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domingo, maio 18, 2008

Li aí umas "críticas" negativas a "O melhor amigo da noiva", comédia romântica que estrelada por Patrick Dempsey, ex-intérprete de nerds de comédias adolescentes dos anos 80. Li que foi considerado clichê, previsível, etc. Bem, vi o filme. É uma comédia romântica. Então, tem todos os elementos de uma comédia romântica. O mocinho é bonito, a mocinha idem. Tem o momento "clip", com música romântica. Tem imagens sensacionais de Nova York, e a fotografia é impecável. Tem piadas com "timing". E mais ou menos sabemos como isso vai terminar. MAS dentro destas características imutáveis, o filme faz um comentário muito interessante sobre os hábitos copulatórios de homens e mulheres na virada deste século, dentro de um grupo social afluente, bem-de-vida - o material de que foram feitos os melhores romances de Balzac e as comédias mais engraçadas de Aristófanes.
Você pode achar que o que eu listei acima é clichê. Mas siga meu pensamento.
Filmes de Antonioni - todos têm pessoas que passam muito tempo sem falar uma com as outras, ou falar o mínimo, porque têm problemas de comunicabilidade.
Filmes de Bergman - começam com pessoas deprimidas, que falam durante o filme porque estão deprimidas, e terminam o filme deprimidas.
Filmes de Quentin Tarantino - todos têm algum assassino psicótico que faz um discurso longo com a referência a algum produto barato de consumo de massa - sanduíches ou histórias em quadrinhos - antes de alguma parte de um corpo humano ser separada do resto à base de muito sangue. Alguma música pop esquecida pontua a trilha sonora. Um ator esquecido de Hollywood faz parte do elenco e tem o impulso necessário para recomeçar sua carreira.
Filmes do Woody Allen - começam sempre com letreiros em negrito e jazz pré-II Guerra.
Filmes de Glauber Rocha - Pessoas desdentadas que parecem não ter tomado banho berram polissílabos incompreensíveis parecendo encerrar grandes verdades sobre problemas que não nos interessam. A câmara perde o foco.
Filme do Hitchcock - Sempre aparece um gordinho de terno numa ponta desnecessária.
Filme de Alejandro González Iñarritú - No início, as pessoas choram, porque sofrem. Depois, sofrem, porque choram. Depois, sofrem e choram. E no fim, descobrem que não há nada mais a fazer a não ser chorar e sofrer, mas com muita dignidade.


Agora alguém explica para mim porque as comédias românticas de Hollywood são "clichês" e a repetição destas idéias acima é "traço autoral".