Na década de 30, nos Estados Unidos, o jornalista e crítico H. L. Mencken perdeu o posto que até então tinha de mais influente formador de opinião de seu país, entre jovens e velhos. Motivo: usou contra o presidente Roosevelt o mesmo arsenal de ataques e xingamentos com que tinha metralhado os antecessores no cargo. Mencken continuou o mesmo, mas o público tinha mudado: no meio da depressão econômica, seu público queria menos mordacidade, menos azedume, e um pouco mais de esperança para agüentar uma realidade por si só desoladora. Roosevelt conseguiu encarnar essa esperança - e o jornalista que apresentou aos americanos Ibsen, Shaw, Eugene O´Neill e Sinclair Lewis, não tinha entendido os novos tempos.
Na semana passada, Luis Fernando Verissimo pode ter caído em uma armadilha similar, mas com os sinais trocados: dois dias depois do maior acidente de aviação da história do Brasil ter culminado dez meses de crise nos aeroportos, em boa parte por inação no governo, Veríssimo publicou uma crônica em que determinava ser proibido vaiar Lula, como fez o público reunido no Maracanã na abertura do Pan.
Se tivesse publicado isso uma semana antes, o efeito da crônica teria sido menos desastroso. Mas havia um desastre de avião, o sumiço do presidente, e, no dia seguinte, a grosseria dos petistas no Palácio do Planalto. A adesão de Verissimo ao governo Lula não era novidade. Mas acrescida destes elementos, soou ofensiva. Uma ofensa a mais, e uma abertura de guarda, foi comparar os que vaiaram Lula aos homens de direita que apoiaram Hitler porque ele seria um remédio contra Stálin, e à esquerda que apoiou Stálin porque ele seria uma barreira contra Hitler. Quem entende um pouco de história, a partir destas comparações, pode se lembrar que, entre 1939 e 1941, todos os comunistas tornaram-se favoráveis à Alemanha Nazista, porque seguiram cegamente a orientação da União Soviética, que tinha feito com Hitler um acordo para partilhar a Europa. Foi o mesmo tipo de submissão cega que Verissimo pediu aos seus leitores para terem com Lula.
O efeito deste texto vai ser especialmente danoso porque Verissimo fez sucesso como um escritor voltado para a classe média. Seu humor é para a classe média, os dramas de que ri são de classe média, este grupo social que é o mais interessante de todos porque está sempre na ânsia de querer subir um degrau acima e no medo de descer um degrau abaixo na escala econômica - e cujo inconformismo a torna o motor de todas as revoluções políticas e estéticas bem-sucedidas dos últimos 200 anos. Ao dizer para esta classe média, cansada de pagar impostos e nada receber em troca, que eles não têm sequer o direito de chiar um pouco, Verissimo mandou seu público procurar outra freguesia. E é o que eles vão fazer, porque os tempos mudaram e o criador do Analista de Bagé não está entendendo mais a piada que se tornou a realidade.
segunda-feira, julho 23, 2007
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