastante simples. Glitter encarnou tudo isso em um movimento que foi conhecido como o "Glam Rock", que disputava espaço com outras tendências dos anos 70, como o heavy metal, o rock progressivo, etc. E foi varrido, como todos estes, pelo punk no fim da década. E agora, pode ser condenado à morte no Vietnã por pedofilia.
A história do declínio e queda do responsável pelos sucessos "Rock and Roll (parts 1 and 2)" e "Do You Wanna Touch Me?" é coisa de filme: ele abriu falência nos anos 80, aderiu ao budismo e ao vegetarianismo, quase morreu por uma overdose de pílulas e foi preso três vezes por dirigir bêbado, enquanto sua figura tornava-se cada vez mais quixotesca, com Glitter tentando manter o penteado exuberante, mesmo que com a ajuda de uma peruca. Mas queda começou mesmo quando Glitter (batizado como Paul Gadd: o nome artístico ele escolheu, rejeitando Terry Tinsel, Stanley Sparkle e Vicky Vomit, outras possibilidades), ele mandou seu computador para o conserto: o técnico achou dúzias de fotos pedófilas baixadas da internet. Glitter tirou quatro meses de cadeia por isso, e quando saiu, em 2000, viajou para Cuba e, em seguida, para o Cambodja. Lá, foi expulso em 2002 do país. As autoridades do Cambodja não explicaram direito, mas desconfiou-se de que ele não havia se emendado. E agora, aos 61 anos, Glitter foi detido no Vietnã - onde pedofilia dá pena de morte. As notícias sobre ele podem ser acessadas no site de seu site oficial (sim, existe): http://ourworld.compuserve.com/homepages/vanderlinden/glitter.htm

quarta-feira, novembro 23, 2005

Uma questão multifacetada

Como muitos outros intelectuais franceses, Jean Baudrillard é bastante adotado e citado por acadêmicos brasileiros por uma boa razão: escreve mal. Assim, qualquer coisa que ele escreva pode significar qualquer coisa - e a autoridade para se medir a aptidão do aluno e sua capacidade de aprender não pode ser testada mais nas informações do texto, mas na interpretação que o professor irá dar a ele. Que vai mudar de acordo com as simpatias sexuais, políticas ou adulatórias que o aluno despertar no professor, ou o número de vezes em que o aluno citar o livro que o professor acabou de lançar mas ninguém leu em sua dissertação ou tese, se estivermos falando de pós-graduação. Seria uma ... "dominação pelo discurso", para usar um jargão de Michel Foucault.
No futuro, é provável que gente como Baudrillard, Foucault, Lyotard, Derrida, seja lembrada pelos efeitos cômicos de seus textos e aparições. Porque assim como o personagem de Moliére que falava em prosa sem o saber, eles todos escrevem e falam em tom de comédia absurda sem o perceber. Mas uma reportagem da The New Yorker captou este estilo em uma palestra recente de Baudrillard em Nova York. Teria tudo para ser a coisa mais chata do mundo. Mas o detalhe das vestimentas, da reverência dos ouvintes, como se fossem botocudos impressionados com o Anhangüera tacando fogo em uma tigela de álcool, captam a hilariedade de Baudrillard e sua seita, até o gran finale, em que ele se classifica como "um simulacro de si mesmo". Está neste endereço: http://www.newyorker.com/talk/content/articles/051128ta_talk_macfarquhar

domingo, novembro 20, 2005

o que não sai nos jornais

Eu estava procurando algo na Internet sobre a Vila Rubim, um bairro no centro de Vitória onde vivi meu bildungsroman, digamos. E topei com um site de fotos que, pelo que deduzi, foram feitas para reportagens mas nunca saíram nos jornais - ou por serem muito chocantes, ou por serem proibidas por lei (como uma excelente de menores de rua cheirando cola) ou sei lá por quê. O endereço é http://impublicavel.zip.net/ , tem um material variado e algumas pequenas obras-primas, mesmo que sejam macabras.

Consegui exibir essa tela em uma mostra no Centro Cultural da UFF sobre sexualidade. Tem 1,70x1,80, se não me engano. A inspiração foi uma foto de uma revista de anúncios eróticos que comprei à procura de modelos ou de algo bizarro para brincar. A revista era fascinante porque vários homens e mulheres comuns posavam nus, ofereciam-se para encontros amorosos, ao mesmo tempo em que sempre escondiam o rosto - ou seja, para mostrar seus desejos mais pessoais, eles tinham de esconder a personalidade. A mesinha ao lado, na foto, com a planta de grandes folhas em cima, a concha envernizada em uma estante inferior e o vasinho de flores no pé era o toque erótico-suburbano que completava o quadro.

O maior dos predadores

"Somos inimigos do conservacionismo", disse o líder da tribo africana Masai Martin Saning´o, em um encontro do Congresso Mundial de Conservacionismo em Bangcoc, em 2004. Para ser uma ameaça ao meio ambiente, os seres humanos não precisam de indústrias, navios petroleiros ou monoculturas de soja: de grupos humanos que vivem de maneira muito mais simples em países do terceiro mundo também ameaçam o meio ambiente, e esse problema começa a se tornar grave, segundo reportagem na revista "The Orion": http://www.oriononline.org/pages/om/05-6om/Dowie_FT.html

sábado, novembro 19, 2005

A memória da Guerra Grande

Moradora de uma pequena fazenda do Mato Grosso do Sul, Aminta Ester Lynch, ainda aos 80 anos, acorda de madrugada para cuidar da casa e da criação de bichos de seda na cidade de Terenos, dormindo às 19 horas. Ouviu do pai o conselho para nunca se meter em política. Não foi à toa, a política determinou a fuga do pai e dela do Uruguai, onde eles eram inimigos dos colorados, os mesmos adversários de uma parente distante de Aminta - Elisa Lynch, a mulher de Solano López, o ditador derrotado por Brasil, Uruguai e Argentina na Guerra do Paraguai. O pequeno perfil de Aminta está ao lado de boas fotos do conflito e algumas análises sobre ele no site http://guerragrande.ledes.net/, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Segue a tendência predominante nas universidades brasileiras, na área de Humanas, de revisar o que não tem importância e priorizar a banalidade, ao chamar a Guerra do Paraguai de "Guerra Grande". E ainda falta muita coisa que é prometida na sua página de abertura. Mas vale uma visita.

