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segunda-feira, novembro 28, 2005

A grande reportagem fotográfica

Na sexta-feira, de novo, Lula comparou a transposição do Vale do São Francisco aos investimentos que o presidente Franklin Roosevelt fez no Vale do Tenessee para ajudar a população empobrecida pela depressão econômica dos anos 30. Se o governo quisesse fazer como Roosevelt mesmo, para tentar explicar um pouco melhor de que se trata a obra, poderia copiar uma das melhores iniciativas em comunicação governamental já vistas: a grande reportagem fotográfica patrocinada pela Farm Security Administration, departamento criado para cuidar destes projetos. Para convencer os eleitores de que o governo dos EUA devia gastar dinheiro para ajudar os mais pobres, o departamento mandou para o sul e oeste dos EUA uma legião de fotógrafos, incluindo grandes nomes Walker Evans e Dorothea Lange. O retrato mais famoso de Dorothea, de uma mãe emigrante segurando o filho nos braços, os rostos cheios de linhas e os olhos vazios, foi produzido neste esforço. Milhares de outras fotos documentaram a luta dos americanos contra a pobreza e algo mais, como a solidão e a aridez destes regiões, de uma maneira que ajudou, ao lado de outras criações como os quadros de Edward Hopper, a criar na cabeça de muita gente a imagem de uma América interiorana melancólica e árida. As fotos podem ser vistas no site da Biblioteca do Congresso americano, no endereço http://memory.loc.gov/ammem/fsowhome.html

Na veia

Literatura de drogados é algo meio fora de moda desde William Burroughs, mas o site http://www.junkylife.com revitaliza as narrativas de quem experimenta e gosta de se viciar. Tem relato de tudo - o passo-a-passo da morte de uma aidética, o cotidiano de viciados, a narrativa das sensações de uma viagem provocada pela heroína, a angústia da abstinência. Tudo muito cru e muito direto: alguns dos viciados dizem como não querem nada da vida. Mae, que mantém um blog onde fala de como está morrendo de aids, conta como o pai de uma amiga a chantageou sexualmente para permitir que ela se picasse na casa dele.

sexta-feira, novembro 25, 2005

declínio e queda do glam rock

No início dos anos 70, na ressaca do fim dos Beatles, das mortes de Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, Gary Glitter parecia apontar para o futuro do rock: ele teria lamé, muito brilho e um som bastante simples. Glitter encarnou tudo isso em um movimento que foi conhecido como o "Glam Rock", que disputava espaço com outras tendências dos anos 70, como o heavy metal, o rock progressivo, etc. E foi varrido, como todos estes, pelo punk no fim da década. E agora, pode ser condenado à morte no Vietnã por pedofilia.
A história do declínio e queda do responsável pelos sucessos "Rock and Roll (parts 1 and 2)" e "Do You Wanna Touch Me?" é coisa de filme: ele abriu falência nos anos 80, aderiu ao budismo e ao vegetarianismo, quase morreu por uma overdose de pílulas e foi preso três vezes por dirigir bêbado, enquanto sua figura tornava-se cada vez mais quixotesca, com Glitter tentando manter o penteado exuberante, mesmo que com a ajuda de uma peruca. Mas queda começou mesmo quando Glitter (batizado como Paul Gadd: o nome artístico ele escolheu, rejeitando Terry Tinsel, Stanley Sparkle e Vicky Vomit, outras possibilidades), ele mandou seu computador para o conserto: o técnico achou dúzias de fotos pedófilas baixadas da internet. Glitter tirou quatro meses de cadeia por isso, e quando saiu, em 2000, viajou para Cuba e, em seguida, para o Cambodja. Lá, foi expulso em 2002 do país. As autoridades do Cambodja não explicaram direito, mas desconfiou-se de que ele não havia se emendado. E agora, aos 61 anos, Glitter foi detido no Vietnã - onde pedofilia dá pena de morte. As notícias sobre ele podem ser acessadas no site de seu site oficial (sim, existe): http://ourworld.compuserve.com/homepages/vanderlinden/glitter.htm

