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sábado, dezembro 16, 2006

Uma nova tradição inglesa

Saiu no começo de dezembro o número da "Legal Business", uma revista direcionada para os advogados da City londrina, a brincadeira de fim de ano da publicação que já se tornou uma tradição para que os causídicos dos principais escritórios da cidade avaliem o quanto estão por dentro das fofocas do meio. A revista publica um questionário para saber se o leitor sabe quem protagonizou alguns dos vexames ou ousadias - principalmente sexuais - mais escandalosas durante o ano.
As respostas não são publicadas: o objetivo é testar seu nível de... insiderness? dos 25 mil assinantes da revista. E principalmente dos funcionários do chamado "círculo mágico", que é o apelido das cinco principais firmas de direito que existem em Londres: Allen & Overy, Clifford Chance, Freshfields Bruckhaus Deringer, Linklaters and Slaughter and May.
Se o adêvogado não sabe as respostas, ele está sendo preterido na conversa do cafezinho e nas noitadas pós-trabalho. Mas isso é melhor do que ler a revista e descobrir que aquela sua indiscrição numa festa de escritório foi muito mais indiscreta do que você pensava, e está publicada em detalhes na "Legal Business". Se está lá, mais gente sabe. "Será um alívio para a rainha saber que seus advogados, da Farrer and Co, não estão incluídos (na história)", comentou o jornal "The Times". As perguntas publicadas mostram o quão animado é o mundo advocatício londrino:

1. Qual sócio de uma firma de advocacia escocesa surpreendeu uma assistente confensando qeu ele gosta de se vestir de mulher e tem um fetiche por látex, antes de perguntá-la se ela não leria para ele histórias de Jackanory uma noite? (NOTA DO TRADUTOR: Jackanory é o nome de um programa de TV infantil na Inglaterra onde uma celebridade lê histórias).

2. Qual ex-chefe de uma sucursal de uma firma do Círculo Mágico em Moscou certa vez foi requisitado para negociar uma revisão de aluguel no condomínio onde ficava o escritório sob a mira de um revólver?


3. Qual sócio de uma das firmas do Círculo Mágico teve a sua entrada na sociedade adiada por um ano depois de ter sido apanhado transando com uma cliente?

4. Qual firma fora de Londres tem um sócio e uma secretária conhecidos por fornicar na mesa de trabalho, na cama de casal e em um banheiro de um nightclub, e também são chegados nuns "doggers"? (O "Times" explica: "Dogging'' é fazer sexo em lugares públicos como estacionamentos, ou ficar olhando alguém fazer isso.

5. Qual sócia de um escritório da City já teve de ser retirada de uma alcova de uma prostituta por seu ex-sócio sênior, durante uma noitada depois do trabalho?

6. Qual grande firma em Londres deu uma festa para um cliente que terminou com uma trainee e uma de suas advogadas se agarrando na frente do marido da advogada?

7. Qual sócio de uma das grandes firmas de Londres ganhou, na sua festa de 40 anos a visita de uma stripper travesti?

8. Qual advogado foi expulso de casa depois de engravidar a "au pair" (estudante que mora em um lugar em troca de fazer os serviços caseiros) polonesa?

E por aí vai.

segunda-feira, novembro 06, 2006

fogo amigo

"Neo culpa" é o nome do artigo da Vanity Fair que acaba de sair em que diversos neoconservadores que fizeram parte da administração de George W. Bush criticam acidamente o ex-chefe e sua política no Iraque. Eles sustentam que os motivos que levaram à invasão - a capacidade do neo-condenado Saddam Husseim produzir e distribuir a terroristas armas de destruição em massa - eram sólidos e existentes. E apontam várias causas internas para explicar o quê deu errado: falta de coesão na equipe, falta de poder de decisão de quem devia decidir - no caso, o presidente - preguiça, falta de sinceridade nos objetivos defendidos, e por aí vai. O que, curiosamente, são defeitos apontados costumeiramente por funcionários de colarinho branco de grandes empresas e corporações. Ou seja, o problema é o espírito da época, da era Dilbert.

sexta-feira, novembro 03, 2006

coisas para se fazer na Presidência da República quando você não está morto

Suponhamos que você seja o presidente da República de um país onde os controladores de vôo entrem em greve. Você tem várias opções de medidas para tomar. Uma delas pode ser até descansar na Bahia. Ronald Reagan escolheu aproveitar a greve para mostrar o que é ser um presidente da República.
Em 31 de agosto de 1981, cerca de 13 mil controladores de vôo, dos 17,5 mil que eram da Organização Profissional de Controladores do Pacto Aéreo (PATCO), cruzaram os braços. Era verão nos EUA; época de muitas viagens, e a intenção dos controladores de vôo era exatamente provocar o caos nos aeroportos para ter suas reivindicações atendidas. Que eram salários mais altos, menos dias de trabalho por semana, e uma aposentadoria mais cedo, aos 20 anos de serviço, com o argumento de que a profissão é uma das mais estressantes do mundo (e é mesmo; jornalistas e socorristas de ambulância também sofrem o mesmo nível de estresse, aliás). No mesmo dia, Reagan, que não estava descansando na praia, avisou: ou eles voltavam a trabalhar em 48 horas ou iriam ser punidos. Uma lei de 1955 instituía até cadeia para funcionários federais nos EUA - nada tão duro como o massacre dos grevistas, que Trotski praticou contra marinheiros de uma base russa, mas para padrões ocidentais, uma medida bem dura. Mesmo assim, a lei não "havia pegado" em anos anteriores, e não impediu 22 greves de funcionários neste período, inclusive dos controladores em 1969 e 1970.
Reagan viu nesta crise uma oportunidade -a de mostrar para o país que era um presidente mais presidencial do que o antecessor Jimmy Carter, que hoje tem a imagem de humanitário mas saiu com fama de bunda-mole por tentar contentar a todos e não satisfazer a ninguém. O plano de emergência da agência federal de aviação (FAA) botou cerca de 3 mil supervisores ao lado de 2 mil controladores de vôo que não aderiram à greve, mais 900 controladores de vôo das forças armadas para segurar o intenso tráfego aéreo americano. Isso significou a redução do número de vôos e até o fechamento de pequenos aeroportos. Os líderes da PATCO previram acidentes e o caos por causa do plano - o que não aconteceu. Cerca de 80% dos vôos marcados, durante a greve, saíram do ar na hora prevista.
A escola de treinamento de controladores da FAA em Oklahoma City abriu vagas para treinar novos profissionais, num curso que duraria de 17 a 20 semanas - e apareceu o quádruplo de candidatos suficientes para preencher as vagas. Todos de olho nos salários dos controladores, que já eram altos, e não se importando muito com o estresse.
Esses altos salários, mais a interpretação de que os controladores estavam se lixando para o resto do mundo, fez com que a população ficasse do lado do governo, e não dos grevistas. Houve alguma tentativa de solidariedade de controladores de vôo de outros países (os do Canadá e Portugal boicotaram por dois dias vôos dos EUA, mas foi só) e protestos de outros líderes sindicais, mas mais porque estes viram no que daria o fracasso da greve - a diminuição do poder político dos sindicatos. Pilotos e mecânicos de avião, chamados para aderir à paralisação, continuaram trabalhando, apesar do apelo do presidente da AFL-CIO, Lane Kirkland, de que Reagan estava fazendo um "massacre" na repressão aos controladores parados.
Não chegou a ser como Trotsky gostaria, mas foi realmente um massacre. Líderes da PATCO foram para a cadeia, porque o governo resolveu cumprir a tal lei de 1955. O Departamento de Justiça indiciou 75 controladores de vôo. Juízes federais (lá não tem justiça do trabalho) determinaram multas contra a PATCO que chegaram a U$ 1 milhão por dia parado. Mais de 11 mil controladores foram demitidos no dia 5 de agosto de 1981 - ou seja, Reagan prometeu e cumpriu - e 1,2 mil largaram a paralisação depois de uma semana. Em outubro, a Agência Federal de Relações de Trabalho tirou o certificado de funcionamento da PATCO.
A dureza continuou: dois meses depois do fim oficial da greve, em novembro de 1982, um comitê do congresso recomendou a recontratação de alguns dos grevistas, dizendo que os EUA tinham apenas dois terços do número destes profissionais necessários para a completa segurança dos vôos no país. O secretário de transportes Drew Lewis, que havia treinado secretamente os substitutos dos grevistas, durante as negociações no primeiro semestre de 1981, cortou logo a conversa e nem quis receber Robert Polit, líder da PATCO. Dois anos depois, mesmo com 20% a menos de controladores em relação aos anos anteriores à greve, o tráfego aéreo tinha crescido 6% sem problemas.
E Reagan? O primeiro presidente eleito a ser sindicalizado da AFL-CIO também se tornou o primeiro presidente a derrubar o movimento sindical em 60 anos -e saiu daí com a imagem de líder necessária para passar outras mudanças e reformas que reergueram a economia americana e o fizeram se reeleger e eleger seu vice como sucessor. "Eu apoiei sindicatos e os direitos dos trabalhadores para se organizar e negociar coletivamente em toda a minha vida, mas nenhum presidente pode tolerar uma greve ilegal de funcionários federais", ensinou este presidente em suas memórias. Mas nem todo presidente gosta de ser presidente, só gosta de ser eleito presidente.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Mais da Mirage Pop


Reflexo de uma forma de cálice no chão da Igreja de Santana.

Reflexo no chão


Reflexo de poça na esquina da Frei Caneca com a Rua de Santana. Esqueci de dizer: meu interesse é tirar fotos com o mais antiquado tipo de filme - preto-e-branco - e com a mais vagabunda das câmeras - uma Mirage Pop de foco fixo que sai por 20 paus nas boas lojas do ramo - e ver até onde eu posso ir com essa privação de meios. As fotos abaixo também foram tiradas pela Mirage Pop.

sábado, agosto 26, 2006

O poente



Pôr-do-sol é que nem pobre: sempre dá foto boa. Esse ocaso foi tirado na Glória, na saída do MAM.

uma ida ao teatro


Desenhei essa moça enquanto estava na fila de um teatro. De uma peça "experimental", chata pracas. Ela estava na fila com a irmã gêmea e se moveu menos do que a irmã - por isso desenhei só uma.

domingo, julho 02, 2006

Colonia de Sacramento

Vista do Rio da Prata da doca de Colônia de Sacramento, do lado uruguaio. Tirada nas férias. A parte histórica deve ter uns duzentos metros. Os portugueses a trocaram para os espanhóis em troca de toda a área das missões jesuíticas - o Paraguai, um pouquinho do Brasil, da Argentina, etc. Mas com ela, a Espanha passou a poder vigiar os dois lados do Rio, principal porta de entrada para o centro do continente.

segunda-feira, junho 26, 2006


Quando faço algum passeio sozinho, gosto de levar um caderno de esboços para fazer desenhos, é o que consegue me relaxar mais completamente hoje em dia. Os desenhos abaixo foram feitos durante uma viagem a Niterói, para uma exposição no MAC. Foi um passeio de barca em um dia em que a havia uma regata na Baía de Guanabara. A regata rendeu dois desenhos, um dos quais está mais abaixo. Este ficou o melhor, com dois barcos diante das pedras do Morro da Urca.

sombras


Pessoas esperando a barca para o Rio.

