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domingo, outubro 23, 2005



Um dos mais simples desenhos que já fiz; e talvez o que eu mais goste

Outro da série "desenhos no sirvissu". Sabe-se lá porque eu o desenhei na borda de um papel, bem no canto.
"Sou da opinião dos que crêem que os povos da Germânia não se alteraram por casamentos com nenhuma outra nação e que são uma raça singular, genuína e semelhante só a si mesma", escreveu Tácito, historiador romano. Por essas e outras frases Goering chegou a mandar um destacamento das SS só para procurar o mais antigo manuscruito de Germânia, escrito em 98 Depois de Cristo. Uns 700 anos mais tarde, a expansão muçulmana na Europa foi interrompida em Poitiers porque os cavaleiros muçulmanos ficaram preocupados com quem estava tomando conta do lôja - um boato de que o botim de seus saques no acampamento na retaguarda os desorganizou e eles perderam a luta, segundo um cronista árabe. E os árabes foram importantes para o humor judeu, ou pelo menos para o humor do rudito judeu convertido chamado Petrus Alphonsus que se baseou nas histórias dos muçulmanos para criar As Piadas do Preto Maimundo - uma espécie de antepassado medieval de Pedro Malazartes, Zé Grilo e Didi Mocó. Todos estes textos medievais ou romanos podem ser lidos em português num site de um professor de história medieval. O endereço: http://www.ricardocosta.com/
Em 1970, Milton Friedman escreveu um artigo famoso no New York Times pregando que a responsabilidade social das empresas é aumentar seus lucro. Com o artigo, ele tentava espanar toda uma conversa que começava a se espalhar no mundo dos negócios americanos sobre "consciência social" dos negócios e coisas parecidas, que, para ele, so atrapalhariam as pessoas a trabalhar e trariam mais prejuízos à sociedade.
Depois de 35 anos, Friedman foi contestado em um debate publicado na revista Reason por um capitalista orgulhoso: John Mackey, fundador e CEO da Whole Foods, a rede líder mundial de vendas de alimentos orgânicos e naturais. Mesmo dizendo que o Nobel de Economia Friedman é um de seus heróis, e citando economistas da escola liberal como Ludwig von Mises, Mackey argumenta no debate que a preocupação de uma empresa com sua comunidade é uma necessidade para o negócio. Friedman replica, em seu artigo, que os que os separa mais é uma questão de semântica; na verdade, ambos pensariam a mesma coisa, e o economista só não quer que alguém determine a uma empresa o que fazer, se não forem seus acionistas ou dirigentes. Resposta mais dura deu o CEO da Cypress, uma fabricante de semicondutores, T. J. Rodgers, no debate. As idéias de Mackey tornam-o um egoísta insensível, diz Rodgers, mas seu negócio ajudou muita gente ao modernizar as comunicações e diminuir a necessidade de papel das empresas. Mackey concorda com isso - mas também dá uma resposta dura à crítica feita por Rodgers de que ele parece mais um marxista do que um liberal: "Cypress Semiconductores lutou para ser lucrativa por muitos anos, e s balanço mostra dividendos negativos de mais de US$ 408 milhões. Isso significa que em sua inteira história de 23 anos, Cypress perdeu mais dinheiro para seus investidores do que o ganhou. Ao invés de chamar minha filosofia de negócios de marxista, talvez seja tempo para Rodgers de repensar a sua própria".
O debate todo está em http://www.reason.com/0510/fe.mf.rethinking.shtml

sábado, outubro 22, 2005


Uma das distrações no meu trabalho é desenhar fotos de jornal que ficam expostos durante uma reunião matinal. Foi de uma destas fotos que eu fiz este desenho da Sally Química. Alguém se lembra dela? O olhar, o rosto que parece querer sorrir mas se mantém sério, me chamou a atenção desta mulher acusada de ter inventado as armas químicas usadas por Saddam Hussein.