segunda-feira, novembro 14, 2005

O último dos austríacos

Peter Drucker morreu no dia 11, tranqüilo, em casa. Fiquei sabendo hoje: na leitura de jornais, não notei grandes destaques sobre isso. O que é uma pena: ele talvez seja o último de uma geração de gente criada na Europa Central em países destruídos pela I Guerra Mundial e que manteve a sanidade e a crença na razão durante um século em que se escreveu e se disse muita besteira e muita gente morreu por causa disso. Li menos do que devia destes sujeitos: Karl Popper, Ernst Gombrich, Ludwig von Mises... o que os unia era principalmente a clareza. Todos escreviam para ser entendidos, não para fundar uma seita de fanáticos em universidades, como os que os criticavam. E todos se preocupavam com o sentido ético de seus atos: Drucker deplorou a quebra da bolsa de 1987 principalmente como efeito da falta de ética na manipulação das ações, ele lembrou que a ética também é necessária para ganhar dinheiro.
Quem não gosta de estudar administração pode procurar em algum sebo "Reminiscências", um livro de memórias de Drucker. Há as recordações de sua incrível avó, uma espécie de precursora da globalização financeira e dos computadores, com seus vários passaportes que lhe permitiam trocar dinheiro pelo melhor câmbio sempre que ia a um país novo dos que haviam sido criados dos restos do Império Austro-Húngaro e sua mania de guardar xícaras sem asas e asas sem xícaras. Há o relato de como ele sentiu "algo estranho" ao chegar nos Estados Unidos durante a era do New Deal - a ajuda que recebeu de gente desconhecida, que se prontificou a facilitar a sua entrada no país e em lhe procurar emprego, era um sinal de que uma nova idéia estava no ar para tirar o país da crise. Há o relato de um colega de jornal em Viena, o mais medíocre de todos, que foi encarregado de cobrir o partido nazista austríaco, acabou se filiando a ele e tornou-se um dos seus piores criminosos na Áustria. "Esses caras estão falando sério, Peter, e quando eles forem fazer o que querem fazer, vão ter de buscar gente com estômago para isso - e é aí que eu entro", disse o amigo. As explicações do futuro nazista são uma aula do que pode provocar o excesso de ressentimento. Há a história do casal de nobres austríacos que abraçou o socialismo como forma de evitar uma outra guerra mundial - e se matou por não conseguir (o nazista também se matou, aliás). São histórias de vida enriquecedoras, e, principalmente, que fizeram Drucker pensar, refletir, aprender. Um hábito que está morrendo com os velhinhos austríacos.

sexta-feira, novembro 11, 2005

No resto do mundo, os pobres também choram vendo novela

A globalização, no seu aspecto cultural, sempre é apontada como sinônimo de dominação cultura do cinema americano, do rock americano, da eliminação das diferenças culturais e manifestações regionais pela hegemonia da produção do primeiro mundo, etc., não? Mas um jornalista e teatrólogo venezuelano alerta que as novelas da América Latina chegam a ameaçar as produções hollywoodianas, ao se espalhar por todo o mundo, chegando em lugares como a Polônia, Rússia e Indonésia, por sua capacidade de manter os pobres "pregados na cadeira". O artigo está em http://www.foreignpolicy.com/story/cms.php?story_id=3269&print=1

quinta-feira, novembro 10, 2005

tudo compreender é tudo perdoar

Amanhã, Mykensie Martin deve encontrar-se com os pais americanos em Brasília, após sumir de Carmo de Paranaíba, no domingo, e chamando até a atenção do FBI. Deve levar um esporro e ser alistada em seguida no Exército para servir no Iraque e ver o que é bom.
Eu compreendo e muito os motivos daquela moça. Ela sai do equivalente a Casimiro de Abreu no Oregon pra um programa de intercâmbio no Brasil achando que ia ver muito samba, lambada, jogo de futebol. Vai parar em Carmo do Paranaíba num intercâmbio do Rotary. Aí, doida para sambar, lambadear, fazer a Ola no Maracanã, é levada para o 22o Jantar Comemorativo dos 22 Anos da Fundação do Rotary Carmoparaibano, no qual se homenageará a memória do dr. Odilio Mendes Maia, fundador do Rotary de Carmo do Paranaíba que durante anos contribuiu para o desenvolvimento da comunidade à frente da administração da Farmácia Flôres, que fica na pracinha da Matriz de Carmo do Paranaíba. No evento, o diretor de eventos do Rotary de Patos de Minas faz uma menção em seu discurso à "presença de nossa irmã de plagas norte-americanas", puxando uma salva de palmas, ao mesmo tempo em que propõe a votação de uma menção contra a invasão do Iraque nos EUA para ser votada no 23o Jantar Comemorativo dos 23 anos de Fundação do Rotary Carmoparaibano. Tudo é traduzido para a moça pela sua "brazilian sister", uma gordota com espinhas vermelhas na bochecha branca, aparelho nos dentes, cabelo quebradiço preso por uma fivela em forma de abelhinha, que lhe dispara olhares lésbicos.
Passa-se uma semana. Neste período, na Escola Futuro Feliz, ela é informada pela irmã lésbica quem é Magáiver, o principal galã dos adolescentes de Carmo do Paranaíba, que Christhyane (mudou a grafia depois que foi a um numerólogo) é a menina mais invejada pelas mulheres e amada pelos homens de Patos de Minas, e que deve evitar Celsinho, um aluno repetente e mal barbeado que é a vergonha de sua família, uma das melhores de Carmo do Paranaíba, mas que voltou diferente desde as férias em Cabo Frio, há dois anos, com uma tia solteira aposentada do IAPI que se mudou para lá. O professor de matemática, talvez inspirado pelo Tio Glauco da novela, tenta conquistar-lhe primeiro com as piadas que sempre fazem sucesso na aula de equações de segundo grau, e depois, oferecendo-lhe uma carona na garupa de sua moto, com um pequeno desvio pelo acesso à cachoeira mais bonita de Patos de Minas, onde ele tenta estuprá-la.
Curiosa, no segundo dia, a menina tenta um contato com o "perigoso" Celsinho. Ela a leva para o seu quarto, e.... lá a submete a uma sessão de cinco horas de audição de rock progressivo, com direito ao álbum triplo ao vivo do Emerson Lake and Palmer e toda a coleção de Rick Wakeman.
Na sexta à noite, a moça vai para o principal "agito" de Carmo do Paranaíba: a pizzaria Três Irmãos, que fica ao lado do Posto Dois Irmãos, na entrada de Patos de Minas. Que, aliás, é adornada por um monumento dos 22 anos do Rotary. Numa mesa grande todos prestam atenção ao relato que Arnaldinho, filho do prefeito, faz de "um lugar manêro" que ele acabou de conhecer nas suas férias no Rio: a Ilha dos Pescadores, manja? Enquanto isso, a "irmã brasileira" roça suas coxas gordas na americana para lhe dizer no ouvidinho: "amanhã nós vamos juntas para o culto mórmon em Unaí, né?"