De volta ao Rio



Na volta de Niterói, consegui desenhar com alguma precisão um paquete que circulava perto da barca e um sujeito sentado no cais, tentando criar alguma graduação nos tons escuros da pele, do rosto encoberto pelo boné e a bolsa que ele segurava. Do tamanho que tá o desenho, acho que fracassei. Mas para um caderno de esboços até que tá bom

Na barca



Desenhos feitos na saída da barca para Niterói, num dia de visita ao MAC. Uma regata era realizada no mesmo dia. A garotinha esboçada na mesma página ficou boa parte da viagem com a cara na janela, olhando a regata.

domingo, junho 18, 2006

Qual o melhor regime para se ganhar a Copa?

Uma das formas favoritas dos locutores de futebol de encher lingüiça é citando estatísticas de jogo - quantas bolas foram chutadas à trave, quantos ataques foram "finalizados", quantos escanteios cada time bateu, etc. Talvez isso tenha se popularizado com as idéias de Valery Lebanovsky, técnico ucraniano que, nas décadas de 70 e 80, acreditava em medir, contar, cruzar dados de jogadas dos jogadores para poder, a partir delas, melhorar suas performances - uma transposição para o futebol dos métodos de administração socialistas que não levava em conta que o futebol é o mais imprevisível dos esportes - como sabe qualquer um que já tenha acompanhado um jogo em que uma equipe dá várias bolas na trave, chega tantas vezes à linha de fundo, mas o único gol do jogo sai do único ataque do adversário.
Lebanovsky foi lembrado por um sujeito chamado Franklin Foer em um artigo da New Republic na qual Foer tenta responder qual o melhor regime político para um país ganhar a Copa do Mundo. Ele lebanoviscou uma série de dados históricos e reparou o seguinte: regimes comunistas produziram bons times - mas nenhum jamais ganhou a Copa do Mundo. O fascismo, em compensação, bateu um bolão nos anos 30 - a Itália ganhou duas copas, a Alemanha ficou em terceiro na Copa de 34 e o Brasil, em terceiro, em 38 (Foer não tem problemas em chamar o Estado Novo de Vargas daquilo que ele realmente foi). A causa, ele arrisca, deve ser pelo fato de o fascismo ser um regime que exige fidelidade extrema à pátria acima de tudo, especialmente quando ela está de chuteiras, incentivar os esportes e a higiene, gerando um bom ambiente para a criação de atletas, e também criar um medo de perder. "Quem vai querer decepcionar um líder que pode mandar quebrar suas pernas e aprisionar sua avó?", resume.
Mas países prestes a cometerem genocídios tiveram desempenhos pífios, muito pífios, como a Alemanha em 1938, que perdeu todas, e a Iugoslávia em 1990, anotou Foer. Para convencer alguém motivado por ódio racial ou de classe a não sair matando cegamente, talvez este argumento seja mais convincente do que "só a paz constrói" ou similares.
Ditaduras militares conseguiram bons resultados, caso do Brasil em 1970 e da Argentina em 1978, admite Foer. Mas isso não é uma regra, se lembrarmos participações vexaminosas de outras seleções governadas por este mesmo tipo de regime, ele ressalva. O melhor, segundo as estatísticas dele, são os governos sociais-democratas - e que tenham uma economia industrial forte. Somente uma economia industrial forte gera um proletariado que fornece craques de futebol e dinheiro para financiar campeonatos onde eles possam se desenvolver. Além do mais, a social-democracia deixa espaço para a coexistência do individualismo e da solidariedade - ou seja, cria o clima necessário para uma equipe integrada e com craques que desequilibram um jogo, de acordo com Foer.
O artigo está em http://www.canada.com/components/print.aspx?id=00e55e55-44af-4a6c-9b9d-5f175b69c430. Mas ele é um resumo do que Foer escreveu em "The Thinking Fan's Guide to the World Cup".

segunda-feira, junho 12, 2006

o passado que condena

"Você estudou no Salesiano?", perguntou o caixa da padaria em que eu comprava cigarros. "Estudei", admiti, e em seguida olhei para ele apertando o olho esquerdo, como Clint Eastwood em duelo de faroeste de Sergio Leone. "Eu me lembro de você... mas não me lembro o nome...".
Ele deu o nome. É claro, como eu podia ter esquecido? Se houvesse alguém que simbolizasse não o desprezo, mas o ódio e o escárnio total a qualquer interesse por aprender alguma coisa que se ensinasse naquela escola - algo muito comum, aliás - esse era O cara. Infelizmente não viveu na Alemanha no fim dos anos 30: ninguém mais do que ele gostaria de fazer fogueiras com livros naqueles comícios nazistas - embora a cabeça chata e o cabelo carapinha preto provavelmente não fosse pegar bem. Batemos um papo rápido, ele disse que outros estudantes de lá apareciam na padaria, mas geralmente não se identificavam. Daqui a pouco ele cortou:
- Lembra dum japonês?
Eu lembro de muita coisa da escola: surra, cheiro de misto quente, máquina de coca-cola, futebol de salão mesmo depois das luzes das quadras serem apagadas, meninas louras que me trataram mal, meninas morenas a quem tratei mal, meninas morenas que tratei mal de vingança por eu tratá-las mal, a biblioteca da escola. Mas não lembrava de "um japonês".
- Era um japonês inteligente, que estudava prá caramba.
Não ajudou muito. Não, não lembrava.
Isso não o desestimulou e ele foi em frente:
- Pois é. Virou viado.
- Ahn... mas assim é a vida, né?
O subtexto do diálogo é: "tudo bem que eu não tenha aproveitado a chance de uma educação sólida e tenha acabado calculando trocos de cigarros a varejo nesta caixa de padaria. O importante é que eu não VIREI VIADO. Porque o japonês estudou e VIROU VIADO! Já pensou se eu tivesse estudado muito? Eu poderia ter ficado muito inteligente e VIRADO VIADO também, que horror, que nojo, odeio VIADO, Deus que me livre!!!"
Pensando bem, toda aquela educação não foi tão sólida assim.

