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quarta-feira, dezembro 28, 2005

Crash à moda dos descolados

"Essa história é muito legal, heim?", disse eu. "Isso é mais velho do que minha avó", falou a minha interlocutora. E pimba, eu tinha perdido um duelo de descolação. E perdi por distração: a história era bem chata, mas eu não quis mostrar desinteresse e... acabei batido na arena desta forma comum de interação social.
Vocês sabem como isso funciona, não? Vários eventos sociais são na verdade ringues furiosos de duelos de descolação em que não saber algo que todo descolado tem de saber pode resultar em dor, humilhação, opróbrio e degredo para a África. Como por exemplo: você vai num, num... vernissage. Chega, engole o salgadinho frio, rouba uma taça de Almadém do garçom que passa a bombordo tentando fingir que não lhe viu. E diz "oi" para um conhecido mas que não chega a ser amigo, alguém que alguém te apresentou em outro convescote. Não tem mais ninguém que você ou a pessoa conheçam por perto, para poderem fugir.
E assim, um fica testando o outro para ver se vale a pena perder tempo conversando com ele. O que valeria por dois motivos: a) a pessoa ser bem relacionada ou b) você poder impressionar a pessoa, fazer dela a platéia, torná-la a multidão de um só que vai render-se à sua genialidade. E assim - vapt - em dois segundos você se enfiou num Duelo de Descolação. Que começa com uma porção de citações de livros, filmes e músicas da moda, mas em relação a detalhes que só descolados saberiam. Como dizer "o pai da MIA já morou na Mangueira, foi assim que ela conheceu o funk carioca" ou coisa parecida.
Mas o golpe muito usado, por ser o mais fatal, garantir uma vitória rápida e sangrenta, é um dos dialogantes citar alguma celebridade pelo prenome, para provocar a pergunta "quem?" do oponente e aí sim, declinar o nome inteiro da pessoa, com uma expressão de contido horror, por ter de fazer uma coisa tão empregadinha como dizer o nome inteiro de um famoso, só porque o botocudo analfabeto - com quem você está fazendo um trabalho de responsabilidade social de conversar na vernissage, quando poderia estar conversando com gente muito mais interessante - não tem intimidade com essa pessoa. Afinal de contas, ele NÃO É UM DESCOLADO.
Um exemplo prático? Dizer, por exemplo, "ontem o Luiz Fernando me contou..." e o oponente pergunta: "Luiz Fernando?". "Carvalho", responde o interlocutor. NOCAUTE, SENHORES TELESPECTADORES, FOI INCRÍVEL!!!! O INTERLOCUTOR NÃO SABE QUE SE UM DESCOLADO FALA "LUIZ FERNANDO", SÓ PODE SER O DIRETOR DE "HOJE É DIA DE MARIA" E "LAVOURA ARCAICA", UM CINEASTA QUE DESLOCA A NARRATIVA USANDO O CHIAROSCURO DE CARAVAGGIO E MESTRES BARROCOS PARA REPENSAR A CULTURA BRASILEIRA!!! AGORA ELE VAI TER DE SAIR CABISBAIXO DA GALERIA ONDE UMA NOVA REVELAÇÃO DO CURSO DE MESTRADO DA UFRJ APRESENTA SUA INSTALAÇÃO BASEADA EM PRESERVATIVOS E ABSORVENTES USADOS COMO FORMA DE REFLEXÃO SOBRE AS RELAÇÕES SOCIAIS MEDIADAS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA!!! E VAI TER DE IR COMER UM PODRÃO NA CARROCINHA DA ESQUINA, PORQUE É O MÁXIMO QUE SUA PARCA CULTURA, SUA IGNORÂNCIA DE QUE "LUIZ FERNANDO" É "LUIZ FERNANDO CARVALHO", LHE PERMITE!!!!
Tem gente que eu conheço que prefere isso a sexo, juro.

segunda-feira, dezembro 26, 2005



Desenho em nanquin de Miles Davis, baseado na fodo da capa do meu álbum favorito dele, "A Kind of Blue".

Cola

Esse texto abaixo é todo copiado de um outro blog. Fiz isso porque a) ele fala de um estudo de um amigo meu e b) é uma boa dica de blog para quem quer pesquisar mais histórias em quadrinhos. O endereço do blog é http://cabruuum.blogspot.com/


Domingo, Dezembro 11, 2005

Peter Parker não tem diploma!
Você já se deu conta que o Homem-Aranha , o Super-Homem e o Tintin são jornalistas ? E que boa parte do enredo dessas histórias gira em torno do jornalismo, da rotina de redação?Tem mais: que praticamente não há jornal no mundo que não publique charges e/ou tiras?E que a expressão "jornalismo amarelo" (que, no jargão (não-)profissional, quer dizer jornalismo sensacionalista), surge com o personagem de HQ Yellow Kid, desenhado por Richard Outcalt para o New York World no fim do século XIX?Hein? Você sabia?Pois bem. Esse é o mínimo que você vai tirar da leitura do artigo Quadrinhos e jornal: uma correspondência biunívoca. Quem escreveu foi o mestrando em comunicação pela ECO/UFRJ Antônio Aristides Corrêa Dutra.O texto mostra como essa ligação entre quadrinhos e jornalismo é antiga. Remonta, pelo menos, ao século XIX. E que, por isso, não é de se esperar que hoje haja um incipiente Jornalismo em Quadrinhos, encabeçado por jornalistas-quadrinistas como Joe Sacco, Art Spielgeman e Robert Crumb, dentre outros.Vale a pena ler o artigo de cabo a rabo. Cutuque aqui!

domingo, dezembro 25, 2005


Esse desenho de Phillip Roth foi feito com pastel, caneta esferográfica e... sei lá mais o quê, em uma folha que dobrou levemente no lado esquerdo superior, quando a pus no scanner. O rosto ficou meio assustador, com a boca para um lado e o nariz para o outro? É por isso que eu gostei dele.

terça-feira, dezembro 13, 2005

O sucesso do fracasso

Toby Young é um péssimo jornalista que fez uma série de trapalhadas inclusive no seu período na "Variety". Mas é um péssimo jornalista inglês, o que significa bem educado, e ainda por cima, filho do escritor socialista Michael Young, que inventou o termo "meritocracia" - que nasceu como uma crítica, aliás: Michael achava que a meritocracia, um sistema no qual as pessoas têm a ilusão de que são ricas e bem-sucedidas por seus próprios méritos, inferior à aristocracia, onde pelo menos os nobres tinham alguns laços de compromissos com as outras classes, porque eles sabiam que sua riqueza devia-se a um acidente de nascimento.
Ele usou este background para se vingar da "Variety " em um livro chamado "Como fazer inimigos e alienar pessoas", lançado no Brasil como se fosse um compêndio de fofocas sobre celebridades e o mundo de vaidade da Condé Nast. Era tudo isso sim, mas tudo isso interpretado pela ótica de quem leu Tocqueville, Jane Austen e tinha muito humor para lembrar as próprias falhas em tentar impressionar como "jornalista britânico por dentro da moda".
Assim, ele usou sua experiência com o mundo das celebridades para constatar como diverssas profecias de Tocqueville sobre a democracia americana tornaram-se realidade, tal qual o risco de o regime virar uma espécie de "despotismo brando". E demonstra como, na verdade, após a revolução sexual e o maior acesso das mulheres ao mercado de trabalho, pelo menos na editora Condé Nast, que publica a Variety, as mulheres continuam como as mulheres retratadas nos romances britânicos do século XIX - sempre desesperadas atrás de um casamento arranjado com um marido rico.
Graças ao sucesso do livro, Toby engatou uma carreira como escritor que agora pode lhe render um prêmio teatral por sua parceria com Lloyd Evans na comédia "Who's the Daddy?". E ele tem um site em que goza a tudo e a todos, inclusive ele próprio (uma charge mostra-o em uam festa na qual uma moça diz "então você é o Toby Young sobre o qual você escreve tanto!"). E dá uma lista dos dez piores restaurantes de Londres que usa bons critérios para se julgar a real validade de alguns serviços de restaurantes caros, enquanto chama um deles, italiano, de "caixão de Liberace" ou "roupa de baixo de Donatella Versace", chama o serviço do Cipriani de "cavalgada de incompetência", etc. O endereço é http://www.tobyyoung.co.uk/