terça-feira, novembro 08, 2005

poitiers de novo

Daqui onde estamos, parece que esses tumultos na França são o resultado do preconceito que "excluiu" os jovens pobres, não? De repente, a França parece estar sendo governada pela Klu Klux Klan e os tocadores de fogo em ônibus estão apenas se "exprimindo". Mas eu prefiro ficar com a análise de um amigo meu que morou muito tempo lá, conhece essa realidade e não é reprimido pela pressão social de parecer bonzinho - esta sim, uma pressão que realmente produz uma geração de excluídos: aqueles que pensam pela própria cabeça. Mas a análise dele, por um mail, está aí abaixo. Nem corrijo a linguagem mailzística, acho que estragaria o estilo:
"aqueles subúrbios têm um monte de conjunto amarelinho (irajá) só q cheio de árabe dentro. em paris tb tem bastante, nas áreas mais pobres. esses caras passam o dia vagabundeando e fazendo merda. tipo cuspir na cara de meninas desacompanhadas no metrô (amiga minha viveu isso), assaltar e agredir covardemente as pessoas (conheço cara q passou por isso) e eventualmente praticar agressão sexual contra mulheres desacompanhadas. são extremamente covardes e agressivos, tipo grupos de 7, 8 marmanjos contra uma ou duas vítimas. tem linha de metrô q as mulheres evitam depois de uma certa hora com medo de passar por esse tipo de perrengue. ou seja, esses narigudos tocam o maior terror por lá, mas ai de quem levantar o dedo contra eles, vão dizer q é perseguição, racismo, intolerância religiosa etc, e isso num país como a frança, sacumé, pega mal pacas. de qq forma, o q eu sempre disse é q essa situação social era um barril de pólvora, q um dia alguém, puto com essa situação, ia dar um tiro na cara de um árabe desses e a favela (no caso deles, os amarelinhos da vida, ou HLM, os BNHs deles) ia vir abaixo."

sexta-feira, novembro 04, 2005

dupla caipira

Eles têm muito em comum: foram escolhidos pelos seus cargos menos pelo que são de verdade e mais pelos símbolos de simplicidade que suas figuras emanavam, de promessa de um mundo mais simples, mais inteligível: um encarnou os "valores morais", e o outro, o "trabalhador no poder", embora tenha deixado o ofício na década de 70. Do ponto distante em que vejo, parecem ter se cercado de leninistas, não no conteúdo, mas na forma: "elites de vanguarda" arrogantes que acha que podem ditar os destinos de seus países sem levar em conta o que o resto da população acha, o que diz a lei - se eles estão no caminho certo da história, se eles descobriram qual o rumo certo do desenvolvimento do mundo, o que importa revelar identidade de agente secreto ou saquear o estado e subornar parlamentares? É tudo para um bem comum. Agora, têm de responder por ilegalidade que realmente talvez eles nem compreendam. Talvez Lula e Bush acabem afogando as mágoas um no ombro do outro no churrascão de amanhã, depois do terceiro copo de cortezano.

quarta-feira, novembro 02, 2005

sweet memories

"A OIJ era ligada à KGB!!! A gente era manipulado pela KGB!!!", ouvi numa noite numa discussão em um bar em 1989. Eu estava em Vitória, e ouvia a discussão entre um dirigente nacional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) com outro dirigente, do Espírito Santo. Os dois talvez nem se lembrem disso, nem vale a pena citar seus nomes. Eu sim.
A revelação (para mim) do segredo que ligava a Organização Internacional dos Jornalistas, com sede em Praga, ao serviço secreto soviético me fez entrar em um livro de John Le Carré no meio um lugar dos mais improváveis ambientes para um romance de espionagem - um bar com chope quente, muitos jornalistas fumantes e falantes, numa noite quente.
A frase foi particularmente impactante para mim porque me lembro de um professor do curso de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo particularmente tacanho e desonesto, chamado Renato Soares, em uma aula que ele dava sobre Ética em Jornalismo. Na verdade, a aula era de doutrinação de esquerda - Renato era, é ainda, presidente do PSB no estado. E nesta aula, ele determinou - sem dizer por quê, sem dar chance de ser contradito - que das duas entidades internacionais de jornalismo que existem no mundo, a OIJ era a "boa, de esquerda"; a outra, sediada nos Estados Unidos, era a "reacionária, de direita".
Foi simplório assim. Era este o tipo de ensinamentos que se davam e eu acredito que ainda se dão em cursos de ciências humanas, nas universidades brasileiras, nos anos 80. O que talvez explique muito certas repetições de assuntos, abordagens, clichês que leio na imprensa que me dão um tédio profundo. São todos filhotes daqueles clichês ministrados como cocaína na veia nos primeiros semestres dos cursos de ciências humanas.
Voltando à discussão no boteco, dois anos depois da lavagem cerebral do professor tacanho: a f]revelação de que a boazinha entidade de esquerda era peça de propaganda do totalitarismo russo foi feita como um último argumento que o dirigente nacional da Fenaj lançou para tentar convencer o colega de que, em 1989, o comunismo tinha acabado mesmo, de vez. Note bem, ele ainda se considerava de esquerda - mas não era tão de esquerda assim para ser tão insensível aos fatos daquele looongo ano. O meu amigo dirigente capixaba não, tentava escapar pela tangente dizendo que "o que morreu foi uma forma burocrática de socialismo" e "é preciso fazermos uma autocrítica".
Nestes 16 anos, tudo que eu tenho visto de movimentos como o MST e o PT, que cheguei a acompanhar de bem perto, foi escapadas pela tangente. Sempre com autocríticas convocadas e nunca feitas, refundações do socialismo que apenas repetem o que já foi defendido, fundado, testado e derrotado pelos fatos, palavras de ordem simplistas para demonizar quem não concorda com os lugares-comuns. É tudo muito cansativo. Esse povo, essa.. taí, essa "raça", por que não?, é muito chata, e consegue tornar tudo ao seu redor mais chato ainda.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Aliás...