quarta-feira, maio 24, 2006

Museus e propaganda

Dia de visita a museus em Buenos Aires. O Museu Histórico Nacional é escuro, com ar meio abandonado, e cheio de dólmans e armas usadas em guerras travadas pelos argentinos contra ingleses, espanhóis, índios e ingleses de novo, na Guerra das Malvinas. E quadros louvaminhas históricos: o melhor de todos é o que ilustra a primeira missa em Buenos Aires com uma índia branquela, cabelos negros cacheados, no melhor estilo índia de western dos anos 50. Outro memorável mostra o general San Martin em revista a tropas em algum lugar muy heróico de alguma campanha onde luchou-se mucho: os soldados da infantaria sao todos de face negróide ou indígena, a figura do general é decalcada de algum quadro mostrando alguma vitória de Napoleao, e ao lado dos infantes, em primeiro plano, estao duas mulheres mostrando o herói nacional para os filhos. Grande propaganda política de como o general uniu as nacoes (nao acho til nem cedilha neste teclado em que escrevo).
O Museu Nacional de Bellas Artes é bem mais fornido que o congenere brasileiro (nao acho o acento circunflexo também): tem Rembrandt, Gauguin, Cezzane, Courbet, Picasso, etc. Mas além das atraccoes mais evidentes, me chamou a atenccao um quadro mostrando um ataque de índios argentinos em um ataque. Todos sao retratados com carantonhas ameacadoras, um segura uma cruz como se fosse uma lanca, outro, um baú e um terceiro, uma mulher branca, muito branca, parecendo de mármore na comparacao com o cavaleiro que a raptou. O curioso é que uma placa ao lado diz que o quadro foi pintado em 1892 - quando os mallanes, a tribo retratada como bárbaros que vao levar o que há de mais caro na sociedade, a fé, a pureza das mulheres e a propriedade, já haviam sido dizimados na guerra movida pelo governo argentino e executada pelo general Roca. Outro quadro interessante é europeu, do século XVII: a "Luta contra a Morte", encarnada em esqueletos que disparam flechas em um grupo de pessoas onde há reis, rainhas, soldados, camponeses, padres, etc. A tela era um lembrete de que todas as classes sociais se igualavam na morte, que nao poupava ninguém - um memento mori que devia ser especialmente destinado aos monarcas como o rei e a rainha mostrados impotentes na tela.
Amanha é o Dia Nacional do Representante de Venda de Remédios ou coisa parecida aqui na Argentina, segundo o guia da "Time Out" que levo para cima e para baixo: eles superaram o Brasil, que instituiu o 28 de agosto como Dia da Sogra (se nao me falha a memória e a agenda de estudante que eu tinha que gravava todas as datas comemorativas do país). É também uma data nacional mais importante, acho que a independencia, agora eu esqueci. E Néstor Kirchner marcou uma grande manifestacao de apoio para amanha por causa disso. Acho que vou acabar indo para lá.

terça-feira, maio 23, 2006

brasileñas e brasileños

A cena foi no cemitério da Recoleta. Em frente ao túmulo de Eva Peron. Estava lá por acaso, mais por nao ter nada para fazer, mas aproveitei para desenhar umas estátuas nuns túmulos. Fui levado ao túmulo de Evita por dois casais de brasileiros que falavam alto sobre onde devia ser o túmulo ("Eu acho que é por aqui." ; " É aqui?"; "Nao, menina, é por aqui"). Cheguei com eles ao túmulo. Os casais deviam ter por volta de cinqüenta anos, aparentavam ter algum dinheiro, pelas roupas que usavam. Nada chiques, mas caras, dava para se ver na pashmina, na camurça, no lamê. O túmulo, além do epitáfio, a plaqueta dizendo quando Evita nasceu e quando morreu - 1952 - tem outras plaquetas, para lembrar os 50 anos de morte da moça, o nascimento dela, etc., com datas dos anos de 1982 ou 1997.
Foi o que bastou para fundir a cuca das representantes de nossa elite.
- Ela morreu em 1982, né?
- Nao, ela morreu em 1997. Olha lá a placa. Ela nasceu em 1952 e morreu em 1997.
- Eu acho que nao - interveio um dos maridos. - ela nasceu em 1952, morreu em 1982, MAS (brasileiro sempre levanta a voz para dizer "mas" em uma discussao) foi enterrada AQUI (levantar a voz de novo serve para marcar posiçao - é como o macaco que berra mais alto no bando para dizer que ele tem direito a comer o formigueiro primeiro do que os outros chimpanzés) em 1997.
- Ela morrió en 1952 - disse um funcionário do cemitério que observava a discussao bizantina. Mas nao foi ouvido.
- Ela morreu em 1997, olha a placa! - insistia uma das mulheres.
- Será que ela nasceu em 1917 e morreu com cem anos? - foi a nova hipótese lançada no debate, tal qual a luva de Ivanhoé, pela outra brasileira.
- Peraí, ela nasceu em 1982 e morreu em 1997, foi isso.
Me afastei sem olhar para trás. Mas nao funcionou. Logo depois, os dois casais encontraram-se com o bando de turistas ao qual pertenciam, que pareciam ter finalmente se reagrupado na entrada do cemitério, após todos terem se perdido.
- O túmulo da Evita é lá - apontou uma das senhoras, para uma direçao ao léu - nós já vimos - continuou, afetando superioridade - mas olha, é muito simplezinho.
Fiquei com vontade de dizer "mas o túmulo é limpinho e dorme no emprego".

