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segunda-feira, agosto 25, 2008

umbigada

"Nome próprio", com Leandra Leal, baseado nos escritos de Clara Aberbuck, é meio lento, e o Ministério da Cultura devia instituir um prêmio de incentivo ao roteiro sem palavrão gratuito, para ver se melhora o nível dos scripts dos filmes nacionais em geral. Mas é interessante. Mas não pelos motivos que o diretor talvez queira que achemos interessante.
A protagonista, em pleno ano 2001, continua lendo a mesma sub-literatura que era a moda nos anos 80 - Kerouac, Bukowski, etc.; adoro todos, mas estáo para os escritores de verdade, que te ensinem como escrever e mesmo como pensar, como o América está para o Barcelona. E a personagem baseada nela é a famosa chave de cadeia. Mala, agressiva, faz muchochinho de criança, chantagem emocional - ou seja, uma criança mimada à beira de um surto. E se acha muito "interessante" e "intensa" por isso, e o filme quer que achemos o mesmo!
Num momento em que parece que a figura vai soltar um ótimo monólogo, uma reflexão shakespeariana sobre sua vida... ele vem na forma do desabafo "merda! merda! merda!". Aparentemente, nossa literatura e nosso cinema não consegue uma digressão mais interessante... a falta de capacidade de expressão, de derivação de algum pensamento mais original em cima dos fatos que a moça vive, é demonstrada pelos textos sub-Clarice Lispector dela, de "muita expressão", "muita intensidade", com a personagem bebendo, fumando, derramando dramaticamente cinzas no meio do teclado do computador etc. Mas é tudo um monólogo bem limitado, que não vai muito além do próprio umbigo.
Tem um bom momento de autocrítica quando ela vai morar com um fã do blog dela e o que se vê é que o cara é um nerdaço. Esse é o público alvo que ela gostaria, será? parece que achei o filme horrível. Mas não achei não. Achei interessante. Porque, na verdade, e isso é assustador, ele espelha muita, mas muita gente que eu conheço hoje em dia.
Ah, sim, há um erro de lógica gravíssimo no filme: um sujeito que a come, ou ela come ele, sei lá, pede uma caipirinha de lima da pérsia. É impossível que em algum lugar deste planeta em que habitamos exista um sujeito que goste de buceta e de caipirinha de lima da pérsia, ao mesmo tempo. Ou é um, ou é outro. A vida é feita de escolhas.

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