Por falar em Bush, um livro que poderia ser publicado aqui no Brasil é Fogo Grego. O nome do autor se me lhe escapa: o da editora portuguesa que publicou o volume que li, também. Mas neste livro, há um interessante alerta de que, depois de ser o inspirador original da idéia de que é possível regular e ordenar ao máximo o ser humano, que acabou por inspirar as ditaduras do século XX, Platão era agora o inspirador dos neoconservadores que tanto dominam o governo dos EUA. O filósofo grego, com Marx e Hegel, foi um dos atacados por Karl Popper no livro "A Sociedade Aberta e seus Inimigos", pelo teor anti-democrático das suas idéias.

No gabinete, e só com água mineral

Ouvi na TV hoje que Lula e Bush devem se encontrar em um churrasco. Má idéia, má idéia. O encontro devia ser o mais protocolar possível. Bush é alcoólatra. Se há uma coisa que ele saberia fazer, é medir o peso e a influência do álcool na vida de um homem.

domingo, outubro 30, 2005

Manifesto que vem de Cuba

O povo do Consenso Democrático, movimento que luta por mais liberdade em Cuba, divulgou um manifesto para reafirmar seus princípios, como forma de reagir ao aumento da repressão pela ditadura de Castro. Abaixo, o texto:
"Ante a escalada repressiva pelo governo cubano nestes últimos meses, que alcançaram vários de nossos membros e ativistas, e aos responsáveis pela revista digital Consenso, o Arco Progressista, expressão política institucional do pensamento socialista e social-democrata cubano, DECLARA:

1. Sua solidariedade, tal como fizemos desde setembro, com todos nosso conpatriotas diante dos atos de repúdio que sofreram ou sofrem com esta escalada de barbárie e incivilidade com o que o governo cubano, contra a Constituição do país, as normas básicas que fundamentam os stados modernos e os princípios de direito internacional, pretende calar as vozes pacíficas dos lutadores pró-democracia em Cuba.
2. Seu agradecimento a todos aqueles que dentro e fora de Cuba expressaram sua solidariedade com o Conselho de Redação de Consenso e com os membros de nossa associação Arco Progressista, pelo ato de repúdio sofrido em 10 de outubro. Um agradecimento que por certo inclui os socialistas, social-democratas e progressistas do mundo - do Partido Socialista da França, do Grupo Socialista do Parlamento Europeu, dos Democratas de Esquerda da Itália, do Partido Socialista Obreiro Espanho e da Alternativa Social-Democrata Camponesa do México - e de numerosos intelectuais de Cuba e de outros países.
3. Seu compromisso reafirmado, independientemente de conjunturas ou circunstâncias adversas, con la busca pacífica da democratização e o reconhecimento institucional, integral e efetivo dos direitos humanos. Neste sentido, soma sua voz àqueles que felicitaram e reconheceram as Damas de Branco por terem recebido o Prêmio Sakarov de Direitos Humanos que outorga o Parlamento Europeu, e estende sua felicitação à advogada nigeriana Hauwa Ibrahim e aos Repórteres sem Fronteiras, agraciados também por sua luta em favor dos direitos da mulher no mundo islâmico e seu compromisso com a liberdade de expressão, respectivamente.

4. Seu apego à estratégia de alcançar mudanças pacíficas por meio do diálogo, a transição pactuada e la reconciliação nacional, e portanto, sua distância de toda estratégia de desestabilização – negativa para a segurança nacional de Cuba e para a mudança que queremos – e que provocadoramente o gobierno agora atiça con a reanimação destes atos de repúdio. Neste sentido, reafirma seu compromiso con a não-violência, o pacifismo, o civilismo e o trabalho nos marcos da lei para regular os conflictos sociais e políticos.

5. Sua reafirmação, ao lado dos valores da liberdade, justiça social, solidaridade, pluralismo, moderação e defesa do direito das minorias, e da soberania e independência de Cuba, assim como do multilateralismo no direito internacional e contra as medidas externas de arrocho, pressão e isolamento.

6. Finalmente, o Arco Progresista responsabiliza diretamente o governo de Cuba por qualquer dano à integridad física, psicológica e moral e aos interesses pessoais de nossos membros e simpatizantes, assim como de seus familiares.

Manuel Cuesta Morúa
Porta-voz
____________________________
Sede de Referencia: Edificio C-11 Apto 4 Zona 6 Alamar. Habana del Este. Ciudad Habana. Cuba.
Telefax:+53-(0)7-93 09 12. Celular (para contacto solamente) 05 284 03 88
Correo electrónico: cosdec2002@yahoo.es

"América" chega ao Guardian

Aliás, o beijo entre dois personagens masculinos da novela "América" também está nesta seção do site do Guardian. Quem quiser ler que clique no título do post - a novela e por conseqüência a polêmica são muito chatas, para mim, para valerem explicação.