segunda-feira, maio 22, 2006

Na Argentina

Qual o sinal de contençao de despesas em um museu? (escrevo sem acentos, estou num computador argentino) Sao os banheiros. O Malba , por exemplo, está sem cabides para pendurar os casacos e os secadores a vapor nao funcionam. Esse é o sinal. Me disseram que o dono do museu, Eduardo Costantini, está com dificuldades economicas, mas prometeu manter o museu e seu nível. Ele realmente manteve e cortou onde podia. Na manutençao dos banheiros.
Em compensaçao, há uma divertida feira de arte moderna em Buenos Aires, o Arte BA, na Rural. Sei lá o porque do nome. A feira toda é como as diversas políticas de Franklin Roosevelt para vencer a depressao. Tomadas uma a uma, existem muitas falhas e fracassos nos stands das galerias. Mas o efeito conjunto é animador, entusiasmante. O mais interessante, engraçado, sao duas obras artísticas ligadas à música. Heavy Mental é uma criaçao de um sujeito que fez letras de heavy metal copiando textos de Foucault, Guattari e Lyotard. E tem a ver. Heavy Metal e filosofia francesa contemporanea reclamam de problemas inexistentes em tom sempre derrotista. É engraçadíssimo. Outra experiencia, mais divertida ainda, é o Pequeno Bambi. Um grupo punk de duas cantoras que se fantasiam de gato de teatro infantil e cantam em tom de rock músicas bregas em espanhol, como "Por que será".

quarta-feira, maio 10, 2006

O questionamento da questão

Eu queria ver mesmo "Escravas do amor", adaptação do romance de Nelson Rodrigues sobre Suzana Flag. Mas enganei-me: na noite de quarta, o que é exibido no teatro do Centro Cultural Telemar é a peça "Homo Politicus", uma "reflexão", "questionamento", sobre a "questão" do que é ser um homem político hoje. Não me lembro direito: ultimamente, toda vez que leio que determinada obra de arte - peça, história em quadrinhos, instalação, performance - "propõe um questionamento", "questiona uma proposta", "discute a questão", "questiona a discussão", meu cérebro interrompe as sinapses.
Mas por quê eu fui conferir, mesmo assim?
Porque era barato.
Porque gosto do Clima do Centro Cultural Telemar.
Porque tinha homem pelado.
Explicando a última frase: estava querendo desenhar uns esboços de corpos humanos. Na foto de divulgação, tinha corpo humano pelado. R$ 10 para uma sessão de modelo vivo - negoção.
Sim, foi um bom negócio até minha mão esquerda começar a latejar e eu ter de guardar a caneta. Mas a partir daí, ficou chato. Os atores (dois homens e uma mulher) alternavam poses nus. Um deles ficou na porta, obrigando os espectadores a pular por cima dele para entrar. Uma reflexão, um questionamento,uma discussão sobre como nossa liberdade é limitada por outrem.
Hmmm... entendi, entendi...
Lá pelo meio do espetáculo, um ator me interpelou - acho que era uma forma de provocar reação do público; isso era velho antes de eu nascer - que a minha camisa vermelha o incomodava. "Se eu disser que sua camisa não é vermelha, é azul, aí eu vou dizer que ela é azul, e você , que é vermelha. E vai ter gente dizendo que é amarela. E isso cria um problema. Entendeu?"
Mantive o sorriso discreto. Nestas horas, o mais importante é manter o sorriso discreto. Mas não entendi não. Um oftalmologista diagnostica daltonismo e acaba o problema.
A lembrança mais vívida é mais uma vez experimentar aquele curioso fenômeno físico que acompanha a sensação de tédio e aborrecimento: a calça parece começar a apertar o seu corpo, a bunda parece querer ejetar a base de sua coluna vertebral, não se acha uma boa posição para sentar. A chatice elimina a capacidade de abstração.

quarta-feira, abril 26, 2006

Outro desenho



Trompetista desenhado com um pincel já com os fios soltos, não uniformes, e pouco nanquim misturado a muita água. O modelo foi uma foto do Miles Davis

terça-feira, março 07, 2006

Viva o dia internacional da mulher

"O feminismo está realmente morto? Bem, sim ou não. Não me dá satisfação, mas alguém deve finalmente falar a verdade sobre como as feministas falharam em alcançar seus próprios ideais e na sua obrigação de pensar claramente e moralmente. Apenas alguém que esteja por dentro do movimento pode fazer isso, alguém que se importa profundamente com os valores e metas feministas. Eu estive na linha de frente por cerca de 40 anos, e sinto-me obrigada a explicar como muitas feministas, qeu deveria ser as primeiras entre as pessoas que prezsam a liberdade e a democracia, tornaram-se, ao contrário, animais covardes e pensadoras totalitárias. Isso deve ser dito, e meu objetivo em dizer isso é esperançoso. Vivemos em um mundo onde as mulheres podem e devem fazer diferença no mundo."
As palavras são de Phyllis Chesler, feminista professsora emérita de psicologia e Estudos da Mulher na City University do New York's College, en Staten Island, e autora do livro "A Morte do Feminismo: O que vem sa seguir na luta pela liberdade das mulheres" - de onde saiu o artigo publicado no endereço http://chronicle.com/temp/email2.php?id=pXgdqcZYzSdrCxdn2ytfR4qnjmpj85xm . O título: "O Fracasso do Feminismo".
Eis outros trechos:
"Para meu horror, a maior parte dos acadêmicos ocidentais e feministas não se focaram no que chamo de apartheid de gênero no mundo islâmico, ou em sua profunda penetração na Europa. Tais feministas também falharam em lidar adequadamente com as realidades complexas da liberdade, tirania, patriotismo e auto-defesa, e com o conceito de uma guerra justa. Os terroristas islâmicos declararam uma jihad contra o 'Ocidente Infiel' e contra todos nós que buscamos a liberdade,. Mulheres no mundo islâmico são tratadas como subumanas. Embora algumas feministas tenham soado o alarme sobre isto, um número muito maior ficaram em silêncio."
"Porque as acadêmicas feministas e jornalistas são agora tão pesadamente influenciadas pelo pensamento de esquerda, muitas agora acreditam que falando contra escarificações, véus, chador, casamentos arranjados, poligamia, gravidez forçada, mutilação genital e 'imperialista' ou 'cruzadista'. "
"Hoje as feministas são marginalizadas também pelo seu foco obsessivo em direitos do corpo e questões sobre sexo. Isso não é crime, mas simplesmente não é bom o suficiente."

