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terça-feira, julho 24, 2007

A importância de se ter malícia

Se você tivesse de escolher um lugar para comer bem, iria preferir o melhor restaurante da Suécia ou o melhor do Haiti? O economista Tyler Cowen recomenda o menu haitiano, no seu livro Discover Your Inner Economist. Ele argumenta que em países com maior disparidade de renda, existe mais gente sendo mal paga que topa trabalhar mais para cultivar e tratar de alimentos e de comida, e os ricos deste país vão se preocupar muito em comer extremamente bem porque isso é um sinal de status. Talvez isso explique porque, no Rio, se paga mais caro para se comer bem do que em São Paulo ou Belo Horizonte: a desigualdade aqui é maior porque os ricos cariocas não têm talento para criar suficiente crescimento econômico que dê chance aos pobres de melhorar de vida.
O livro de Tyler segue a linha de "Freakonomics" e analisa pelo ponto de vista econômico fatos da vida como a chance de sucesso de conquistar uma bonita mulher fingindo ignorá-la (não há garantia nenhuma de que isso funcione, avisa ele, decepcionando os feios, tímidos e preguiçosos que gostam desta tática), e alertando que a questão principal da economia não é o dinheiro, mas a escassez - que pode ser de tempo ou de carinho, por exemplo. É isso que faz a economia girar.
Até aí tudo bem. Mas só que tudo isso não é novo. Pode ser resumido numa frase que minha mãe gostava de me dizer: "meu filho, na vida a gente tem de ter malícia". Notável é que conclusões que seriam óbvias para quem tem um pouco de malícia sejam encadernadas e publicadas em forma de livro e vendam assim. Um fato da vida que livros como "Freakonomics" e esse acima revelam é que a malícia foi expulsa de outros campos das chamadas ciências humanas - por correção política, excesso de marxismo, distanciamento da realidade dos professores universitários encastelados, tudo junto. Mas sociólogos, antropólogos e outros ólogos estão mais preocupados em condenar moralmente algum fato inevitável da vida - em breve, algum francês chorará contra o "inevitável e amargo destino da Terra de girar em torno do sol", aguardem - ou rechear com palavras terminadas em "ão","ade", "ento" e "ismo" algum relato de um fato óbvio em suas teses de pós, mestrado, doutorado, etc. Algo do tipo "a questão da desigualdade social necessita um ativismo por parte da sociedade, por meio de um engajamento", etc. Sobrou para a economia olhar a vida como ela é e refletir sobre ela em formas mais práticas, porque afinal de contas, quem se forma em economia tem mais chances de ganhar dinheiro sendo prático do que quem se forma em sociologia, que tem mais chances de ganhar dinheiro escrevendo teses ilegíveis e desimportantes que denunciem algum fato social já sabido de todos. E isso também é um fato econômico.

segunda-feira, julho 23, 2007

Uma artigo de separação

Na década de 30, nos Estados Unidos, o jornalista e crítico H. L. Mencken perdeu o posto que até então tinha de mais influente formador de opinião de seu país, entre jovens e velhos. Motivo: usou contra o presidente Roosevelt o mesmo arsenal de ataques e xingamentos com que tinha metralhado os antecessores no cargo. Mencken continuou o mesmo, mas o público tinha mudado: no meio da depressão econômica, seu público queria menos mordacidade, menos azedume, e um pouco mais de esperança para agüentar uma realidade por si só desoladora. Roosevelt conseguiu encarnar essa esperança - e o jornalista que apresentou aos americanos Ibsen, Shaw, Eugene O´Neill e Sinclair Lewis, não tinha entendido os novos tempos.
Na semana passada, Luis Fernando Verissimo pode ter caído em uma armadilha similar, mas com os sinais trocados: dois dias depois do maior acidente de aviação da história do Brasil ter culminado dez meses de crise nos aeroportos, em boa parte por inação no governo, Veríssimo publicou uma crônica em que determinava ser proibido vaiar Lula, como fez o público reunido no Maracanã na abertura do Pan.
Se tivesse publicado isso uma semana antes, o efeito da crônica teria sido menos desastroso. Mas havia um desastre de avião, o sumiço do presidente, e, no dia seguinte, a grosseria dos petistas no Palácio do Planalto. A adesão de Verissimo ao governo Lula não era novidade. Mas acrescida destes elementos, soou ofensiva. Uma ofensa a mais, e uma abertura de guarda, foi comparar os que vaiaram Lula aos homens de direita que apoiaram Hitler porque ele seria um remédio contra Stálin, e à esquerda que apoiou Stálin porque ele seria uma barreira contra Hitler. Quem entende um pouco de história, a partir destas comparações, pode se lembrar que, entre 1939 e 1941, todos os comunistas tornaram-se favoráveis à Alemanha Nazista, porque seguiram cegamente a orientação da União Soviética, que tinha feito com Hitler um acordo para partilhar a Europa. Foi o mesmo tipo de submissão cega que Verissimo pediu aos seus leitores para terem com Lula.
O efeito deste texto vai ser especialmente danoso porque Verissimo fez sucesso como um escritor voltado para a classe média. Seu humor é para a classe média, os dramas de que ri são de classe média, este grupo social que é o mais interessante de todos porque está sempre na ânsia de querer subir um degrau acima e no medo de descer um degrau abaixo na escala econômica - e cujo inconformismo a torna o motor de todas as revoluções políticas e estéticas bem-sucedidas dos últimos 200 anos. Ao dizer para esta classe média, cansada de pagar impostos e nada receber em troca, que eles não têm sequer o direito de chiar um pouco, Verissimo mandou seu público procurar outra freguesia. E é o que eles vão fazer, porque os tempos mudaram e o criador do Analista de Bagé não está entendendo mais a piada que se tornou a realidade.

domingo, julho 08, 2007

A matéria óbvia

O Guardian, meu jornal favorito, fez a matéria óbvia sobre o Live Earth: pediu para uma empresa especializada em medir o consumo de carbono pelos seres viventes do nosso planeta calcular quanto se gastou em termos destas moléculas que eram meu terror nas aulas de química com a produção, execução e reunião de pessoas para ver os shows do Live Earth. A emnpresa apontou que, num sábado, contando as viagens dos artistas, a montagem dos palcos, equipamento de som, mais a logística do transporte da coisa toda, mais a reunião de pessoas, quem prestigiou e participou dessa iniciativa tão legal, não é mesmo, gente?, torrou o equivalente ao carbono consumido por 3 mil moradores da Grã-Bretanha num ano. Mas foi por uma boa causa, como diria Trotkski mandando matar os marinheiros em greve de Kronstadt.