Jerry Maguire da vida real

Deu na seção do Guardian sobre a mídia: ao deixar a BBC por causa de um mail inapropriado seu que foi descoberto, um editor chamado Jason Deans escreveu um outro e-mail, que para muitos deve ter parecido muito mais inapropriado do que o anterior, que fazia uma brincadeira de classificação dos atributos estéticos das colegas de trabalho ("transo, caso ou jogo de um penhasco?").
Neste mail, chamado de "um mail do tipo Jerry Maguire", que Deans mandou para seus chefes e o diretor-geral da emissora de tv inglesa, Mark Thompson, ele diz que a BBC está "cheia de programas que não significam nada". Mais: acusa os colegas de ter uma atitude "sabichona, derrogatória e condescendente" diante das outras pessoas que participam de seus programas. Em suma, a BBC, segundo Deans, estaria he farewell email also criticised colleagues for having a "derogatory, condescending BBC-knows-all attitude" towards ordinary people who feature in their shows. O demissionário também lamenta a "falta de estimulação mental e de tomada de riscos" na TV, segundo o Guardian. Não deve ser o único escritório do mundo onde há isso, se serve de consolo para Deans.

sábado, outubro 29, 2005

Duke

Um desenho do Duke Ellington que fiz uma vez para tentar decorar um bar especializado em jazz em Vitória. A dona do ishtabilishimentu não se entusiasmou. Clique no título do post e vá para o site oficial dele, com fotos, músicas para baixar e até um contato para negócios com a "marca" Duke Ellington

sexta-feira, outubro 28, 2005

Sieg Heil

Você ataca seu adversário político usando para isso o fato de ele descender de uma determinada etnia, que vez por outra é acusada de ser, toda ela, responsável por uma conspiração que semeou destruição e sofrimento no mundo; além disso, distorce suas palavras. Quem fez isso, antes dos dirigentes sindicais e petistas que espalharam cartazes chamando Jorge Bornhausen de nazista? Os próprios nazistas, oras. O link deste post (clique no título) mostra como Avel, Abelmar e aquele outro petista que não tinha nome de fertilizante como os outros dois apenas seguem uma, bem, linha evolutiva da propaganda política via cartazes que descende dos nacionalistas e socialistas alemães (ou seja, dos nazistas). Mas talvez o ponto alto do cartaz foi tentar ligar os petistas aos "pretos. pobres e gays" que eles acusam Bornhausen de querer exterminar; no mesmo dia em que Avel admitia seu crime, o chefe de gabinete da presidência tentava desqualificar um depoimento em uma acareação com os irmãos do prefeito assassinado dizendo que "não dá para levar a sério o depoimento da empregada".

Raquel, bela morena

"O dinheiro nunca foi fácil, foi apenas rápido". É por frases como esta que o último post de Bruna Surfistinha no seu blog é, como dizer, um clássico da literatura da internet? É um longo (para padrões dos blogs) texto em que ela parece estar tomando um bom banho mental, jogando fora todo seu passado de prostituta e refletindo sobre ele, na sua última noite como garota de programa - a partir de hoje, ela pretende deixar de sê-lo e assumir seu nome verdadeiro, Raquel. É um grande monólogo que encerra uma grande história.

quinta-feira, outubro 27, 2005



Acho que já fui esse cara aí. Mas eu esqueci de onde tirei esse desenho.

quarta-feira, outubro 26, 2005

A FRASE DO DIA foi dita hoje, segundo o Globo Online, pelo diretor do Sindicato dos Profissionais de Processamento de Dados do Distrito Federal Avel Alencar, de 42 anos, adminto que foi o responsável pela confecção de três mil cartazes com uma fotomontagem do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), vestindo um uniforme de nazista. Ao dizer que queria processar Bornhausen por racismo por ele ter usado o termo "raça petista" (qual a pena para os locutores de futebol que pedem mais raça aos times?), ele procurou isentar a participação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e de petistas e gente do governo do ato, como suspeitou o senador. E saiu-se com esta, para criticar o senador e assumir sozinho a feitura dos cartazes.
- O Bornhausen não reconhece que a sub-raça tem capacidade de raciocínio?

Parece que Goebbels mexeu-se na tumba: "como não pensei num slogan destes?", praguejou, em alemão.
Quando vinha ao Rio, papai, como, aliás, todos os nordestinos, só se hospedava no Hotel Serrador, aquele hotel redondo ali na Cinelândia. Um dia viemos eu, ele e mamãe, e eu pedi para a gente ficar no Hotel Glória. Papai disse que não tinha dinheiro pra isso, mas acabou cedendo. Lembro até hoje da data, por motivos mais ou menos óbvios: 27 de março de 1964. Era a época de Gregório Bezerra, Francisco Julião. Sei que a usina foi invadida pelo pessoal do campo, papai teve que voltar pra Recife e nós duas ficamos no hotel. No dia 31, estoura a revolução e ele fica impedido de voltar.
Mamãe precisava falar com papai. O telefone do nosso quarto tinha sido bloqueado. Desço com ela para o restaurante e pergunto a um garçom pelo dono. Ele me aponta um homem de bigode, cabelo preto. Vou até ele:
- O senhor pode deixar a gente falar no telefone? Minha mãe precisa falar com meu pai – pedi. - Ah, minha princesinha, eu não posso fazer nada. - Mas o garçom disse que o senhor é o dono do hotel. - Não, não sou não. - Então o senhor é mentiroso ou o seu garçom é mentiroso. - O que você quer, minha princesinha? - Minha mãe precisa telefonar para o meu pai. - Então venham ao meu escritório.
Quando a gente estava saindo do escritório dele, ele vira-se pra mim e diz: - Você quer casar comigo? - O senhor é maluco? Eu não gosto de homem de bigode. O senhor parece meu pai. Ele riu muito e três meses depois nos casamos.
Maria Clara Tapajós casou-se aos 19 anos com Eduardo Tapajós, um dos proprietários do Hotel Glória no Rio. A história está no site Um Balcão na Capital - Memórias do Comércio na Cidade do Rio de Janeiro (http://www.museudapessoa.net/hotsites/sescrio/).
  • "Valores morais" têm decidido eleições e ganharam um peso maior em discussões políticas - e no Canadá, os valores morais da tolerância e discernimento aparentemente estão criando uma situação que, para nós, parece ser do outro mundo: André Boisclair, um candidato à liderança do partido separatista de Quebec, estava firme na disputa, apesar de nunca ter escondido sua homossexualidade.
    Pois bem, no mês passado, uma reportagem mostrou que Bisclair sabia cutir a noite em Quebec - inclusive enchendo a cara e cheirando pó - ainda em 1990.
    É para derrubar qualquer um, não? Mas Boisclair não tentou sair pela tangente ou largou a disputa: assumiu que consumiu cocaína sim.
    O resultado: Boisclair fortaleceu-se na liderança da disputa. Pesquisas mostraram que o uso da cocaína não era um assunto para ser levado em conta na eleição.
    "Foi uma maneira de mostrar compaixão e empatia pela intrusão na vida das pesoas", disse Alain Gagnon , um cientista político da Universidade Quebec em Monteral, ao New York Times, de onde eu tirei essa história, que me foi enviada por um amigo. "A tolerância é algo que define o caráter de Quebec. Isso vem de nossa história como um grupo dominado"
HOje deve ser o último dia em que poderemos acompanhar as aventuras de Bruna Surfistinha no seu blog (http://www.brunasurfistinha.com/blogs/). Ela foi o primeiro fenômeno da Internet no Brasil (?). Lógico que ler sobre seus programas era excitante, divertido, atrai. Mas o que ela diz entre um programa e outro, sobre a vida, o tédio do domingo, o bicho de estimação, a ida ao shopping, o gamão virtual, é bem escrito, sincero, e consegue exprimir o que há e o que não há na cabeça de muita gente da mesma idade que zanza por aí, sem objetivo definido, sem ter valores mais definidos, sem saber o que fazer com os primeiros anos do resto de suas vidas.