quarta-feira, março 01, 2006

E-mail ME! ME! ME!

Saiu a lista dos 10 artigos do New York Times mais lidos em fevereiro. Reportagens sobre o acidente de caça com o vice-presidente Dick Cheney e como o governo ignorou alertas sobre o furacão Katrina estão lá, ao lado de um artigo de Francis Fukuyama dizendo que a política neoconservadora está em risco, etc. Mas há um interessante e não previsível artigo sobre o uso de e-mails nas escolas que entrou em quinto na lista. O uso do e-mail aproximou estudantes de professores - mas também eliminou um certo grau de respeito que devia haver dos alunos por quem os ensina. Uma aluna mandou um mail para o professor dizendo que faltara à aula porque havia bebido muito na noite anterior. Outro citado na reportagem pede para que o professor "pare de perder tempo com os colegas de classe idiotas e se preocupe com os que estão entendendo a matéria". Assim, os alunos parecem estar tratando quem devia prepará-los para a vida como balconistas desatentos ou o cabeleireiro. O artigo pode ser lido clicando-se no título do post.

sábado, fevereiro 11, 2006

Chapa quente em 806 D.C.

Deu no jornal: cientistas (sei lá de onde) descobriram que este ano é o mais quente desde 806 D.C. Como eu acredito na teoria daquele detetive amigo de William Hurt em "Corpos Ardentes" que depois o prende, segundo a qual o calor muda o humor das pessoas e elas saem fazendo mais besteira por aí, fui dar uma pesquisada para ver como o calor afetou o humor do mundo há 1.200 anos.
Pode ter sido um ano de angústia e ao final, de alívio, para muitos católicos. Porque o bispo Gregório de Tours, no século VI D.C, havia previsto que o fim do mundo seria entre 799 e 806. Com aquele calor todo, muita gente deve ter se lembrado da profecia do principal historiador dos merovíngios e começou a rezar pela sua alma.
E foi o fim do mundo sim pelo menos na cidade de Heracléia, na costa do Mar Negro. Naquele ano, ela foi cercada e depois saqueada pelo exército de Harum al-Rachid, um califa famoso pela sua amizade com Carlos Magno e que também manteve boas relações diplomáticas com a China. Ele também havia conseguido uma détente com o Império Romano do Oriente, após prometer à Imperatriz Irene não atacar Constantinopla desde que ela sempre lhe pagasse um tributo em ouro. Mas Irene foi derrubada do trono por Nicéforos, que não só mandou avisar al-Rachid que não ia pagar mais nada como pediu de volta o que a imperatriz deposta havia mandado. Em reação, o califa tomou Heracléia. Nicéforos voltou a pagar o tributo, mas depois, interrompeu de novo o pagamento, para ser novamente derrotado, com seu exército de 125 mil homens, por 15 mil comandados por al-Rachid, em uma batalha em Fríngia, província romana na Ásia Menor. Ferido na batalha, em que 40 mil de seus homens foram mortos, Nicefóre voltou a pagar o tributo - e depois voltou a suspender o pagamento. O califa só não o matou, como queria, porque morreu antes, doente. A ironia histórica é que Nicéfore significa "portador da Vitória" - foi esse, aliás, o pseudônimo adotado por Joseph Niépce, o inventor da fotografia, na onda de adoração ao classicismo e antiguidade que veio com a Revolução Francesa.
Um massacre em menor escala foi registrado em uma pequena ilha na costa escocesa, no Monastério de Iona: 68 monges foram massacrados pelos vikings. Eles já haviam atacado aquele celeiro de mártires e santos desde outras duas vezes. Os sobreviventes do massacre não esperaram uma quarta: foram embora para a Irlanda. Acredita-se que foi poucos anos antes deste ataque que se produziu no monastério um dos mais preciosos livros da história, o Book of Kells, coletânea dos evangelhos com enfeites, desenhos e ornamentos que o tornam uma relíquia e uma memória do trabalho que era fazer um livro na era Medieval. O livro está atualmente no Trinity College, em Cambridge. Em 1938, Iona voltou a entrar no mapa do misticismo, porque foi fundada lá uma seita cristã que buscava voltar às antigas tradições celtas - new age avant la lettre.
Do outro lado do mundo, outro fato importante para a história da religião em 806 D.C. foi a introdução do budismo no Japão. Obra de Kobo-Daishi, ou Kukai, artista e monge japonês que naquele ano voltava da sua embaixada na China. Foi lá que ele estudou o budismo Tantra. Kukai depois fundou a escola Shingon, ou "Palavra Verdadeira" , do budismo, e o monastério Kongobujy no Monte Koya, local de devoção até hoje no Japão. Excelente calígrafo, a ele também se atribui a criação da forma pela qual o japonês é escrito até hoje.
Enquanto Kukai voltava para casa, os chineses, em 806, criaram o papel-moeda. Foi naquele ano que começaram a ser usadas pela primeira vez cédulas em lugar de animais e outras mercadorias para trocas comerciais na China. O costume durou cerca de 500 anos. Como naquela época não havia monetarismo ainda, a produção de notas cresceu tanto que houve talvez a primeira inflação causada pelo excesso de emissão de papel-moeda no mundo. Assim, em 1455, os chineses abandonaram o que Marx chamaria de "fetichismo do dinheiro" - que só reapareceria na Europa, muitos anos depois.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