quarta-feira, novembro 23, 2005

Uma questão multifacetada

Como muitos outros intelectuais franceses, Jean Baudrillard é bastante adotado e citado por acadêmicos brasileiros por uma boa razão: escreve mal. Assim, qualquer coisa que ele escreva pode significar qualquer coisa - e a autoridade para se medir a aptidão do aluno e sua capacidade de aprender não pode ser testada mais nas informações do texto, mas na interpretação que o professor irá dar a ele. Que vai mudar de acordo com as simpatias sexuais, políticas ou adulatórias que o aluno despertar no professor, ou o número de vezes em que o aluno citar o livro que o professor acabou de lançar mas ninguém leu em sua dissertação ou tese, se estivermos falando de pós-graduação. Seria uma ... "dominação pelo discurso", para usar um jargão de Michel Foucault.
No futuro, é provável que gente como Baudrillard, Foucault, Lyotard, Derrida, seja lembrada pelos efeitos cômicos de seus textos e aparições. Porque assim como o personagem de Moliére que falava em prosa sem o saber, eles todos escrevem e falam em tom de comédia absurda sem o perceber. Mas uma reportagem da The New Yorker captou este estilo em uma palestra recente de Baudrillard em Nova York. Teria tudo para ser a coisa mais chata do mundo. Mas o detalhe das vestimentas, da reverência dos ouvintes, como se fossem botocudos impressionados com o Anhangüera tacando fogo em uma tigela de álcool, captam a hilariedade de Baudrillard e sua seita, até o gran finale, em que ele se classifica como "um simulacro de si mesmo". Está neste endereço: http://www.newyorker.com/talk/content/articles/051128ta_talk_macfarquhar

domingo, novembro 20, 2005

o que não sai nos jornais

Eu estava procurando algo na Internet sobre a Vila Rubim, um bairro no centro de Vitória onde vivi meu bildungsroman, digamos. E topei com um site de fotos que, pelo que deduzi, foram feitas para reportagens mas nunca saíram nos jornais - ou por serem muito chocantes, ou por serem proibidas por lei (como uma excelente de menores de rua cheirando cola) ou sei lá por quê. O endereço é http://impublicavel.zip.net/ , tem um material variado e algumas pequenas obras-primas, mesmo que sejam macabras.

Consegui exibir essa tela em uma mostra no Centro Cultural da UFF sobre sexualidade. Tem 1,70x1,80, se não me engano. A inspiração foi uma foto de uma revista de anúncios eróticos que comprei à procura de modelos ou de algo bizarro para brincar. A revista era fascinante porque vários homens e mulheres comuns posavam nus, ofereciam-se para encontros amorosos, ao mesmo tempo em que sempre escondiam o rosto - ou seja, para mostrar seus desejos mais pessoais, eles tinham de esconder a personalidade. A mesinha ao lado, na foto, com a planta de grandes folhas em cima, a concha envernizada em uma estante inferior e o vasinho de flores no pé era o toque erótico-suburbano que completava o quadro.

O maior dos predadores

"Somos inimigos do conservacionismo", disse o líder da tribo africana Masai Martin Saning´o, em um encontro do Congresso Mundial de Conservacionismo em Bangcoc, em 2004. Para ser uma ameaça ao meio ambiente, os seres humanos não precisam de indústrias, navios petroleiros ou monoculturas de soja: de grupos humanos que vivem de maneira muito mais simples em países do terceiro mundo também ameaçam o meio ambiente, e esse problema começa a se tornar grave, segundo reportagem na revista "The Orion": http://www.oriononline.org/pages/om/05-6om/Dowie_FT.html

sábado, novembro 19, 2005

A memória da Guerra Grande

Moradora de uma pequena fazenda do Mato Grosso do Sul, Aminta Ester Lynch, ainda aos 80 anos, acorda de madrugada para cuidar da casa e da criação de bichos de seda na cidade de Terenos, dormindo às 19 horas. Ouviu do pai o conselho para nunca se meter em política. Não foi à toa, a política determinou a fuga do pai e dela do Uruguai, onde eles eram inimigos dos colorados, os mesmos adversários de uma parente distante de Aminta - Elisa Lynch, a mulher de Solano López, o ditador derrotado por Brasil, Uruguai e Argentina na Guerra do Paraguai. O pequeno perfil de Aminta está ao lado de boas fotos do conflito e algumas análises sobre ele no site http://guerragrande.ledes.net/, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Segue a tendência predominante nas universidades brasileiras, na área de Humanas, de revisar o que não tem importância e priorizar a banalidade, ao chamar a Guerra do Paraguai de "Guerra Grande". E ainda falta muita coisa que é prometida na sua página de abertura. Mas vale uma visita.