terça-feira, outubro 25, 2005

"Até parece que no Brasil todo mundo atira em todo mundo", queixou-se um amigo meu ao ler um lead de uma reportagem do New York Times sobre o referendo na semana passada. Não disse nada; só pensei em Walter Lippmann e seu livro sobre opinião pública que tem este mesmo nome, "Opinião Pública". Lippmann, acho, tinha menos de 30 anos quando escreveu este livro. Ele depois veio a ser o mais influente colunista político americano, amigo de Raymond Aron, um dos primeiros a dizer que o envolvimento no Vietnão ia dar errado. Seu livro tornou-se um clássico da comunicação social - mas ainda não foi traduzido para o portugês, o que diz muito sobre a, digamos, capacidade de "debate de idéias" no "espaço público universitário", para usar jargões de professor de filosofia da USP. Talvez porque em outro livro, anterior, ele mostrou como as esperanças dos jornalistas americanos despertados com a Revolução Russa acabaram por turvar o noticiário sobre a tomada do poder por Lênin.
O que tem a ver um livro da década de 20 com uma abertura de notícia de jornal da semana passada? É que nele Lippmann dedica uns três capítulos a explicar a importância dos estereótipos para as nossas visões de mundo. Os estereótipos dão uma ordem de importância às informações que colhemos da realidade externa, eles simplificam e tornam mais fáceis de entender o que vivemos. Especialmente no caso de termos de entender algo que acontece a quilômetros de nós, como no caso dos leitores novaiorquinos e o referendo no Brasil sobre as armas. O que é preciso, segundo Lippmann, é saber isso, ter consciência de que os estereótipos nos mostram uma parte da realidade, não a verdade inteira. Ou seja, dizer que fulano é "classe média" diz muito sobre ele, mas não diz tudo. O que quer dizer que quando o sujeito do New York Times escreveu que os brasileiros costumam atirar uns nos outros ou coisa parecida, ele estava apenas tentando resumir em uma frase forte, para que novaiorquinos compreendessem de uma maneira simples, um problema que salta aos olhos de um estrangeiro: que no Brasil a violência é grande. É um detalhe a ser ressaltado, mas não é toda a verdade. Da mesma maneira que quando lemos nos nossos jornais e revistas sobre o "consumismo americano", não quer dizer que o país com mais orquestras sinfônicas e universidades do mundo seja habitado apenas por gente que come McDonald's e freqüenta shoppings o tempo inteiro.
E por falar em referendo, uma frase de Lippmann pode explicar porque muita gente votou no Não mesmo sendo a favor da paz, do desarmamento: é que elas têm de viver em um mundo mais complexo do que gostariam de viver. E devem ter se ressentido de pregações morais a favor do Sim que ignoraram estas complexidades. OU, segundo as palavras de Lippmann: "A preparação dos caracteres para todas as situações em que os homens talvez enfrentem é uma função da educação moral. Calaramente então, depende, para seu sucesso, da sinceridade e conhecimento no qual o ambiente externo foi explorado. Porque em um mundo falsamente concebido, nossos próprios caracteres são falsamente concebidos, e nós caímos em um engano. Desta forma, o moralista deve escolher: ou ele oferece um padrão de conduta para todas as fases da vida, não importa o quão desgostosas algumas delas possam ser, ou ele deve garantir aos seus pupilos que eles nunca serão confrontados pela situação que ele desaprova. Ou ele consegue abolir a guerra, ou ensina às pessoas como suportá-la com a maior economia psicológica possível; ou ele abole a vida econômica do homem e o alimenta com poeira e orvalho, ou ele deve investigar todas as perplexidades da vida econômica e oferecer padrões de conduta que são aplicáveis em um mundo onde nenhum homem consegue se sustentar sozinho. Mas isso é justamente o que a cultura moral predominante costuma recusar-se a fazer. Nos seus melhores aspectos é uma atitude hesitante sobre as complicações do mundo moderno. Nos seus piores, é apenas covarde".
O livro dele pode ser lido na Internet nos endereços:
http://xroads.virginia.edu/~HYPER2/Lippman/pbpnn10.txt
http://www.gutenberg.org/etext/6456
Empresário que pagou viagens de irmão de Lula já foi preso por envolvimento com narcotráfico, segundo artigo de Ronaldo Brasiliense no "Congresso em Foco", um bom site de acompanhamento do Legislativo: http://www.congressoemfoco.com.br/DetArticulistas.aspx?articulista=167&colunista=2
Em 1944, o bandleader Henry Jerome reorganizou sua orquestra. Em 1945, com ele estavam tocando no Child's Paramount Restaurant na Times Square, em New York, dois saxofonistas, , Leonard Garment and Alan Greenspan (o arranjador era Johnny Mandel). Garment abandonou a banda pouco depois, tornou-se um advogado e ficou amigo de outro jovem advogado na sua firma chamado Richard Nixon - de quem ele foi advogado mais tarde, quando Nixon foi eleito presidente. Isso foi muito antes de Jerome fazer sucesso, inclusive no Brasil, com a série Metais em Brasa. Passei a noite atrás de um download de uma música que reunisse os quatro; não consegui nada, fracasso total.
Domingo, comer fora, vamos ao shopping que já foi o Outlet e cujo nome não me lembro, em Botafogo, no Joe e Leo´s. Falta vaga para os carros. As lojas estão cheias. Muita gente para pouco lugar. No domingo, no Rio, tudo parece lotado. Parece existir um maior número de pessoas disposto a gastar dinheiro na cidade do que um número de pessoas disposto a oferecer chances de estas pessoas gastarem o seu dinheiro.