E tome desenho



Em cima de uma folha de papel pautado.

sábado, janeiro 28, 2006

As crônicas de Nasdijj. Ou, Enterrem meu Simancol na Curva do Rio

Depois de JT Leroy, mais uma fraude literária foi descoberta nos Estados Unidos: em 1999, um artigo na revista Esquire revelou o talento de Nasdijj, que contava a trágica morte de seu filho adotivo aos seis anos, Tommy Nothing Fancy . Nasdijj relatou a maneira dolorosa como o menino morreu por síndrome alcoólica fetal (não sei se o nome é esse, mas a doença seria causado pelo alcoolismo dos pais). O relato dramático projetou Nasdijj para que ele lançasse The Blood Runs Like A River Through My Dreams, The Boy and the Dog Are Sleeping e Geronimo’s Bones: A Memoir of My Brother and Me - todos livros em que Nasdijj expunha ainda mais histórias trágicas sobre sua vida: como foi violado sexualmente pelo pai branco - inclusive na noite em que a mãe morreu. Mãe, aliás, que às vezes era prostituída por ele. Ah, sim, ela também era alcoólatra. “Minha mãe era uma bêbada incurável. Eu usaria a palavra ‘alcoólica’, mas é muito polida. É uma palavra de pessoas brancas. Não há nada de polido em limpar sua mãe do seu vômito e arrastar sua carcaça inconsciente de volta ao trailer de migrante em que você vive.”

Era muita desgraça para um vivente só. Mas ele mantinha sua dignidade, como mostra um de seus livros em que um trecho ensina ao ignorante leitor cara-pálida os saberes alternativos dos navajos para lidar com a morte: "A morte, para o navajo, é como o vento frio que sopra pelo mesa vindo do norte", retumbou Nasdijj, permitindo que vislumbrássemos um pouco da milenar cultura navajo. "Não falamos disso", arremata secamente.

Muito sofrido e muito digno esse Nasdijj. Mas nesta semana que finda, a edição eletrônica da L. A. Weekly trouxe uma reportagem que jogou um pouco de indignidade e ridículo sobre esta trágica saga nativo-americana: ela teria sido escrita na verdade por Timothy Patrick Barrus, que, antes de botar cocar, fez alguma carreira como escritor gay de livros sadomasoquistas. E nesta outra encarnação, capaz de fraudes: Anywhere, Anywhere deu a muitos que o leram a impressão de ser um relato real de um caso de amor entre dois soldados americanos durante a Guerra do Vietnã - só que Barrus nunca botou os pés no Sudeste Asiático. Antes de consolidar sua carreira literária, ele também ajudou uma exposição de fotos sadomasô de um amigo artista plástico... escrevendo uma carta com o nome falso de John Hammond para o jornal da região onde ficava a galeria, para criticar as fotos, chamar o seu autor de doente e pedir a sua censura. Era o lado Maioria Moral do Navajo Violado Sadomasô Gay Veterano do Vietnã.

O fato de Nasdijj só ter desgraça para contar não ativou o simancol dos críticos e da comunidade literária americana; ninguém reparou que era tudo muito conveniente, o pai representante do eurocentrismo falocêntrico que estupra o filho, tal qual os colonizadores brancos fizeram com a América, a mãe bêbada como metáfora dos Povos da Floresta corrompidos pelos maus costumes da civilização ocidental. Isso só serviu para que seu livro The Blood ganhasse resenhas elogiosas no The New York Times, no Washington Post, o prêmio do Salon Book e fosse chamado de, entre outras coisas, "um poderoso clássico americano". Afinal de contas, Manitu nos livre de pôr em dúvida a palavra de um Nativo Americano.
O curioso é que foi uma crítica negativa publicada em um site sobre literatura que fez a L.A. Weekly descobrir o mistério, graças a uma pesquisa em um engenho de busca: combinando o nome do autor da crítica, que dizia ser parente do talento literário pele-vermelha e lamentava que ele não citasse seus antepassados ilustres europeus, com o nome da suposta filha de Nasdijj, Kree, e o nome do próprio escritor, um pesquisador da revista descobriu Barrus - que tem uma filha chamada Kree, atualmente professora em La Paz, na Bolívia. Lição da história? A Internet pode ajudar muito mais em investigações do que parece. Ah, é claro: o autor da resenha negativa só pode ser o próprio Barrus, repetindo o golpe que deu para ajudar a exposição de fotos do amigo, ainda nos longínquos anos 70.
Copiei muita coisa da reportagem que revelou a fraude, mas quem quiser ler mais, é só ir em http://www.laweekly.com/index.php?option=com_lawcontent&task=view&id=12468&Itemid=47.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

um pouco de pornografia...

Um esboço de uma série pornográfica que eu estou com preguiça de iniciar. Foi tirada de uma foto da internet.

