Total de visualizações de página

segunda-feira, junho 26, 2006


Quando faço algum passeio sozinho, gosto de levar um caderno de esboços para fazer desenhos, é o que consegue me relaxar mais completamente hoje em dia. Os desenhos abaixo foram feitos durante uma viagem a Niterói, para uma exposição no MAC. Foi um passeio de barca em um dia em que a havia uma regata na Baía de Guanabara. A regata rendeu dois desenhos, um dos quais está mais abaixo. Este ficou o melhor, com dois barcos diante das pedras do Morro da Urca.

sombras


Pessoas esperando a barca para o Rio.

De volta ao Rio



Na volta de Niterói, consegui desenhar com alguma precisão um paquete que circulava perto da barca e um sujeito sentado no cais, tentando criar alguma graduação nos tons escuros da pele, do rosto encoberto pelo boné e a bolsa que ele segurava. Do tamanho que tá o desenho, acho que fracassei. Mas para um caderno de esboços até que tá bom

Na barca



Desenhos feitos na saída da barca para Niterói, num dia de visita ao MAC. Uma regata era realizada no mesmo dia. A garotinha esboçada na mesma página ficou boa parte da viagem com a cara na janela, olhando a regata.

domingo, junho 18, 2006

Qual o melhor regime para se ganhar a Copa?

Uma das formas favoritas dos locutores de futebol de encher lingüiça é citando estatísticas de jogo - quantas bolas foram chutadas à trave, quantos ataques foram "finalizados", quantos escanteios cada time bateu, etc. Talvez isso tenha se popularizado com as idéias de Valery Lebanovsky, técnico ucraniano que, nas décadas de 70 e 80, acreditava em medir, contar, cruzar dados de jogadas dos jogadores para poder, a partir delas, melhorar suas performances - uma transposição para o futebol dos métodos de administração socialistas que não levava em conta que o futebol é o mais imprevisível dos esportes - como sabe qualquer um que já tenha acompanhado um jogo em que uma equipe dá várias bolas na trave, chega tantas vezes à linha de fundo, mas o único gol do jogo sai do único ataque do adversário.
Lebanovsky foi lembrado por um sujeito chamado Franklin Foer em um artigo da New Republic na qual Foer tenta responder qual o melhor regime político para um país ganhar a Copa do Mundo. Ele lebanoviscou uma série de dados históricos e reparou o seguinte: regimes comunistas produziram bons times - mas nenhum jamais ganhou a Copa do Mundo. O fascismo, em compensação, bateu um bolão nos anos 30 - a Itália ganhou duas copas, a Alemanha ficou em terceiro na Copa de 34 e o Brasil, em terceiro, em 38 (Foer não tem problemas em chamar o Estado Novo de Vargas daquilo que ele realmente foi). A causa, ele arrisca, deve ser pelo fato de o fascismo ser um regime que exige fidelidade extrema à pátria acima de tudo, especialmente quando ela está de chuteiras, incentivar os esportes e a higiene, gerando um bom ambiente para a criação de atletas, e também criar um medo de perder. "Quem vai querer decepcionar um líder que pode mandar quebrar suas pernas e aprisionar sua avó?", resume.
Mas países prestes a cometerem genocídios tiveram desempenhos pífios, muito pífios, como a Alemanha em 1938, que perdeu todas, e a Iugoslávia em 1990, anotou Foer. Para convencer alguém motivado por ódio racial ou de classe a não sair matando cegamente, talvez este argumento seja mais convincente do que "só a paz constrói" ou similares.
Ditaduras militares conseguiram bons resultados, caso do Brasil em 1970 e da Argentina em 1978, admite Foer. Mas isso não é uma regra, se lembrarmos participações vexaminosas de outras seleções governadas por este mesmo tipo de regime, ele ressalva. O melhor, segundo as estatísticas dele, são os governos sociais-democratas - e que tenham uma economia industrial forte. Somente uma economia industrial forte gera um proletariado que fornece craques de futebol e dinheiro para financiar campeonatos onde eles possam se desenvolver. Além do mais, a social-democracia deixa espaço para a coexistência do individualismo e da solidariedade - ou seja, cria o clima necessário para uma equipe integrada e com craques que desequilibram um jogo, de acordo com Foer.
O artigo está em http://www.canada.com/components/print.aspx?id=00e55e55-44af-4a6c-9b9d-5f175b69c430. Mas ele é um resumo do que Foer escreveu em "The Thinking Fan's Guide to the World Cup".

segunda-feira, junho 12, 2006

o passado que condena

"Você estudou no Salesiano?", perguntou o caixa da padaria em que eu comprava cigarros. "Estudei", admiti, e em seguida olhei para ele apertando o olho esquerdo, como Clint Eastwood em duelo de faroeste de Sergio Leone. "Eu me lembro de você... mas não me lembro o nome...".
Ele deu o nome. É claro, como eu podia ter esquecido? Se houvesse alguém que simbolizasse não o desprezo, mas o ódio e o escárnio total a qualquer interesse por aprender alguma coisa que se ensinasse naquela escola - algo muito comum, aliás - esse era O cara. Infelizmente não viveu na Alemanha no fim dos anos 30: ninguém mais do que ele gostaria de fazer fogueiras com livros naqueles comícios nazistas - embora a cabeça chata e o cabelo carapinha preto provavelmente não fosse pegar bem. Batemos um papo rápido, ele disse que outros estudantes de lá apareciam na padaria, mas geralmente não se identificavam. Daqui a pouco ele cortou:
- Lembra dum japonês?
Eu lembro de muita coisa da escola: surra, cheiro de misto quente, máquina de coca-cola, futebol de salão mesmo depois das luzes das quadras serem apagadas, meninas louras que me trataram mal, meninas morenas a quem tratei mal, meninas morenas que tratei mal de vingança por eu tratá-las mal, a biblioteca da escola. Mas não lembrava de "um japonês".
- Era um japonês inteligente, que estudava prá caramba.
Não ajudou muito. Não, não lembrava.
Isso não o desestimulou e ele foi em frente:
- Pois é. Virou viado.
- Ahn... mas assim é a vida, né?
O subtexto do diálogo é: "tudo bem que eu não tenha aproveitado a chance de uma educação sólida e tenha acabado calculando trocos de cigarros a varejo nesta caixa de padaria. O importante é que eu não VIREI VIADO. Porque o japonês estudou e VIROU VIADO! Já pensou se eu tivesse estudado muito? Eu poderia ter ficado muito inteligente e VIRADO VIADO também, que horror, que nojo, odeio VIADO, Deus que me livre!!!"
Pensando bem, toda aquela educação não foi tão sólida assim.