Arpad Szenes teve de se exilar no Brasil durante a II Guerra Mundial com sua mulher, a pintora portuguesa Vieira da Silva. Para sobreviver, os dois tiveram de dar um tempo na experimentação abstrata e pintar figurinhas que os seus compradores aqui entendessem. O desenho ao lado é de uma foto dele em um catálogo de uma exposição da produção de ambos, montada há uns três anos, acho, na Casa França Brasil.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Ben Bernanke vai substituir Alan Greenspan no Fed. No site dele em Princeton, http://www.princeton.edu/~bernanke/index.htm, você vê os livros que ele lançou sobre a grande depressão e metas de inflação, e alguns de seus últimos textos, que respondem a perguntas como "devem Bancos Centrais responder a movimentos nos preços dos ativos"? O mail dele, por enquanto, é bernanke@princeton.edu
O Tim Festival é bom para estrear roupa nova. Mas quer ouvir experimentação musical? Tente ir ao antigo Cine Ricamar, em Copacabana, na quarta-feira, às 19 horas (hoje o lugar se chama sala Baden Powell). Vai ter a apresentação da música experimental, feita com o apoio de luzes, de L.C. Csekö , Lucila Tragtenberg (voz), Sarah Cohen (piano), Aloysio Neves (guitarra), Joaquim Abreu (percussão) e L.C. Barbieri (violão). Ingressos entre 10 e 5 pratas.

domingo, outubro 23, 2005



Um dos mais simples desenhos que já fiz; e talvez o que eu mais goste

Outro da série "desenhos no sirvissu". Sabe-se lá porque eu o desenhei na borda de um papel, bem no canto.
"Sou da opinião dos que crêem que os povos da Germânia não se alteraram por casamentos com nenhuma outra nação e que são uma raça singular, genuína e semelhante só a si mesma", escreveu Tácito, historiador romano. Por essas e outras frases Goering chegou a mandar um destacamento das SS só para procurar o mais antigo manuscruito de Germânia, escrito em 98 Depois de Cristo. Uns 700 anos mais tarde, a expansão muçulmana na Europa foi interrompida em Poitiers porque os cavaleiros muçulmanos ficaram preocupados com quem estava tomando conta do lôja - um boato de que o botim de seus saques no acampamento na retaguarda os desorganizou e eles perderam a luta, segundo um cronista árabe. E os árabes foram importantes para o humor judeu, ou pelo menos para o humor do rudito judeu convertido chamado Petrus Alphonsus que se baseou nas histórias dos muçulmanos para criar As Piadas do Preto Maimundo - uma espécie de antepassado medieval de Pedro Malazartes, Zé Grilo e Didi Mocó. Todos estes textos medievais ou romanos podem ser lidos em português num site de um professor de história medieval. O endereço: http://www.ricardocosta.com/
Em 1970, Milton Friedman escreveu um artigo famoso no New York Times pregando que a responsabilidade social das empresas é aumentar seus lucro. Com o artigo, ele tentava espanar toda uma conversa que começava a se espalhar no mundo dos negócios americanos sobre "consciência social" dos negócios e coisas parecidas, que, para ele, so atrapalhariam as pessoas a trabalhar e trariam mais prejuízos à sociedade.
Depois de 35 anos, Friedman foi contestado em um debate publicado na revista Reason por um capitalista orgulhoso: John Mackey, fundador e CEO da Whole Foods, a rede líder mundial de vendas de alimentos orgânicos e naturais. Mesmo dizendo que o Nobel de Economia Friedman é um de seus heróis, e citando economistas da escola liberal como Ludwig von Mises, Mackey argumenta no debate que a preocupação de uma empresa com sua comunidade é uma necessidade para o negócio. Friedman replica, em seu artigo, que os que os separa mais é uma questão de semântica; na verdade, ambos pensariam a mesma coisa, e o economista só não quer que alguém determine a uma empresa o que fazer, se não forem seus acionistas ou dirigentes. Resposta mais dura deu o CEO da Cypress, uma fabricante de semicondutores, T. J. Rodgers, no debate. As idéias de Mackey tornam-o um egoísta insensível, diz Rodgers, mas seu negócio ajudou muita gente ao modernizar as comunicações e diminuir a necessidade de papel das empresas. Mackey concorda com isso - mas também dá uma resposta dura à crítica feita por Rodgers de que ele parece mais um marxista do que um liberal: "Cypress Semiconductores lutou para ser lucrativa por muitos anos, e s balanço mostra dividendos negativos de mais de US$ 408 milhões. Isso significa que em sua inteira história de 23 anos, Cypress perdeu mais dinheiro para seus investidores do que o ganhou. Ao invés de chamar minha filosofia de negócios de marxista, talvez seja tempo para Rodgers de repensar a sua própria".
O debate todo está em http://www.reason.com/0510/fe.mf.rethinking.shtml

sábado, outubro 22, 2005


Uma das distrações no meu trabalho é desenhar fotos de jornal que ficam expostos durante uma reunião matinal. Foi de uma destas fotos que eu fiz este desenho da Sally Química. Alguém se lembra dela? O olhar, o rosto que parece querer sorrir mas se mantém sério, me chamou a atenção desta mulher acusada de ter inventado as armas químicas usadas por Saddam Hussein.