segunda-feira, novembro 14, 2005

O último dos austríacos

Peter Drucker morreu no dia 11, tranqüilo, em casa. Fiquei sabendo hoje: na leitura de jornais, não notei grandes destaques sobre isso. O que é uma pena: ele talvez seja o último de uma geração de gente criada na Europa Central em países destruídos pela I Guerra Mundial e que manteve a sanidade e a crença na razão durante um século em que se escreveu e se disse muita besteira e muita gente morreu por causa disso. Li menos do que devia destes sujeitos: Karl Popper, Ernst Gombrich, Ludwig von Mises... o que os unia era principalmente a clareza. Todos escreviam para ser entendidos, não para fundar uma seita de fanáticos em universidades, como os que os criticavam. E todos se preocupavam com o sentido ético de seus atos: Drucker deplorou a quebra da bolsa de 1987 principalmente como efeito da falta de ética na manipulação das ações, ele lembrou que a ética também é necessária para ganhar dinheiro.
Quem não gosta de estudar administração pode procurar em algum sebo "Reminiscências", um livro de memórias de Drucker. Há as recordações de sua incrível avó, uma espécie de precursora da globalização financeira e dos computadores, com seus vários passaportes que lhe permitiam trocar dinheiro pelo melhor câmbio sempre que ia a um país novo dos que haviam sido criados dos restos do Império Austro-Húngaro e sua mania de guardar xícaras sem asas e asas sem xícaras. Há o relato de como ele sentiu "algo estranho" ao chegar nos Estados Unidos durante a era do New Deal - a ajuda que recebeu de gente desconhecida, que se prontificou a facilitar a sua entrada no país e em lhe procurar emprego, era um sinal de que uma nova idéia estava no ar para tirar o país da crise. Há o relato de um colega de jornal em Viena, o mais medíocre de todos, que foi encarregado de cobrir o partido nazista austríaco, acabou se filiando a ele e tornou-se um dos seus piores criminosos na Áustria. "Esses caras estão falando sério, Peter, e quando eles forem fazer o que querem fazer, vão ter de buscar gente com estômago para isso - e é aí que eu entro", disse o amigo. As explicações do futuro nazista são uma aula do que pode provocar o excesso de ressentimento. Há a história do casal de nobres austríacos que abraçou o socialismo como forma de evitar uma outra guerra mundial - e se matou por não conseguir (o nazista também se matou, aliás). São histórias de vida enriquecedoras, e, principalmente, que fizeram Drucker pensar, refletir, aprender. Um hábito que está morrendo com os velhinhos austríacos.

sexta-feira, novembro 11, 2005

No resto do mundo, os pobres também choram vendo novela

A globalização, no seu aspecto cultural, sempre é apontada como sinônimo de dominação cultura do cinema americano, do rock americano, da eliminação das diferenças culturais e manifestações regionais pela hegemonia da produção do primeiro mundo, etc., não? Mas um jornalista e teatrólogo venezuelano alerta que as novelas da América Latina chegam a ameaçar as produções hollywoodianas, ao se espalhar por todo o mundo, chegando em lugares como a Polônia, Rússia e Indonésia, por sua capacidade de manter os pobres "pregados na cadeira". O artigo está em http://www.foreignpolicy.com/story/cms.php?story_id=3269&print=1

