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domingo, junho 18, 2006

Qual o melhor regime para se ganhar a Copa?

Uma das formas favoritas dos locutores de futebol de encher lingüiça é citando estatísticas de jogo - quantas bolas foram chutadas à trave, quantos ataques foram "finalizados", quantos escanteios cada time bateu, etc. Talvez isso tenha se popularizado com as idéias de Valery Lebanovsky, técnico ucraniano que, nas décadas de 70 e 80, acreditava em medir, contar, cruzar dados de jogadas dos jogadores para poder, a partir delas, melhorar suas performances - uma transposição para o futebol dos métodos de administração socialistas que não levava em conta que o futebol é o mais imprevisível dos esportes - como sabe qualquer um que já tenha acompanhado um jogo em que uma equipe dá várias bolas na trave, chega tantas vezes à linha de fundo, mas o único gol do jogo sai do único ataque do adversário.
Lebanovsky foi lembrado por um sujeito chamado Franklin Foer em um artigo da New Republic na qual Foer tenta responder qual o melhor regime político para um país ganhar a Copa do Mundo. Ele lebanoviscou uma série de dados históricos e reparou o seguinte: regimes comunistas produziram bons times - mas nenhum jamais ganhou a Copa do Mundo. O fascismo, em compensação, bateu um bolão nos anos 30 - a Itália ganhou duas copas, a Alemanha ficou em terceiro na Copa de 34 e o Brasil, em terceiro, em 38 (Foer não tem problemas em chamar o Estado Novo de Vargas daquilo que ele realmente foi). A causa, ele arrisca, deve ser pelo fato de o fascismo ser um regime que exige fidelidade extrema à pátria acima de tudo, especialmente quando ela está de chuteiras, incentivar os esportes e a higiene, gerando um bom ambiente para a criação de atletas, e também criar um medo de perder. "Quem vai querer decepcionar um líder que pode mandar quebrar suas pernas e aprisionar sua avó?", resume.
Mas países prestes a cometerem genocídios tiveram desempenhos pífios, muito pífios, como a Alemanha em 1938, que perdeu todas, e a Iugoslávia em 1990, anotou Foer. Para convencer alguém motivado por ódio racial ou de classe a não sair matando cegamente, talvez este argumento seja mais convincente do que "só a paz constrói" ou similares.
Ditaduras militares conseguiram bons resultados, caso do Brasil em 1970 e da Argentina em 1978, admite Foer. Mas isso não é uma regra, se lembrarmos participações vexaminosas de outras seleções governadas por este mesmo tipo de regime, ele ressalva. O melhor, segundo as estatísticas dele, são os governos sociais-democratas - e que tenham uma economia industrial forte. Somente uma economia industrial forte gera um proletariado que fornece craques de futebol e dinheiro para financiar campeonatos onde eles possam se desenvolver. Além do mais, a social-democracia deixa espaço para a coexistência do individualismo e da solidariedade - ou seja, cria o clima necessário para uma equipe integrada e com craques que desequilibram um jogo, de acordo com Foer.
O artigo está em http://www.canada.com/components/print.aspx?id=00e55e55-44af-4a6c-9b9d-5f175b69c430. Mas ele é um resumo do que Foer escreveu em "The Thinking Fan's Guide to the World Cup".

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