... e um pouco de normalidade

mais desenhos

Essa moça que ri foi tirada de uma foto de jornal, ainda durante uma reunião. Parece que eu faço isso e esqueço do que está sendo discutido - mas por incrível que pareça, se eu não fizesse estes desenhos, não conseguiria me concentrar. É uma forma de dispersar meu déficit de atenção natural

desenhos

Outra moça de costas, outra reunião. O cabelo não foi submetido à essa tortura neomedieval do alisamento com formol, então era bem interessante de ser desenhado, com seus fios tortuosos, embaralhados, combinando com os adornos em volta do ombro e do pescoço.

desenhos

Um dos desenhos que faço em reuniões para não me chatear muito. Neste caso, de uma moça de costas. É o jeito de não chamar a atenção dos seus modelos, e dá para se distrair com detalhes dos cabelos e das dobras das roupas

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Liechteinstein

"As ruas estão cheia de água", escreveu o humorista americano Robert Benchley em um telegrama para amigos, logo que chegou à Veneza. Um amigo, que creio não conhecer a frase, mandou esse mail hoje, depois de visitar o Liechtenstein:

Estive em Liechtenstein. Bom lugar para ser um aposentado esquiador. Diante do minúsculo país, me ocorreu mais uma vez que a realidade impõe limites à imaginação.
Por exemplo: é impossível se conceber um road movie passado em Liechtenstein. Nos dez primeiros minutos do filme, o país já acabou.


Mais notícias sobre o Liechtenstein em http://www.news.li/news/

quarta-feira, janeiro 25, 2006

sinopses

Alexandre - refilmagem de "Priscila, a Rainha do Deserto", com o elenco de apoio de malhação.
Gangues de Nova York - Um caolho consegue ser o rei da briga de rua na Nova York no fim do século XIX. Se você quer testar empiricamente a validade desta hipótese, entre numa briga de torcida com um tapa-olho e veja quantos segundos fica acordado.
Machuca - "Meu Pé de Laranja Lima" para socialistas.
Sin City - Fantasia paranóica nerd. Todo nerd acha que, no sábado à noite, enquanto ele participa de campeonatos de RPG ou de chats sobre Guerra nas Estrelas, as colegas de colégio que não percebem sua existência se vestem de couro como as moças da história. Todo nerd gostaria de ser um sujeito durão usando capa de chuva, mesmo que more em Bangu. E o fato de os piores bandidos da história serem um sujeito vestido como nerd que come carne humana e uma variação expressionista do primeiro personagem de sucesso das histórias em quadrinhos, O Yellow Kid, não é por acaso.
King Kong - Fábula alegórica sobre como uma chave de cadeia pode foder a vida de um homem. Pelo que podemos deduzir, Kong sempre dormia no alto daquele morro de onde via o pôr-do-sol. Porque justamente quando a loura está com ele há um ataque de morcegos? Se toda noite tivesse ataque de morcego gigante, ele teria ido dormir em outro lugar, não?
O Jardineiro Fiel - A partir da cena em que Rachel Weiz enfia uma garrafa de um litro de água mineral na bolsa, torcemos pela sua morte. Porque a garrafa de um litro de água mineral na bolsa é um item indispensável da chata moderna. Há de se louvar John Le Carré, que , depois de ter chupado quase completamente "Nosso Homem em Havana" em "O Alfaiate do Panamá", desta vez deu menos na vista no plágio a Graham Greene: quase não dá para reparar que o núcleo da história - um burocrata com um trabalho sem graça envolve-se em problemas políticos por causa do ativismo da mulher - foi chupado de "O Fator Humano".

terça-feira, janeiro 24, 2006

A lenda é real

Uma dupla que pode ser interessante ler: Tim Groseclose, um cientista político da Universidade da Califórnia, e Jeffrey Milyo, um economista da Universidade de Missouri. Com a ajuda de 21 assistenets, os dois passaram dez anos pesquisando o jornalismo nos Estados Unidos, e suas conclusões são de que o mito é real: há realmente uma tendência esquerdizante no jornalismo, pelo menos nos Estados Unidos. A pesquisa foi publicada no Quartely Journal of Economics. Groseclose tinha uma suspeita de que iria chegar a alguma leve tendência esquerdista entre os jornalistas porque pesquisas já mostarvam que a maior parte dos jornalistas tendem a votar em Democratas e não em Republicanos. Mas o resultado o surpreendeu, pela forma pronunciada como esta tendência foi indicada. O trabalho revelo curiosidades como a de apontar o Wall Street Journal, teoricamente conservador, como o mais liberal - isso é de esquerda em americanês - nas suas páginas de noticiário (nas de opinião, com editoriais e artigos, é outra coisa). A CBS, que teve o famoso âncora Dan Rather aposentado meio que às pressas depois que ele publicou uma notícia falsa sobre o serviço militar de Bush, e o New York Times, ficaram em segundo e terceiros lugares no ranking. Groseclose e Milyo agora vão começar a pesquisar tendências políticas nas universidades americanas. O artigo pode ser lido, para quem quer gastar US$ 10, no endereço http://mitpress.mit.edu/catalog/item/default.asp?ttype=6&tid=19148.

sexta-feira, janeiro 06, 2006


Que tal esse saxofonista? Existe também um fracasso por causa deste desenho. Era para "concorrer" a uma caixa de CDs sorteada pela GNT aproveitando o sucesso da série "Jazz", documentários de Ken Burns que eles exibiram. Só que tinha de pôr o slogan da GNT no desenho, e eu não fiz isso... funcionou, anyway. Desenhei o saxofonista em uns cinco minutos, com nanquim. Distorcido, com variações no tracejado, agora que eu olho para ele de novo, gosto muito.