quinta-feira, novembro 10, 2005

tudo compreender é tudo perdoar

Amanhã, Mykensie Martin deve encontrar-se com os pais americanos em Brasília, após sumir de Carmo de Paranaíba, no domingo, e chamando até a atenção do FBI. Deve levar um esporro e ser alistada em seguida no Exército para servir no Iraque e ver o que é bom.
Eu compreendo e muito os motivos daquela moça. Ela sai do equivalente a Casimiro de Abreu no Oregon pra um programa de intercâmbio no Brasil achando que ia ver muito samba, lambada, jogo de futebol. Vai parar em Carmo do Paranaíba num intercâmbio do Rotary. Aí, doida para sambar, lambadear, fazer a Ola no Maracanã, é levada para o 22o Jantar Comemorativo dos 22 Anos da Fundação do Rotary Carmoparaibano, no qual se homenageará a memória do dr. Odilio Mendes Maia, fundador do Rotary de Carmo do Paranaíba que durante anos contribuiu para o desenvolvimento da comunidade à frente da administração da Farmácia Flôres, que fica na pracinha da Matriz de Carmo do Paranaíba. No evento, o diretor de eventos do Rotary de Patos de Minas faz uma menção em seu discurso à "presença de nossa irmã de plagas norte-americanas", puxando uma salva de palmas, ao mesmo tempo em que propõe a votação de uma menção contra a invasão do Iraque nos EUA para ser votada no 23o Jantar Comemorativo dos 23 anos de Fundação do Rotary Carmoparaibano. Tudo é traduzido para a moça pela sua "brazilian sister", uma gordota com espinhas vermelhas na bochecha branca, aparelho nos dentes, cabelo quebradiço preso por uma fivela em forma de abelhinha, que lhe dispara olhares lésbicos.
Passa-se uma semana. Neste período, na Escola Futuro Feliz, ela é informada pela irmã lésbica quem é Magáiver, o principal galã dos adolescentes de Carmo do Paranaíba, que Christhyane (mudou a grafia depois que foi a um numerólogo) é a menina mais invejada pelas mulheres e amada pelos homens de Patos de Minas, e que deve evitar Celsinho, um aluno repetente e mal barbeado que é a vergonha de sua família, uma das melhores de Carmo do Paranaíba, mas que voltou diferente desde as férias em Cabo Frio, há dois anos, com uma tia solteira aposentada do IAPI que se mudou para lá. O professor de matemática, talvez inspirado pelo Tio Glauco da novela, tenta conquistar-lhe primeiro com as piadas que sempre fazem sucesso na aula de equações de segundo grau, e depois, oferecendo-lhe uma carona na garupa de sua moto, com um pequeno desvio pelo acesso à cachoeira mais bonita de Patos de Minas, onde ele tenta estuprá-la.
Curiosa, no segundo dia, a menina tenta um contato com o "perigoso" Celsinho. Ela a leva para o seu quarto, e.... lá a submete a uma sessão de cinco horas de audição de rock progressivo, com direito ao álbum triplo ao vivo do Emerson Lake and Palmer e toda a coleção de Rick Wakeman.
Na sexta à noite, a moça vai para o principal "agito" de Carmo do Paranaíba: a pizzaria Três Irmãos, que fica ao lado do Posto Dois Irmãos, na entrada de Patos de Minas. Que, aliás, é adornada por um monumento dos 22 anos do Rotary. Numa mesa grande todos prestam atenção ao relato que Arnaldinho, filho do prefeito, faz de "um lugar manêro" que ele acabou de conhecer nas suas férias no Rio: a Ilha dos Pescadores, manja? Enquanto isso, a "irmã brasileira" roça suas coxas gordas na americana para lhe dizer no ouvidinho: "amanhã nós vamos juntas para o culto mórmon em Unaí, né?"

terça-feira, novembro 08, 2005

poitiers de novo

Daqui onde estamos, parece que esses tumultos na França são o resultado do preconceito que "excluiu" os jovens pobres, não? De repente, a França parece estar sendo governada pela Klu Klux Klan e os tocadores de fogo em ônibus estão apenas se "exprimindo". Mas eu prefiro ficar com a análise de um amigo meu que morou muito tempo lá, conhece essa realidade e não é reprimido pela pressão social de parecer bonzinho - esta sim, uma pressão que realmente produz uma geração de excluídos: aqueles que pensam pela própria cabeça. Mas a análise dele, por um mail, está aí abaixo. Nem corrijo a linguagem mailzística, acho que estragaria o estilo:
"aqueles subúrbios têm um monte de conjunto amarelinho (irajá) só q cheio de árabe dentro. em paris tb tem bastante, nas áreas mais pobres. esses caras passam o dia vagabundeando e fazendo merda. tipo cuspir na cara de meninas desacompanhadas no metrô (amiga minha viveu isso), assaltar e agredir covardemente as pessoas (conheço cara q passou por isso) e eventualmente praticar agressão sexual contra mulheres desacompanhadas. são extremamente covardes e agressivos, tipo grupos de 7, 8 marmanjos contra uma ou duas vítimas. tem linha de metrô q as mulheres evitam depois de uma certa hora com medo de passar por esse tipo de perrengue. ou seja, esses narigudos tocam o maior terror por lá, mas ai de quem levantar o dedo contra eles, vão dizer q é perseguição, racismo, intolerância religiosa etc, e isso num país como a frança, sacumé, pega mal pacas. de qq forma, o q eu sempre disse é q essa situação social era um barril de pólvora, q um dia alguém, puto com essa situação, ia dar um tiro na cara de um árabe desses e a favela (no caso deles, os amarelinhos da vida, ou HLM, os BNHs deles) ia vir abaixo."