William Claxton é um grande fotógrafo de músicos de jazz. De vez em quando, me baseio em algumas de suas fotos, de um livro que ganhei, para exercitar o desenho. Depois, passo o desenho no scanner e mudo algumas de suas características. Neste desenho aqui, por exemplo, mudei a transparência do papel. Daí a aparência de bruma.
A 7 de junho de 1885, o britânico William John Steains partiu do Rio de Janeiro para uma exploração do Vale do Rio Doce. Encontrou sobreviventes de uma colônia de norte-americanos sulistas que deixaram os EUA após a Guerra Civil esperando fundar uma nova civilzação mas foram vencidos pela natureza hostil e os índios da região. Conversou com um matuto que lhe contou que quando fosse à capital do Império queria ter uma conversinha com o tal "governo", porque ele estava muito relapso - como se governo fosse uma pessoa, não uma instituição. Ouviu histórias de como uma colônia foi destruída pelos índios botocudos, após o assassinato do capataz. Depois de oito meses de viagem, constatou que o vale era "uma grande lacuna no edifício de civilização que, nos últimos 370 anos, se vem lentamente erigindo ao longo das 4.900 milhas de litoral brasileiro" em uma conferência na Royal Geographic Society, em Londres,, em 1988. O texto foi traduzido pelo escritor capixaba Reinaldo Santos Neves e pode ser encontrado neste site: http://www.estacaocapixaba.com.br/
Shirley Horn morreu aos 71 anos. Começou como pianista e cantora, ajudada por Miles Davis. Quer saber se perdemos algo? Ouça as músicas dela aqui: http://www.mp3.com/albums/55832/summary.html
Difícil consenso com Fidel
Muito se fala agora na difícil tarefa de refundar a esquerda. Ela é muito mais difícil quando você vive em uma ditadura de esquerda. Quem quer saber o quanto, pode acessar a revista Consenso pela Internet. Ela é feita por um grupo de esquerda cubano que clama pelas liberdades mais óbvias e alerta que a política da fome da ditadura de Fidel Castro a longo prazo só joga mais ainda o país nos braços dos EUA e dos exilados cubanos (que mantêm a economia mandando para lá o dinheiro que ganham no cruel capitalismo). O número novo da revista atrasou um pouquinho, por causa de ameaças e outros tipo de perseguição que serviçais do regime de Castro usaram contra os editores.
Os textos são longos, longuíssimos para o padrão usado no jornalismo hoje. O que talvez seja um reflexo da falta de liberdade de expressão. Lembro como na infância lia jornais alternativos que tinham textos enormes falando sobre tudo, querendo tentar resolver o mundo ao ouvir o novo disco do Paul McCartney ou analisando uma peça de Plínio Marcos. E gostava, aliás, para quem acha que em tese temos de conquistar mentes jovens com muita imagem e pouco texto.
O site da revista é http://www.consenso.org/
Saiu o terceiro número da revista F. Humor, que realmente é muito divertida. As regras do churrasco por Allan Sieber são muito boas, Arnaldo Branco é ótimo, etc. Mas a história "Hermano Gonzalez: Mano de Fé" chama muito a atenção pelas suas características plásticas. O desenho é extremamente simples, as cores são chapadas. Mas tudo muito bem distribuído em cada um dos quadros, o resultado é, sem querer ofender o autor, muito bonito. O endereço do site da revista é http://www.fhumor.com.br/
O referendo das armas levou a discussões sobre muito mais coisas do que votar sim ou não. Mostrou que os artistas não são mais garotos-propaganda eficientes em campanhas políticas. Que as estatísticas estão perdendo a aura de escritura sagrada que tinham até anos atrás. Um subproduto do fim do comunismo e do fracasso dos planejamentos econômicos, planos qüinqüenais, programas governamentais para regular as nossas vidas? Pode ser que sim. E um alerta para quem gosta de comemorar muito subidas de 3% no PIB em um trimestre, por exemplo. Se nos trezentos trimestres anteriores tivessem havido sempre altas, seria para comemorar. Mas depois de crises e depressões, isso é apenas a tentativa de recuperação de um tempo que já foi perdido; o recém-formado em administração já foi para os EUA lavar pratos e conseguiu ganhar a vida. A pequena confecção já faliu. O projeto informática já foi tolhido porque uma placa de chip teve sua importação proibida por ser de "segurança nacional".
Esse tempo perdido pode ter levado ao fato que considero realmente novo nesta campanha do referendo: se o Não ganhar, terá sido esta a primeira vez em que a maioria dos eleitores foi conquistada pela idéia de que o governo NÃO DEVE FAZER ALGO. Em todas as outras campanhas políticas que eu me lembre de ter visto, os candidatos e partidos sempre prometiam que com eles no poder o estado iria dar alguma coisa: saúde, segurança, educação. Depois de anos não dando isso aos pagadores de impostos, que também têm de pagar plano de saúde privado, plano de previdência privada, escola particular, o truque aparentemente cansou. Se for isso verdade, um muro de Berlim caiu da frente dos nossos olhos. E futuros marqueteiros e políticos podiam começar a levar isso em conta em suas campanhas em 2006. Aquele candidato que prometer deixar as pessoas livres para viverem sua vida, menos impostos, seguir a frase de Calvin Coolidge, para quem "o governo não deve evitar o trabalho duro" poderia ter grandes chances.
E em caso de a vitória do Não ter sido mesmo calcada nesta idéia, é bom que os seus divulgadores, a Frente da Legítima Defesa, lembrem-se disso no caso de quererem lançar idéias como a pena de morte no Brasil. Se houvesse um referendo sobre isso, o resultado iria ser um NÃO maior ainda. Se você quer saber o porquê, vá a algum fórum. Tente conseguir alguma informação lá. A idéia de que aquilo tenha capacidade de decidir com isenção se alguém é culpado ou inocente e pode morrer ou não é simplesmente inacreditável depois de um passeio destes.