William Claxton é um grande fotógrafo de músicos de jazz. De vez em quando, me baseio em algumas de suas fotos, de um livro que ganhei, para exercitar o desenho. Depois, passo o desenho no scanner e mudo algumas de suas características. Neste desenho aqui, por exemplo, mudei a transparência do papel. Daí a aparência de bruma.
A 7 de junho de 1885, o britânico William John Steains partiu do Rio de Janeiro para uma exploração do Vale do Rio Doce. Encontrou sobreviventes de uma colônia de norte-americanos sulistas que deixaram os EUA após a Guerra Civil esperando fundar uma nova civilzação mas foram vencidos pela natureza hostil e os índios da região. Conversou com um matuto que lhe contou que quando fosse à capital do Império queria ter uma conversinha com o tal "governo", porque ele estava muito relapso - como se governo fosse uma pessoa, não uma instituição. Ouviu histórias de como uma colônia foi destruída pelos índios botocudos, após o assassinato do capataz. Depois de oito meses de viagem, constatou que o vale era "uma grande lacuna no edifício de civilização que, nos últimos 370 anos, se vem lentamente erigindo ao longo das 4.900 milhas de litoral brasileiro" em uma conferência na Royal Geographic Society, em Londres,, em 1988. O texto foi traduzido pelo escritor capixaba Reinaldo Santos Neves e pode ser encontrado neste site: http://www.estacaocapixaba.com.br/
Shirley Horn morreu aos 71 anos. Começou como pianista e cantora, ajudada por Miles Davis. Quer saber se perdemos algo? Ouça as músicas dela aqui: http://www.mp3.com/albums/55832/summary.html
Difícil consenso com Fidel
Muito se fala agora na difícil tarefa de refundar a esquerda. Ela é muito mais difícil quando você vive em uma ditadura de esquerda. Quem quer saber o quanto, pode acessar a revista Consenso pela Internet. Ela é feita por um grupo de esquerda cubano que clama pelas liberdades mais óbvias e alerta que a política da fome da ditadura de Fidel Castro a longo prazo só joga mais ainda o país nos braços dos EUA e dos exilados cubanos (que mantêm a economia mandando para lá o dinheiro que ganham no cruel capitalismo). O número novo da revista atrasou um pouquinho, por causa de ameaças e outros tipo de perseguição que serviçais do regime de Castro usaram contra os editores.
Os textos são longos, longuíssimos para o padrão usado no jornalismo hoje. O que talvez seja um reflexo da falta de liberdade de expressão. Lembro como na infância lia jornais alternativos que tinham textos enormes falando sobre tudo, querendo tentar resolver o mundo ao ouvir o novo disco do Paul McCartney ou analisando uma peça de Plínio Marcos. E gostava, aliás, para quem acha que em tese temos de conquistar mentes jovens com muita imagem e pouco texto.
O site da revista é http://www.consenso.org/
Saiu o terceiro número da revista F. Humor, que realmente é muito divertida. As regras do churrasco por Allan Sieber são muito boas, Arnaldo Branco é ótimo, etc. Mas a história "Hermano Gonzalez: Mano de Fé" chama muito a atenção pelas suas características plásticas. O desenho é extremamente simples, as cores são chapadas. Mas tudo muito bem distribuído em cada um dos quadros, o resultado é, sem querer ofender o autor, muito bonito. O endereço do site da revista é http://www.fhumor.com.br/
O referendo das armas levou a discussões sobre muito mais coisas do que votar sim ou não. Mostrou que os artistas não são mais garotos-propaganda eficientes em campanhas políticas. Que as estatísticas estão perdendo a aura de escritura sagrada que tinham até anos atrás. Um subproduto do fim do comunismo e do fracasso dos planejamentos econômicos, planos qüinqüenais, programas governamentais para regular as nossas vidas? Pode ser que sim. E um alerta para quem gosta de comemorar muito subidas de 3% no PIB em um trimestre, por exemplo. Se nos trezentos trimestres anteriores tivessem havido sempre altas, seria para comemorar. Mas depois de crises e depressões, isso é apenas a tentativa de recuperação de um tempo que já foi perdido; o recém-formado em administração já foi para os EUA lavar pratos e conseguiu ganhar a vida. A pequena confecção já faliu. O projeto informática já foi tolhido porque uma placa de chip teve sua importação proibida por ser de "segurança nacional".
Esse tempo perdido pode ter levado ao fato que considero realmente novo nesta campanha do referendo: se o Não ganhar, terá sido esta a primeira vez em que a maioria dos eleitores foi conquistada pela idéia de que o governo NÃO DEVE FAZER ALGO. Em todas as outras campanhas políticas que eu me lembre de ter visto, os candidatos e partidos sempre prometiam que com eles no poder o estado iria dar alguma coisa: saúde, segurança, educação. Depois de anos não dando isso aos pagadores de impostos, que também têm de pagar plano de saúde privado, plano de previdência privada, escola particular, o truque aparentemente cansou. Se for isso verdade, um muro de Berlim caiu da frente dos nossos olhos. E futuros marqueteiros e políticos podiam começar a levar isso em conta em suas campanhas em 2006. Aquele candidato que prometer deixar as pessoas livres para viverem sua vida, menos impostos, seguir a frase de Calvin Coolidge, para quem "o governo não deve evitar o trabalho duro" poderia ter grandes chances.
E em caso de a vitória do Não ter sido mesmo calcada nesta idéia, é bom que os seus divulgadores, a Frente da Legítima Defesa, lembrem-se disso no caso de quererem lançar idéias como a pena de morte no Brasil. Se houvesse um referendo sobre isso, o resultado iria ser um NÃO maior ainda. Se você quer saber o porquê, vá a algum fórum. Tente conseguir alguma informação lá. A idéia de que aquilo tenha capacidade de decidir com isenção se alguém é culpado ou inocente e pode morrer ou não é simplesmente inacreditável depois de um passeio destes.