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quarta-feira, outubro 26, 2005

Quando vinha ao Rio, papai, como, aliás, todos os nordestinos, só se hospedava no Hotel Serrador, aquele hotel redondo ali na Cinelândia. Um dia viemos eu, ele e mamãe, e eu pedi para a gente ficar no Hotel Glória. Papai disse que não tinha dinheiro pra isso, mas acabou cedendo. Lembro até hoje da data, por motivos mais ou menos óbvios: 27 de março de 1964. Era a época de Gregório Bezerra, Francisco Julião. Sei que a usina foi invadida pelo pessoal do campo, papai teve que voltar pra Recife e nós duas ficamos no hotel. No dia 31, estoura a revolução e ele fica impedido de voltar.
Mamãe precisava falar com papai. O telefone do nosso quarto tinha sido bloqueado. Desço com ela para o restaurante e pergunto a um garçom pelo dono. Ele me aponta um homem de bigode, cabelo preto. Vou até ele:
- O senhor pode deixar a gente falar no telefone? Minha mãe precisa falar com meu pai – pedi. - Ah, minha princesinha, eu não posso fazer nada. - Mas o garçom disse que o senhor é o dono do hotel. - Não, não sou não. - Então o senhor é mentiroso ou o seu garçom é mentiroso. - O que você quer, minha princesinha? - Minha mãe precisa telefonar para o meu pai. - Então venham ao meu escritório.
Quando a gente estava saindo do escritório dele, ele vira-se pra mim e diz: - Você quer casar comigo? - O senhor é maluco? Eu não gosto de homem de bigode. O senhor parece meu pai. Ele riu muito e três meses depois nos casamos.
Maria Clara Tapajós casou-se aos 19 anos com Eduardo Tapajós, um dos proprietários do Hotel Glória no Rio. A história está no site Um Balcão na Capital - Memórias do Comércio na Cidade do Rio de Janeiro (http://www.museudapessoa.net/hotsites/sescrio/).

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