"É um povo que só quer saber de falar de videogame, não fala de mulher nem de dor de cotovelo. Nós, que somos assim, nos sentimos cada vez mais isolados", reclamou um amigo meu, mais velho, dos jovens nerds com quem ele trabalha - alguns dos quais são seus chefes.
Posso estar tomando uma experiência individual por geral, mas acho que estou assistindo a um fenômeno de desinteresse dos velhos pelos jovens que não se via, sei lá, desde a Revolução Francesa, movimento encabeçado primordialmente por jovens (se a minha memória não falha, o mais velho, Lafayette, tinha 30 anos na época da queda da Bastilha - Talleyrand, Mirabeau, Robespierre, Danton, todos tinham menos de 30 na hora em que brilharam).
Não é medo, nem ressentimento contra a juventude que já não temos. É desinteresse mesmo. Uma combinação incomum de esquerdismo na educação e excesso de televisão produziu uma geração singularmente desinteressada na realidade à sua volta e desinteressante nas suas idéias. O esquerdismo propagado em escolas de segundo grau e faculdades de ciências humanas, em vez de produzir massas de militantes do PSOL e do PSTU, que é o objetivo dos professores, fabricou apenas uma geração de desanimados intelectuais. Eles não têm respeito por nenhuma idéia ou valor, porque lhes foi ensinado que nenhuma idéia é digna de ser confiável, ou de que nenhum valor é superior a outro. Tudo deve ser questionado, tudo deve ser aceito. Quando não podemos acreditar em nada, e não podemos recusar nada, pouco interesse há para que façamos escolhas e reflexões que determinem o caminho que tomaremos na vida - tanto faz.
Ao lado deste esvaziamento intelectual, a televisão treinou esta geração, com mais intensidade do que treinou as anteriores, a não esperar e a gostar dos prazeres imediatos e sem esforço. Também lhes adestrou para ficarem conectados a uma vida mais brilhante, prazeirosa, divertida e agitada, nas novelas e séries e realities shows, que estão a uma distância suficientemente segura para evitar as dores e decepções de uma vida vivida na realidade.
Com tal massacre, o que temos são jovens que repelem qualquer aproximação com a realidade difícil e insatisfatória do mundo político, dos problemas econômicos, das obras de arte que exigem reflexão e boa vontade para serem entendidas. E voltam-se para as diversões de prazer imediato e frágil, como a televisão e os videos engraçadinhos do Youtube e os funks de letra e melodia primárias, fáceis de serem entendidas. O problema é que estes prazeres não se sustentam por muito tempo; logo acabam, deixando quem se beneficia deles com uma sensação de vazio que tem de ser preenchida por... uma nova série, um novo vídeo idiota do youtube, um novo proibidão.
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
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