sexta-feira, novembro 04, 2005

dupla caipira

Eles têm muito em comum: foram escolhidos pelos seus cargos menos pelo que são de verdade e mais pelos símbolos de simplicidade que suas figuras emanavam, de promessa de um mundo mais simples, mais inteligível: um encarnou os "valores morais", e o outro, o "trabalhador no poder", embora tenha deixado o ofício na década de 70. Do ponto distante em que vejo, parecem ter se cercado de leninistas, não no conteúdo, mas na forma: "elites de vanguarda" arrogantes que acha que podem ditar os destinos de seus países sem levar em conta o que o resto da população acha, o que diz a lei - se eles estão no caminho certo da história, se eles descobriram qual o rumo certo do desenvolvimento do mundo, o que importa revelar identidade de agente secreto ou saquear o estado e subornar parlamentares? É tudo para um bem comum. Agora, têm de responder por ilegalidade que realmente talvez eles nem compreendam. Talvez Lula e Bush acabem afogando as mágoas um no ombro do outro no churrascão de amanhã, depois do terceiro copo de cortezano.

quarta-feira, novembro 02, 2005

sweet memories

"A OIJ era ligada à KGB!!! A gente era manipulado pela KGB!!!", ouvi numa noite numa discussão em um bar em 1989. Eu estava em Vitória, e ouvia a discussão entre um dirigente nacional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) com outro dirigente, do Espírito Santo. Os dois talvez nem se lembrem disso, nem vale a pena citar seus nomes. Eu sim.
A revelação (para mim) do segredo que ligava a Organização Internacional dos Jornalistas, com sede em Praga, ao serviço secreto soviético me fez entrar em um livro de John Le Carré no meio um lugar dos mais improváveis ambientes para um romance de espionagem - um bar com chope quente, muitos jornalistas fumantes e falantes, numa noite quente.
A frase foi particularmente impactante para mim porque me lembro de um professor do curso de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo particularmente tacanho e desonesto, chamado Renato Soares, em uma aula que ele dava sobre Ética em Jornalismo. Na verdade, a aula era de doutrinação de esquerda - Renato era, é ainda, presidente do PSB no estado. E nesta aula, ele determinou - sem dizer por quê, sem dar chance de ser contradito - que das duas entidades internacionais de jornalismo que existem no mundo, a OIJ era a "boa, de esquerda"; a outra, sediada nos Estados Unidos, era a "reacionária, de direita".
Foi simplório assim. Era este o tipo de ensinamentos que se davam e eu acredito que ainda se dão em cursos de ciências humanas, nas universidades brasileiras, nos anos 80. O que talvez explique muito certas repetições de assuntos, abordagens, clichês que leio na imprensa que me dão um tédio profundo. São todos filhotes daqueles clichês ministrados como cocaína na veia nos primeiros semestres dos cursos de ciências humanas.
Voltando à discussão no boteco, dois anos depois da lavagem cerebral do professor tacanho: a f]revelação de que a boazinha entidade de esquerda era peça de propaganda do totalitarismo russo foi feita como um último argumento que o dirigente nacional da Fenaj lançou para tentar convencer o colega de que, em 1989, o comunismo tinha acabado mesmo, de vez. Note bem, ele ainda se considerava de esquerda - mas não era tão de esquerda assim para ser tão insensível aos fatos daquele looongo ano. O meu amigo dirigente capixaba não, tentava escapar pela tangente dizendo que "o que morreu foi uma forma burocrática de socialismo" e "é preciso fazermos uma autocrítica".
Nestes 16 anos, tudo que eu tenho visto de movimentos como o MST e o PT, que cheguei a acompanhar de bem perto, foi escapadas pela tangente. Sempre com autocríticas convocadas e nunca feitas, refundações do socialismo que apenas repetem o que já foi defendido, fundado, testado e derrotado pelos fatos, palavras de ordem simplistas para demonizar quem não concorda com os lugares-comuns. É tudo muito cansativo. Esse povo, essa.. taí, essa "raça", por que não?, é muito chata, e consegue tornar tudo ao seu redor mais chato ainda.