Ainda não vi Austrália, novo filme de Baz Luhrmann. Só li as críticas. Mas acho que provavelmente gostarei do filme. Porque as críticas, no geral, dizem que ele está apenas copiando "... E o vento levou" e outros épicos hollywoodianos d'outrora. Bom, ele nunca escondeu que se baseava em velhos filmes e outros produtos pop para fazer os seus. Luhrmann é bom e popular entre os jovens por causa disso: nos filmes que faz, ele consegue pegar a cultura pop, de consumo rápido, fácil de se fazer, de se distribuir, e retirar dela um sentido mais profundo, que explica como músicas ligeiras feitas para ser digeridas sem muita atenção, como "Time after time" e "Your song", nos afetam, nos dizem coisas sobre nossas experiências, o que explica como e porque elas ainda tocam em programas de rádio na madrugada. O pessoal da Escola de Frankfurt iria vomitar, mas afinal de contas, quem leva mesmo a sério Adorno e Benjamin, a não ser se for para conseguir aquela sonhada bolsa de Pós-Mestrado sanduíche que lhe permita estudar metade de um ano no Exterior ou ficar mais alguns anos fazendo doutorado sem ter de se preocupar em procurar um emprego digno do nome? Na vida prática, real, ninguém presta atenção.
Luhrmann falou das principais preocupações da juventude nos seus três primeiros filmes, de forma alegórica: o medo de ter a vida dirigida pelos outros em "Dança Comigo", o medo da violência sem sentido causada por excesso de hormônios em "Romeu e Julieta", que transformou Verona num cemitério (a primeira imagem da cidade é de um Cristo Redentor, mas com um aspecto de escultura de jazigo), interpretando o ímpeto suicida dos protagonistas como um desejo de voltar ao útero (a primeira vez que eles se vêem é através da água de um aquário; a primeira vez que se beijam, dentro de uma piscina), e a repulsa ao papel de prostituta de luxo que é dado às jovens na sociedade de consumo, em "Moulin Rouge". Do que ele está falando em "Austrália", não sei. Mas é uma história de travessia e uma história de um homem que gosta de uma mulher (afeição não muito popular e compreendida entre críticos, aliás; a maioria prefere homens que gostam de homens, homens que gostam de histórias em quadrinhos e bonecos de Obi-Wan Kenobi em tamanho natural, mulheres que gostam de se suicidar, mulheres que gostam de matar homens, mas mulher e homem junto, xô, sai, Satanás, é pecado). Talvez ele tenha sacado que os jovens estejam não voltando a padrões conservadores de comportamento, mas em busca de valores sólidos, estáveis, que valham para toda uma vida, não para um verão. Estes valores podem ser catolicismo, budismo, filosofia grega, igreja pentecostal. Mas a verdade é que o domínio do relativismo moral acabou, não importa o que as beatas e fanáticos deste credo berrem, nas universidades, galerias de arte ou artigos de cadernos literários. Indo em busca do certo ou do errado, a verdade é que os jovens querem algo que ultrapasse a própria juventude, e "Austrália" pode estar falando disso.
sexta-feira, janeiro 23, 2009
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