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Os segredos da culinária de Samuel Beckett

Estragon e Vladimir participam de um programa de culinária. Os robôs R2D2 e C3PO, da saga de "Guerra nas Estrelas", travam um diálogo à la David Mamet - cheio de interrupções, repetições, constatações óbvias. George Constanza, de "Seinfeld", torna-se personagem de Eurípides. O poeta Bashô termina um hai-kai com a palavra "motherfucker". Tudo obra, na verdade, de Francis Heaney, um ex-elaborador de palavras cruzadas de jornal que inventou a mais delirante sátira literária: a partir de anagramas de nomes de escritores famosos, ele cria poesias, peças teatrais e contos que imitam o estilo destes autores. Assim, temos "Toilets", poema de T. S. Eliot sobre o vazio da vida e a ida ao banheiro; o velho marinheiro de Samuel Taylor Coleridge toma drogas pesadas e vê um mar de argila multicolorida ("Multicolored Argyle Sea"); um diálogo entre um cobrador de impostos e um contribuinte é recheado de epigramas de Oscar Wilde, como "É fácil ser generoso quando se espera perder uma grande quantidade de dinheiro" em "Irs Law Code". O livro pode ser comprado pela Internet, com ilustrações, etc. Ou lido no endereço http://www.yarnivore.com/francis/Holy_Tango.htm. O título dele é "Holy Tango" - um anagrama para "Anthology".

terça-feira, dezembro 06, 2005

Oximoro marqueteiro

A última dos marqueteiros é um treco chamado "marketing de guerrilha", que provocou uma reação de guerra contra o Play Station Portable da Sony. Segundo o site Blue Bues, "Uma campanha de marketing de guerrilha usando grafites em muros para promover o PlayStation Portable está sendo criticada na internet, em blogs, e também nas ruas por alguns integrantes de seu publico alvo, os jovens urbanos. Os desenhos, feitos com spray e vistos em varias cidades americanas, mostram crianças interagindo com o videogame de diversas maneiras, como se ele fosse um skate ou um boneco, por exemplo. Nao mostram a marca da Sony nem do PSP, na intençao de sugerir que os desenhos seriam trabalho de grafiteiros. As criticas feitas a campanha dizem que ela tenta se apropriar da arte de rua. Em Sao Francisco, alguns desenhos foram pichados e ganharam a companhia de palavroes e frases de protesto como 'Saia da minha cidade'". Mais notícias em http://www.bluebus.com.br/show.php?p=1&id=65620

sábado, dezembro 03, 2005

Notícias da Ilha Perdida

O pau comeu de novo em Cuba para os opositores de Fidel. Ontem, o Consenso Democrático, movimento que pede mais liberdade política na ilha, denunciou que na semapa que passou, na sede da revista Consenso, editada pelo grupo, por volta das 8 da noite, Leonardo Calvo foi agredido e ameaçado por um grupo de pessoas da chamada "brigada de resposta rápida" - um dos esquadrões governamentais resultantes da estatização das gangues juvenis por Fidel. Calvo foi atacado quando tentava ir embora do apartamento de Marta Cortizas e Eugenio Leal, integrantes do Conselho de Redação da revista. A "brigada" já havia durante oito dias mantido uma guarda para impedir que Calvo e outros integrantes da revista entrassem no apartamento do casal, usando a violência. "Nesta nova edição da Batalha das Idéias", diz o comunicado do Consenso, em um humor admirável para quem sofre o que eles sofrem, "a Manuel Costa rasgaram a camisa e Eugênio Leal, coordenador da Rede de Cidadãos por uma Mudança Tranqüila, foi golpeado no rosto".
Depois disso, não restou aos integrantes de Consenso chamar a polícia para tentar garantir o direito de ir e vir. A polícia chegou e atuou como se espera em uma ditadura totalitária: deteve Calvo, Cuesta e Eugênio Leal, por respectivamente 4, 5 e 6 horas. Foram liberados depois de serem autuados com uma advertência por "escândalo em via pública" e multados em 30 pesos.