Peter Drucker morreu no dia 11, tranqüilo, em casa. Fiquei sabendo hoje: na leitura de jornais, não notei grandes destaques sobre isso. O que é uma pena: ele talvez seja o último de uma geração de gente criada na Europa Central em países destruídos pela I Guerra Mundial e que manteve a sanidade e a crença na razão durante um século em que se escreveu e se disse muita besteira e muita gente morreu por causa disso. Li menos do que devia destes sujeitos: Karl Popper, Ernst Gombrich, Ludwig von Mises... o que os unia era principalmente a clareza. Todos escreviam para ser entendidos, não para fundar uma seita de fanáticos em universidades, como os que os criticavam. E todos se preocupavam com o sentido ético de seus atos: Drucker deplorou a quebra da bolsa de 1987 principalmente como efeito da falta de ética na manipulação das ações, ele lembrou que a ética também é necessária para ganhar dinheiro.
Quem não gosta de estudar administração pode procurar em algum sebo "Reminiscências", um livro de memórias de Drucker. Há as recordações de sua incrível avó, uma espécie de precursora da globalização financeira e dos computadores, com seus vários passaportes que lhe permitiam trocar dinheiro pelo melhor câmbio sempre que ia a um país novo dos que haviam sido criados dos restos do Império Austro-Húngaro e sua mania de guardar xícaras sem asas e asas sem xícaras. Há o relato de como ele sentiu "algo estranho" ao chegar nos Estados Unidos durante a era do New Deal - a ajuda que recebeu de gente desconhecida, que se prontificou a facilitar a sua entrada no país e em lhe procurar emprego, era um sinal de que uma nova idéia estava no ar para tirar o país da crise. Há o relato de um colega de jornal em Viena, o mais medíocre de todos, que foi encarregado de cobrir o partido nazista austríaco, acabou se filiando a ele e tornou-se um dos seus piores criminosos na Áustria. "Esses caras estão falando sério, Peter, e quando eles forem fazer o que querem fazer, vão ter de buscar gente com estômago para isso - e é aí que eu entro", disse o amigo. As explicações do futuro nazista são uma aula do que pode provocar o excesso de ressentimento. Há a história do casal de nobres austríacos que abraçou o socialismo como forma de evitar uma outra guerra mundial - e se matou por não conseguir (o nazista também se matou, aliás). São histórias de vida enriquecedoras, e, principalmente, que fizeram Drucker pensar, refletir, aprender. Um hábito que está morrendo com os velhinhos austríacos.
segunda-feira, novembro 14, 2005
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3 comentários:
Pô, não vi a morte do Drucker em lugar nenhum!!!! Que foda...
Talvez a notícia esteja sendo abafada na mídia por alguma seita de fanáticos de uiniversidades...hehehehe...
Já saiu na mídia, engraçadim... só demorou uns dias, mas saiu...
Só estranhamos (acho que o Gustavo também) a demora, porque um cara desse é muito mais importante pro mundo do que a maioria das gentes que vemos por aí nas news.
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