Fala-se em "resgatar 68", como se 1968 fosse um filho de empresário do interior de São Paulo. E tome a ouvir os mesmos para dizer as mesmas coisas - o sonho, a vida, a luta, os ideais, o povo nas ruas, o rock, o sonho... por que ninguém segue um pouco além? Ferreira Gullar deu entrevista com um bom ponto de vista: 68 foi um fracasso artisticamente, baixou o nível cultural, e a contracultura foi apropriada pela indústria de consumo, que cada vez piora mais o nível mental de sua platéia.
Para uma análise mais detalhada, é bom tentar achar em algum sebo O declínio do mundo ocidental, título em português dado pela editora Globo à mais conhecida obra de um filósofo "neoconservador" americano, Allan Bloom. O original é "O fechamento da mente americana". Bloom escreveu isso para ser um livrinho sobre educação para ser lido por seus pares, 400 pessoas, no máximo. Foi O sucesso do ano em que foi lançado, 1987. Por que? Ele diz basicamente o seguinte: o relativismo cultural disseminado nas universidades americanas a partir de 68, em que as lendas swahilis passaram a ser tão importantes quanto Tolstói, e aqueles gregos todos passaram a ser "coisa de macho branco", só serviu para tornar os jovens desprovidos de valores. E o problema de ser desprovido de valores não é que você sai dando rasgado ou se entrega às drogas, para usar clichês de Jornal Nacional (Bloom era gay e morreu de aids, por falar nisso). É que você se torna chato. Você deixa de dar um significado maior à sua vida, e se torna igual a qualquer um, a qualquer coisa. Ele dizia que os alunos dele, na década de 80, eram nice - mas nada além disso. Não tinham angústias maiores, desejos maiores, curiosidade maior. Ou seja, 68 pavimentou o caminho do conformismo, e não o contrário.
segunda-feira, maio 19, 2008
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