Total de visualizações de página

quarta-feira, abril 18, 2007

O assassino enquanto autor teatral

Tá em algum jornal hoje um "especialista" dizendo que é difícil saber o que um assassino em massa como Seung Cho pensa, porque eles geralmente se matam ou são mortos depois do massacre. Mas Cho deixou pelo menos uma pista, que está no site "Smoking Gun". A peça "Richard McBeef", de sua autoria. A história é de um garoto de 13 anos, John, que acusa o padastro, o Richard do título, de matar o pai e de pedofilia.
É tão óbvio e mal escrito que, se estivesse no Brasil, Cho já teria sido contratado como roteirista de novelas. Mas revela muita coisa. Richard McBeef e sua mulher, a mãe de John, praticamente nem existem como personagens: são só alvo dos xingamentos e da insatisfação do adolescente. Para chamar o padastro, que ele só nomeia como "Dick", de pedófilo, ele o acusa de ser um "padre" e "Michael Jackson". Quando o acusa de ter matado o pai, John diz que McBeef forjou o incidente no barco que provocou a morte, "do mesmo jeito que o governo encobriu o que realmente houve com Marilyn e Kennedy". Aliás, John nem mostra amor pelo pai: diz que ele também não merecia a mãe - é um Hamlet sem culpas. Ele transforma em acusação até o fato de McBeef ter "trabalhado para o governo". Mais adiante, diz quer quer matar o padastro porque ele "se entope de McDonald´s".
Pai, padastro, governo, Igreja, consumo de massa, cultura da celebridade e escândalos estimulados pelos meios de comunicação: John, o personagem do assassino, odiava todas estas marcas da sociedade americana. E não pára nunca de acusar os outros. A cultura da reclamação, expressão criada pelo crítico de arte Robert Hughes, está formando seus anjos vingadores.

Nenhum comentário: